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Celebridades Marco Nanini fala de sexualidade, drogas e conta por que desistiu de ser pai

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Marco Nanini
Acostumado a se transformar pela arte, Marco Nanini afirma ser um homem comum. (Foto: Reprodução)

O reflexo no espelho mudará drasticamente em pouco mais de uma hora. Desta vez sob a falsa pele negra, ornamentada por peruca e costeleta, esconde-se — e também se revela — Marco Nanini, o professor Pancrácio de “Êta mundo bom!”. É a 18ª caracterização feita para o papel em menos de 60 capítulos entregues por Walcyr Carrasco.

 

Marcon Nanini disfarçado de homem negro para o personagem Pancrácio

Pancrácio se disfarça de homem negro, mas a maquiagem desmancha. (Foto: Reprodução)

O exercício de montar-se, desmontar-se e remendar-se não é somente um dos atrativos da trama, mas expõe a fertilidade da criação e o mistério afivelado a ela. O ator de 67 anos, com mais de cinco décadas de carreira, está acostumado a se transformar, alargando os princípios e fins do corpo para caber ali quantas vidas sejam possíveis. Uma ciranda de pequenas mortes seguidas de constantes renascimentos.

“Interpretar é sempre um pulo no abismo. Os personagens são muito temperamentais, às vezes não querem que você os faça. Você tenta, tenta, e não dá certo. Quando dá, então, é uma sensação de bem-estar. Quando deixo de dizer “agora, vou pegar esse objeto com raiva” e pego normalmente, por intuição, é porque o personagem está comandando. Do contrário, é difícil atingir a emoção, porque apenas o cérebro funciona. Começo muito devagar, não posso chegar logo. Até me sentir à vontade. Passo por esse caminho todas as vezes”, admite Nanini, cuja última novela foi “Andando nas Nuvens” (1999).

Talvez por hábito, o veterano de cabelo branco, barriga saliente e sorriso modesto a rasgar o rosto tenha sentido a confusão das inquietas borboletas no estômago com o convite para voltar aos folhetins. O motivo não é o medo da rejeição, garante o intérprete do Lineu de “A Grande Família” por longos e carinhosos 14 anos. Há uma preocupação em atingir e comover o público. A conexão elétrica dessa sintonia o faz, quem sabe, amansar esse bando de asas coloridas.

“Gosto de sentir o que o personagem sente para aprender alguma coisa. Embora as emoções estejam dentro de mim, não exercito todas. Gosto de me apagar. Eu me sinto muito bem fazendo isso aqui. Tenho interesse também pela vulnerabilidade do nosso trabalho. Estou aqui, mas, se quebrar a perna, não posso vir, ou se faltar a voz. O público imagina o glamour, mas tem o reverso da moeda que poucos sabem”, acrescenta ele, lembrando que a principal dificuldade da empreitada foi conceber uma unidade para o farsante de bom coração.

Marco Nanini

Marco Nanini: “Gosto de me apagar”. (Foto: Reprodução)

Nanini, é bem verdade, nunca teve as feições harmônicas de um galã. Preserva, ao contrário, as marcas e expressões de um homem comum que, não fosse a fama, certamente se misturaria à multidão de rostos tão belamente ordinários quanto o seu. Nessa aparente folha branca, de poucas rasuras, desenhos foram e são testados. Apesar de ter construído uma trajetória profissional repleta de máscaras, com jeitos de falar e agir, o ator se equilibra na vida como um doce mambembe. Contenta-se em se disfarçar nos labirintos da ficção.

“Sou uma pessoa muito vulgar, no sentido de simples, não no significado grosseiro da palavra. Sou normal até demais. Acho cansativo você ficar criando tipos, é muito falso. Odeio quem interpreta na vida. Fui a um médico uma vez que fez tanta encenação, tinha uma arrogância, sabe? Pensei: ‘Gente, esse homem está interpretando para mim, era só o que me faltava’. Nunca mais voltei. Esqueci o cara, nem sei o que fazia ou por que fui lá. Tem canastrão em todo lugar.”

A convivência com papéis e ideias em ininterrupta órbita talvez o tenha motivado a quebrar quase todas as paredes de casa. Queria espaço e sustenta: “Sou muito grande e esbarro em tudo”.

