Quando o presidente da Rússia, Vladimir Putin, disse em 2010 que jamais tinha usado um e-mail, ninguém conseguia acreditar. Afinal, a internet já era considerada ferramenta indispensável da vida cotidiana mundo afora. Diz-se que o ex-espião da KGB, a organização de serviço secreto da antiga União Soviética, continua sem endereço eletrônico até hoje. O que não quer dizer que a sua equipe faça o mesmo. Pelo contrário, o governo russo tem sido mais assíduo na rede do que se poderia imaginar alguns anos atrás.
Não se trata aqui de trolls, como são chamadas as mensagens criadas para movimentar a rede. Em uma era em que os tuítes do presidente americano, Donald Trump, pautam a política internacional e o próprio noticiário, o Kremlin não tem perdido a oportunidade de usar as mídias sociais a seu favor. É sua nova arma para divulgar ações e rebater críticas — muitas vezes com boas doses de ironia, conforme destacou o jornal O Globo.
A última pesquisa de opinião do Centro Iuri Levada este ano mostra que 85% das pessoas ainda têm na TV sua principal fonte de informação. O percentual é o mesmo há pelo menos dez anos. Isso explica por que há muito mais controles sobre os canais de televisão do que sobre a internet. Mas o governo sabe que cresce de maneira exponencial o seu uso. Cerca de 29% da população já admitem informar-se por aí. Até 2016, 87% faziam uso diário da rede, contra 48% uma década atrás, segundo o instituto de pesquisa FOM. O VKontate, um Facebook russo, tem mais de 80 milhões de perfis, num país onde há mais de sete milhões de blogs.
Desde que o atual premier Dmitri Medvedev assumiu o cargo, em 2008, a relação do governo com a internet mudou. Ele, afeito às redes sociais, e Putin passaram a ter página na internet e até blog. Apesar do insistente controle sobre a TV, a imprensa russa é mais livre do que imagina o Ocidente. E a internet é um espaço relativamente livre. O governo tem apertado as regras de uso.
Especialistas reconhecem que a liberdade de expressão é bem maior do que na URSS – a antiga União Sociética, criada em dezembro de 1922 e dissolvida em 26 de dezembro de 1991.