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“Vou pegar meu recurso e tirar do País”, diz empresário que teve negócio desfeito com a Petrobras

Clovis Greca afirma que governo não cumpriu contrato assinado por viés ideológico. (Foto: Reprodução)

Controlador do grupo cearense Grepar, o empresário Clovis Fernando Greca promete brigar com a Petrobras na Justiça por uma indenização. No ano passado, sua empresa havia acertado a compra, por US$ 34 milhões (R$ 167,3 milhões), da Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste (Lubnor). No início da semana, a estatal anunciou que rescindiria o contrato, alegando que algumas condições precedentes para transferência do ativo não foram concluídas até o prazo final de 25 de novembro deste ano.

Em entrevista ao Estadão, o empresário critica o posicionamento da Petrobras, a qual, segundo ele, teria feito de tudo para que os prazos não fossem cumpridos. Segundo o empresário, a petrolífera “desistiu de fazer negócio”, desde quando o governo mudou.

Agora, com a frustração do processo, Greca avisa que não vai mais investir no Brasil. “Vou pegar o meu recurso e tirar do País”, afirma o empresário. “Vou investir em outros lugares, que queiram ter empresariado fazendo investimentos sérios.”

A seguir, os principais trechos da entrevista.

1) A Petrobras alega que os prazos não foram cumpridos, apesar dos esforços dela. O que aconteceu?

Ela simplesmente desistiu. Desistiu de fazer negócio, de um contrato no qual não pode ter desistência. Ela não decidiu fazer isso agora. Decidiu quando um novo governo assumiu. O propósito era desfazer o contrato. O que o governo anterior fez, o atual quer desfazer. Não interessa se a coisa é boa ou não. Se a coisa está correta ou não. O viés ideológico é diferente. (O governo atual) é contra qualquer venda de qualquer ativo. Estamos num momento de Estado muito mais atuante na economia. Tudo contra esse sentido o governo não quer fazer. Por isso, a Petrobras desistiu de um contrato que não permitia a ela este poder.

2) Como ela conseguiu suspender o contrato?

Ela foi enrolando, criando desculpas, fingindo que estava avançando. O pessoal da Petrobras, de níveis inferiores, estava fazendo o que precisava acontecer. Mas a direção da empresa já havia decidido que não iria finalizar o negócio.

3) Não havia nada que a Grepar poderia fazer para acelerar o processo?

A gente informou que queria receber a refinaria com o terreno regularizado, mas que, se não desse tempo de completar o processo, poderíamos assumir a responsabilidade de fazer isso depois de assumir a refinaria. Era uma obrigação precedente da qual eu poderia renunciar. Eu sempre acreditei que nunca alguém iria retirar uma refinaria instalada do local. Então, seria só uma questão de burocracia e de tempo para vencer essa questão. Como o prazo final estava chegando e notamos que a Petrobras estava enrolando e não avançando, percebemos que havia boi na linha. Então, a Grepar avisou para a Petrobras que abria mão das condições precedentes fundiárias. Ela poderia resolver todas as outras condições exclusivamente da responsabilidade dela, que não envolveria terceiros. A Petrobras respondeu que não poderia aceitar a renúncia das condições por que não poderia vender patrimônio que não era dela. Mas nós não estávamos pedindo para ela vender esses terrenos.

4) A Grepar desistiu da compra da Lubnor?

Se não querem vender, eu também não quero comprar mais. Não tem problema. Vamos tomar as medidas jurídicas cabíveis. Se a Petrobras quiser voltar atrás, eu estou apto. Mas aí seria do desejo dela que eu assuma a refinaria, o que eu acho muito improvável.

5) Como empresário, a conclusão desse processo acabou sendo frustrante?

Eu me encaro exatamente como o empresário que o Brasil gostaria de ter. O próprio presidente Lula falou que quer o empresariado brasileiro com recurso e investindo em negócios, e fazendo o Brasil crescer. Eu me enxergo desse jeito. O meu investimento é próprio. Sou um empresário brasileiro tentando fazer o Brasil crescer. Mesmo assim, e, depois de tanta luta, o empresário sofre o que eu sofri. Isso mostra que o Brasil não é nem para o brasileiro, nem para o empresário brasileiro. Quem que o Brasil quer que invista aqui? Estou tentando tirar dinheiro do banco para colocar na indústria produtiva, mas não posso fazer isso por causa de um idealismo completamente equivocado.

6) A Grepar vai buscar outros investimentos?

Vou pender para não investir mais no Brasil. Vou pegar o meu recurso e tirar do Brasil. Vou investir em outros lugares, que queiram ter empresariado com investimentos sérios, de gente que quer construir algo. Infelizmente, o Brasil, em termos de amistosidade com o empresariado, está em fim de linha agora. O nosso viés não é político. O meu viés é de produtividade, de fazer a coisa com eficiência. Eu não tenho nenhum alinhamento político. Quero produzir, fazer as coisas da melhor forma possível.

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