Personagem da própria vida, o ator colhe experiências para ladrilhá-la. Pelo jeito calmo com que engatilha falas e pensamentos, Nanini sugere estar instalado na mansidão — por detrás da casca polida, porém, lembra ser assombrado por crises recorrentes, algumas tratadas em anos no divã. Sua face tranquila evoca o fascínio pela natureza e pelas crianças. Assim, não é difícil imaginá-lo como um Manoel de Barros, poeta interessado nas pequenezas de pessoa e bicho, o mesmo que escreveu: “Tudo que não invento é falso”.

“Sou retraído, só me solto perto de pessoas conhecidas. Tenho pânico de ir para um evento grande, não tenho traquejo social nem memória para reconhecer as pessoas, então erro muito. Prefiro ficar com os bichos, no mato [ele tem sete cachorros em casa e outros seis em um sítio]. Mas sou bem-humorado, brincalhão demais. Tenho um Erê, um garoto, dentro de mim. Observo muito as crianças. Elas são tão sinceras e inesperadas, têm raciocínios engraçados, e também os animais. Imagino o Pancrácio como uma ave esguia, um flamingo. Embora ele não se comporte dessa maneira, penso que ele se imagine assim. Daí vou virando. Já eu me vejo como uma anta, porque estou muito gordo [risos]. Para ser bonitinho, seria um rinoceronte. Mas adoro os dois”, diz, mergulhado na alquimia das criações.

Paternidade

Apesar da forte relação com o universo lúdico da infância, Nanini ressalta não ter vocação para ser pai.

“Já pensei em ter filho, mas desisti. Se a criança tivesse uma dor de barriga, eu não saberia o que fazer. Ficaria desesperado. Ia querer salvá-la, protegê-la. Se quebrasse o dente, ia sofrer mais que ela. Resolvi não ter, mas tenho amigos crianças. Faço almoços, levo no shopping, junto um monte, mas com seus pais, porque cada um que cuide dos seus filhos. Só quero ser avô. Às vezes, deixo elas sozinhas, sumo, fico só observando… “, destaca.

Mesmo com as plantas dos pés enraizadas ao chão, ele permite se embrenhar na experiência de ser outro, mexer nos parafusos da fantasia. Afirma, no entanto, não ter apego aos personagens. A nenhum deles. O tempo e o encadeamento de tantos tipos idealizados com o habitual esmero tornaram Nanini um homem respeitado, reverenciado até, algo que ele começou a notar, não sem espanto e alegria, há pouco tempo.

“Sinto como um carinho. Tem acontecido de os atores me abordarem dessa forma. Quando posso, sempre digo: ‘Olha, parem, sou bagaceiro, viu?’ [risos]. O que me interessa é meu colega. Não gosto de ser visto como um rei da interpretação, porque vamos morrer, o que adianta? Viver é uma situação de risco. Tudo é muito inesperado, frágil e fugaz para todos. Claro, tenho uma vaidade em certa medida, mas isso dá trabalho, né? E sou mais preguiçoso que vaidoso. Geralmente, confundo isso com as sensações que tenho em cena. Não é uma vaidade estética, é do quanto eu tenho prazer ao representar”, frisa ele, que já se aventurou escrevendo peças, mas desistiu ao se sentir desnudado pelas palavras. “Isso me deu um trauma muito grande. Passei anos sem grafar nada, nem cartão postal.”

O veterano saboreia o bem-estar novamente na novela das seis com Pancrácio, conselheiro e guia de Candinho (Sergio Guizé) nos caminhos por vezes sinuosos da ingenuidade. Nanini opta por se esquivar dos cetros imaginários. A realidade, comprovada nas palavras de afeto do jovem protagonista da trama, é de plena e franca comunhão.

“Não sei definir de outra forma: estou maravilhado. É ele o grande ator da história, mas não se coloca assim. Temos uma parceria, ele me escuta. Outro dia, no intervalo, conversávamos sobre filmes, teatro, a vida… Nanini é um gênio, é muito difícil o que ele faz, uma aula de interpretação, de civilidade, de amor à profissão”, enfileira elogios Guizé.

