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Economia Ativistas tentam proibir a exportação de quase 1 bilhão de reais em gado vivo do Brasil

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O Brasil começou a exportar gado vivo há 20 anos. (Foto: Reprodução)

Quase todas as 70 cadeiras do auditório Teotônio Vilela estavam ocupadas, raridade em sessões na pequena sala da Assembleia Legislativa de São Paulo. Um deputado avisou: “As cenas a seguir são fortes, talvez alguém se assuste”. No telão foi mostrado um vídeo que mostrava o interior de um navio com milhares de bois vivos. Os animais estavam amontoados, alguns com parte do corpo mergulhada em uma espessa camada de fezes, urina e lama. Uma voz feminina narrava as imagens: “Eles estão defecando um na cabeça do outro, é uma grande senzala”.

O vídeo durou pouco mais de um minuto, mas várias pessoas choraram. As informações são da BBC Brasil.

Era o último dia de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apurava casos de maus-tratos de animais. Um dos temas foi a exportação de gado vivo, mercado de quase R$ 1 bilhão anuais e que nos últimos meses se tornou alvo de ativistas, parlamentares e do Ministério Público Federal.

Após a exibição do vídeo, o deputado estadual Feliciano Filho (PRP), presidente da CPI e militante dos direitos dos animais, fez um discurso que inflamou os ativistas na plateia. “Como pode o governo federal se render e agir para beneficiar uma única empresa?”

Ele se referia ao caso do navio Nada, embarcação panamenha que tirou do país 27 mil bois vivos de uma só vez, em fevereiro. Avaliada em R$ 64 milhões, a carga foi para a Turquia. Ela pertencia à Minerva Foods, uma das maiores empresas de alimentos do país. Na época, a enorme quantidade de animais em um único barco despertou atenção dos ativistas, que denunciaram maus-tratos e entraram na Justiça para impedir esse tipo de exportação.

Um juiz federal chegou a suspender as saídas em todo o país, mas, horas depois, o governo do presidente Michel Temer (MDB) entrou na Justiça e conseguiu reverter a decisão, alegando que a proibição causaria prejuízos econômicos ao Brasil.

A disputa sobre exportação de gado vivo continua na Justiça e em várias instâncias do Legislativo – ela é hoje considerada a maior batalha que o movimento de defesa dos direitos dos animais já enfrentou no país.

Em fevereiro, quando soube das denúncias do navio Nada, a advogada Letícia Filpi, vice-presidente da Associação Brasileira de Advogados Animalistas (Abra), entrou com uma ação judicial tentando impedir as exportações em São Paulo.

“A legislação permite que você mate um animal para comê-lo, mas a Constituição proíbe que você faça isso com crueldade. Outro fator é ambiental: esses navios não são feitos para o transporte de animais, são adaptados, inseguros. Há também a questão ética: a visão do pecuarista é que o animal é uma besta irracional que pode ser explorado até a morte. O animal é consciente e têm emoção, é sujeito de direito”, diz.

Letícia tem 42 anos e milita na área desde que se formou em Direito. “Em 2012, quando virei vegana, decidi abraçar a causa de vez”, conta. Ela atuou em várias “batalhas”, como a proibição da caça de javalis e da vaquejada, além de resgate de animais em condição de maus-tratos. Em 2013, por exemplo, dezenas de beagles foram retirados por ativistas do Instituto Royal, laboratório paulista que realizava testes com cães.

“As exportações são a maior causa que já enfrentamos, porque o agronegócio é uma indústria muito estabelecida, a mais forte do país. Ela gera muito dinheiro e tem fortes alianças com o poder”, afirma. “Antigamente, o movimento era visto como protetor só de cães e gatos, mas com a entrada dos veganos, mais organizados, começamos a entrar em questões maiores”, explica ela, que também é advogada da Agência de Notícias de Direitos Animais (Anda).

A jornalista Silvana Andrade, presidente da agência, critica o argumento do governo de que a proibição traria prejuízos econômicos ao país. “Esse argumento é falacioso, o mercado de gados vivos é uma pequena parcela da carne que o Brasil produz. O país não pode ter uma economia baseada na crueldade.”

Além de noticiar temas do ativismo, a Anda promove ações judiciais contra procedimentos que considera equivocados. Silvana se lembra do dia em que começou a militar. “No dia 19 de fevereiro de 2000, meu aniversário, ganhei um cão de presente, a Nina. Me apaixonei tanto por ela que, no dia seguinte, parei de comer carne. Depois, virei vegana”, conta.

O Brasil começou a exportar gado vivo há 20 anos – o país é considerado o maior produtor de carne processada do mundo. Os bichos são transportados de caminhão das fazendas ao porto, colocados em grandes embarcações, viajam milhares de quilômetros pelo mar e, depois, são abatidos no país comprador. O trajeto do navio Nada até a Turquia, por exemplo, durou 15 dias.

A prática vem crescendo. Segundo a Associação Brasileira dos Exportadores de Animais Vivos (Abreav), em 2017 o Brasil vendeu 460 mil cabeças de gado em pé – nome técnico para a modalidade –, movimento de R$ 800 milhões e crescimento de 42% em relação a 2016. Para este ano, a entidade espera 30% de alta.

tags: Brasil

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