Mundo A Catalunha, na Espanha, não é a única a ambicionar a independência: País Basco, Escócia, Flandres, Vêneto, Córsega também têm manifestado aspirações separatistas
Por Redação O Sul | 9 de outubro de 2017
A Catalunha se tornou símbolo dos nacionalismos na Europa, mas não é a única região do continente a ambicionar a independência ou a autonomia em relação ao seu Estado de tutela. País Basco, Escócia, Flandres, Vêneto, Córsega e outros territórios europeus têm manifestado ao longo de décadas, em maior ou menor grau, aspirações separatistas. Analistas acreditam que o atual embate entre o governo de Madri e o poder catalão, ainda de final desconhecido, poderá resultar em importantes consequências para a Europa e para os nacionalismos regionais.
Para Barbara Loyer, diretora do Instituto Francês de Geopolítica, da Universidade Paris 8, a crise poderá desestabilizar toda a Espanha, mas também influenciar outros movimentos pela Europa, com a emergência de novas reflexões sobre a questão.
“Pode ocorrer um impacto sobre a maneira como é percebido o que deve ser uma democracia, o Estado, as forças de ordem. Para o Partido Nacionalista Basco), por exemplo, poderia ser uma boa ocasião de levar à ONU a questão da evolução do direito internacional sobre a autodeterminação dos povos, por enquanto reservada àqueles que foram colonizados. Hoje, se começa a dizer que talvez seja uma janela para lançar este debate em nível internacional.
Loyer acha que ainda é preciso esperar para saber como escoceses, flamengos e outros separatistas farão para avançar seus próprios projetos políticos, mas alerta para a possibilidade de alastramento da crise em nível europeu.
” Penso que isso vai acabar mal. E se acabar mal na Espanha, vai acabar mal em outros países. Não é possível que um conflito importante num Estado democrático deste tamanho não tenha consequências no conjunto da União Europeia.”
Segundo Vincent Laborderie, da Universidade de Louvain, na Bélgica, apenas dois movimentos separatistas têm, hoje, condições de dar um passo maior na direção da independência: Catalunha e Escócia. Os escoceses fizeram um referendo em 2014, perdido pelos independentistas. Edimburgo, no entanto, solicitou a Londres uma nova consulta popular, justificada pelo Brexit, a saída do Reino Unido da UE.
“Penso, hoje, que não haverá um novo referendo na Escócia, pois tudo indica que o Brexit não será feito em sua forma mais radical. Num primeiro momento, o Reino Unido deverá acertar a saída da UE, mas não do mercado comum. Nestas condições, as consequências para a Escócia não serão tão importantes” estima Laborderie.
Na sua opinião, as demandas na Europa, hoje, tendem mais às exigências de autonomia do que de independência. Mas, assinala, as discussões das regiões separatistas com os respectivos Estados estão em constante evolução, e “cada caso é um caso”.
“Em Flandres, o partido nacionalista (N-VA) tende a privilegiar sua participação no poder belga. Na Córsega, os partidos autonomistas nunca estiveram tão fortes face aos independentistas, e pode-se esperar novas discussões com a França. No Norte da Itália, o movimento pela Padânia praticamente desapareceu, mas Vêneto e Lombardia farão um referendo por maior autonomia em outubro.”