Diante da vastidão do professor de Filosofia e da dificuldade de decorar palavra por palavra o texto de Walcyr Carrasco, Nanini passou a recorrer ao ponto eletrônico. O ator, todavia, realça não ser essa uma atitude preguiçosa, mas um auxílio ao ato de criar.

“Vi que tinha um preconceito bobo. Não deixo de ter trabalho, já que estudo o texto profundamente. Além disso, o ponto tem que ser fluente, entendido e bem falado. Tenho ensaios diários. Muita gente, aliás, o usa escondido. Eu não tenho vergonha. Quero formar ‘apontadores’. O importante é não quebrar a ilusão do espectador”, alega, exemplificando o funcionamento do recurso auxiliado por seu assistente, com um resultado realmente impressionante.

Após “Êta Mundo Bom!”, ele planeja uma nova incursão pelo teatro com o espetáculo “Ubu Rei”, com estreia prevista para este ano. Também em 2016, Gringo Cardia deve lançar um livro de fotos em homenagem à carreira de Nanini, iniciada no palco, espaço onde a variação de si mais aconteceu.

Curiosamente, as faíscas desse desejo se manifestaram na igreja, ao acompanhar a mãe às missas de domingo. Em uma delas, subiu ao púlpito para ler a epístola.

“Talvez tenha sido uma vontade oculta de me exibir”, recorda ele, atravessando o passado de memórias. Nascia ali, num desdobramento imprevisível da fé materna, um artista. Os pais que vislumbravam o filho como advogado “se conformaram” com um ator. Vocacionado e entregue ao ofício, ele se apega às coincidências, mas a religião cristã ficou restrita a esse impulso primeiro e transformador.

“Acredito em Deus, na divindade, mas não gosto das ordens, das regras que a igreja impõe. Não gosto do preconceito, do racismo, da violência que a religião pratica para se manter. A que me parece mais suave é o budismo, mas, mesmo assim, não me atrai — sustenta o ator, que costuma carregar para os camarins do teatro orixás como Oxúm, Oxalá e Iemanjá.

Nanini já foi a uma jogadora de búzios para tentar decifrar o destino. Da mesma forma, recorreu à astrologia, intrigado com as consequências do retorno de Saturno — o fenômeno planetário já foi motivo de angústias.

“Tudo fica muito complicado nesse período”, esclarece o geminiano. Essa busca é justificada por um querer experimentar que não cessa. Da gastronomia, surpreende por um apetite fast food. No dia da entrevista, embora tenha reclamado de um descontrole da pressão, clamou por cheeseburger, batata frita e Coca-cola grande. E bacon, sua principal exigência. Mas logo avisou que não dispensa legumes e arroz com feijão.
“Só não como vísceras e odeio esse negócio de buchada”, pontua. Outros sabores, alguns do gosto abstrato, foram domados com o tempo.

“Eu tive as emoções que pintaram. Eu as aceito, porque não tem jeito, mas sou mais fatalista. Se tenho um problema e preciso operar, opero na hora, não gosto de incertezas. Já experimentei drogas também. Foi normal. Nunca tive uma overdose, nunca fiquei dominado por elas, viciado. Usei cocaína, por exemplo, mas o dia seguinte era muito chato, eu não me dei bem com ela. Fui largando”, explica.

Homossexualidade

Desde 2011, quando assumiu publicamente ser homossexual, Nanini se tornou uma referência na luta por dignidade, mesmo involuntariamente. Era ele, à época, o patriarca da família Silva, a mais tradicional da televisão, afinal.

O assunto, no entanto, é tratado com discrição extremada, deixando claro que, apesar dos inúmeros personagens na vitrine, ele faz questão de preservar certo mistério sobre a vida particular. O retrato do intérprete sobressai.

“Esse assunto para mim começou e se encerrou na minha declaração. Nem penso nisso. Quem quiser falar de mim fale. Sempre me senti confortável com o que sou. É o que tenho a dizer, não insista”, avisa, de forma educada, confirmando a seu modo que o bom ator não tem sexo, tampouco idade. Um velho clichê do qual felizmente o múltiplo Nanini não escapa. (Filipe Isensee/AG)

 

 

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