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Por Redação O Sul | 1 de junho de 2018
O governo espanhol foi destituído por votação parlamentar nesta sexta-feira (1°) devido a um vultoso escândalo de corrupção semelhante àquele investigado no Brasil pela Operação Lava-Jato. Deputados aprovaram por maioria absoluta, em uma Câmara de 350 cadeiras, a moção de censura contra o então premiê Mariano Rajoy, do conservador PP (Partido Popular).
A manobra foi apresentada na véspera pelo líder opositor Pedro Sánchez, do PSOE (Partido Socialista Operário Espanhol), que passa a ser o primeiro-ministro em exercício até a sua confirmação pelo rei Felipe na segunda-feira (04).
Votaram pela queda de Rajoy, além do PSOE, o esquerdista Podemos, os catalães da Esquerda Unida e o Partido Nacionalista Basco, entre outras pequenas formações. A favor do ex-premiê, votou a sua própria sigla e o aliado Cidadãos, de centro-direita.
O governo de Rajoy, que começou em 2011, foi o responsável pelas controversas medidas de austeridade implementadas em meio à crise financeira global de 2008. Durante a sua gestão, o país superou o dilúvio e passou a liderar o crescimento do bloco europeu – apesar de ainda ter um desemprego de 35% entre a população com menos 25 anos. “Foi uma honra ser premiê e deixar uma Espanha melhor do que aquela que encontrei”, Rajoy escreveu em uma rede social antes mesmo da votação da moção.
Também nos quase oito anos de seu governo, a Espanha enfrentou o maior desafio político desde a redemocratização dos anos 1970, com as reivindicações separatistas da Catalunha, uma região com autonomia parcial. Ao deixar o palácio de Moncloa, o ex-premiê Rajoy levará consigo a fama de ter sido incapaz de resolver essa questão.
Não por acaso os votos decisivos, somados aos do PSOE e aos do esquerdista Podemos, vieram dos pequenos partidos nacionalistas catalães e bascos, que enxergaram ali uma oportunidade de puni-lo. Rajoy também sai com a imagem negativa de ter liderado um governo soterrado por acusações de corrupção.
A moção de censura foi apresentada pela oposição depois que, na semana anterior, a Justiça havia condenado 29 pessoas à prisão – incluindo seu ex-tesoureiro, Luis Bárcenas, acusado de cobrar comissões em contratos públicos. As penas na Operação Gurtel, ligada diretamente ao PP, somam 351 anos. Para o tribunal, o partido se beneficiou de um esquema de venda de concessões – algo que a sigla e o ex-premiê Rajoy negam.
O inesperado governo do socialista Sánchez, derrotado nas urnas quando concorreu ao posto, deve ser turbulento e breve. O partido só conta com 84 cadeiras no Congresso, entre 350, enquanto o PP – agora a principal oposição – tem 134. Mal inaugurada, essa gestão do PSOE já é descrita como “Frankenstein” pelos seus detratores. É bastante provável que a Espanha volte às urnas nos próximos meses, somando mais uma crise política a uma Europa já preocupada com o governo populista prestes a comandar a Itália.
Ao contrário da Itália, no entanto, a Espanha não enfrenta por ora movimentos populistas de direita ou contrários à União Europeia, o que preocupa menos o restante do continente.
Quando, por fim, vierem as eleições, os tradicionais PP e PSOE devem ser punidos pelos eleitores, insatisfeitos com a velha política. A julgar pelas pesquisas recentes, o governo deve ser entregue à novata sigla de centro-direita Cidadãos, em um movimento semelhante ao que elegeu o presidente francês Emmanuel Macron.