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Por Redação O Sul | 23 de fevereiro de 2017
Autoridades brasileiras e uruguaias farão parceria inédita para investigar uma das maiores redes de lavagem de dinheiro sujo procedente do Brasil. O ponto de partida é a descoberta do esquema usado pelo ex-governador Sérgio Cabral para esconder em paraísos fiscais cerca de US$ 100 milhões ganhos ilegalmente.
Um dos envolvidos nas operações de Cabral, o advogado Oscar Algorta, de Montevidéu, é dono de 180 empresas offshore no Uruguai e no Panamá, supostamente criadas para esconder o patrimônio e a movimentação de recursos de clientes secretos.
O pedido de cooperação entre os dois países, prestes a ser apresentado pelo Ministério Público Federal do Brasil, alcança o Uruguai no momento em que o país discute mudanças na legislação para livrar-se do estigma de paraíso fiscal.
O governo local tem prazo até o ano que vem para provar ao Grupo de Ação Financeiras sobre Lavagem de Dinheiro (GAFI), espécie de xerife dos mercado financeiro internacional, que está abandonando a cultura do segredo. Caso contrário, voltará à lista dos países lavadores, de onde foi retirado no ano passado sob a condição de mudar. “Se o Uruguai não cooperar, terá enormes problemas com o GAFI”, afirmou o secretário nacional Antilavagem do governo, Carlos Diaz.
SECRETÁRIA ENVOLVIDA NA CALICUTE
O nome de Oscar Algorta, dono do Estúdio Algorta (escritório de advocacia), apareceu nas investigações da Operação Calicute, versão da Lava-Jato no Rio, quando os investigadores descobriram que uma secretária do advogado, María Esther Campa Solaris, figurava como titular de uma conta no banco Pictet & Cie, com sede em Genebra, onde Cabral teria escondido US$ 10 milhões (R$ 31,2 milhões).
Algorta também é acusado de ter ajudado o ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró a lavar dinheiro na compra de um apartamento de R$ 7,5 milhões em Ipanema, no Rio, em 2009.
Obtida pelo jornal O Globo, uma carta endereçada a Algorta reforça as suspeitas de que o advogado integra um cartel dedicado a remessas secretas do Brasil. No documento, o brasileiro Enrico Vieira Machado, operador financeiro, acusou um ex-sócio, o doleiro Dario Messer, de operar a “maior rede de lavagem de dinheiro” do Brasil, envolvendo escândalos políticos.
De acordo com o autor, as operações de Messer usariam duas casas de câmbio no Uruguai, “uma conduzida de forma legal para dar cobertura a outra, maior e de dimensões multinacionais, que é conduzida de maneira totalmente ilegal, tanto no Uruguai quanto em qualquer outro país”.
Enrico Machado, que rompeu a sociedade com Messer de 2013, afirmou na carta que três empresas uruguaias, Doucet, Blostock e Greenwood, eram usadas para esquentar o dinheiro sujo originado do Brasil.
A carta foi remetida no dia 18 de dezembro de 2013, no contexto da briga com o ex-sócio. Foi uma resposta a outro documento, assinado por Algorta um dia antes, na condição de diretor de uma empresa de Messer, a Cito Overseas LTD, no qual o advogado uruguaio exigiu a transferência de ativos mantidos em fundo de investimentos administrado por Enrico, o Freefly Fund, entre os quais 2,9 milhões de ações da Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar).
Machado apontou na carta quatro brasileiros como responsáveis pelas operações de Messer no Uruguai: “Toni, Vinicius, Najun e Sergio”. Um deles seria Vinícius Claret Vieira Barreto, o “Juca Bala”, nome citado por dois delatores premiados da Calicute, os irmãos Renato e Marcelo Chebar.
Doleiros, eles revelaram que, quando o esquema de propina de Cabral ficou grande demais, em 2007, tiveram de chamar Juca Bala para assumir as operações de lavagem. Até então, Renato e Marcelo usavam operações dólar-cabo (entrega de valores em reais no Brasil para que fossem creditados recursos em dólar no exterior) usando a própria clientela.
O criminalista Jorge Barrera, que advoga para Algorta, negou que o cliente esteja envolvido em esquemas de lavagem. (AG)