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Colunistas Messi e Cristiano Ronaldo

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(Crédito: Reprodução)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Um jogo de futebol pode revestir-se da roupagem de uma peça de teatro. Será comédia mas também poderá ser uma tragédia, não tão clássica quanto as de Eurípedes mas forte na capacidade de produzir a emoção superlativa.

Precisa de autor, basicamente. Também se faz tocante e sensibiliza, mais ou menos, pela interpretação do autor que a põe em cena, assumindo o texto, que é a sua versão autêntica, mas gélida, sem o iniciar que se segue as três pancadas de Moliére.

No domingo que passou, disputou-se, ante mais de setenta mil torcedores, a partida entre França e Portugal, final da Euro Copa. Segundo torneio em importância no ranking mundial de futebol.

Havia algo escrito nas estrelas que a ninguém fora dado a conhecer. Sabia-se que Cristiano Ronaldo, ganhando ou perdendo, seria a figura mais procurada pelas câmeras. É um craque mas, além disso é um midiático, que, como disse Eduardo Galeano, “cultiva la belleza personal”.

Usualmente, ele e Messi, como jogam nos dois maiores clubes da Espanha Barcelona e Real Madrid, vivem e sobrevivem de uma permanente comparação de múltiplas qualidades e de limitados defeitos. Nos últimos cinco ou seis anos, estiveram previamente escalados para disputar o título de melhor do mundo, numa competição em que, PARA ELES, ser o segundo é ser último.

Messi é um craque. Goleador, veloz, ágil, um respeitável jogador de futebol, que tem, na sua vida, uma história de paradoxos e superações. Argentino, levemente autista e sofrido, foi descoberto por um “olheiro” do Barcelona que viu, naquele menino frágil um potencial de futuro. O Barcelona levou-o da Argentina, tratou-lhe a doença, acomodou-lhe a família, deu-lhe massa muscular e viu cumprida a promessa do descobridor: FE-LO super craque.

Os argentinos, ciumentos dos seus vínculos com a Espanha, passaram a cobrar-lhe maior desempenho na seleção comparando com suas repetidas e exitosas performances no Clube. Rondou-o nela um azar continuado. Não conseguiu sequer ajudar a alviceleste a ganhar um mísero título.

No recente campeonato sulamericano, tudo indicava que Messi (mais para baixo que para alto; mais triste do que animado; mais patinho feio do que pavão dourado) ia quitar-se com seus conterrâneos e liberar-se do que se dizia ser uma sina agourenta com que lhe haviam condenado os deuses do futebol.

Jogou bem como sempre, talvez mais do que nunca. Fez gols, deu passes, driblou como um estilista do melhor balé futebolístico. E a Argentina, sob sua inspiração e exemplo, vencia todos que atravessavam o seu caminho. Chegou o dia do confronto final contra o Chile.

Decisão nos pênaltis. A Messi, por ser o melhor, coube ser o primeiro a bater. E ele, ante o “oh oh oh” de milhares de torcedores presentes e a frustração de milhões de argentinos, errou como um “zé ananias” de Clube de série “E”. Caminhou sem destino dentro do campo. Cabeça baixa, afastando-se de todos, lágrimas nos olhos. Aos companheiros – poucos foram consola-lo – respondeu com um gesto melancólico de culpado confesso que não quer advogado de defesa. Logo, só deixou claro que fora vencido pela adversidade que o impedia de ser um argentino que pudesse fazer feliz aos argentinos. E, cabeça baixa, como um criminoso que nunca foi, renunciou à seleção, assumindo ser o portador da doença da não-vitória com que contaminara seus colegas.

Voltemos a Paris. Cristiano Ronaldo está em campo; aparentemente, vendendo saúde e tesão competitiva. Sabe-se que tem problema físico mas vai jogar de qualquer jeito. É o capitão, o líder, a estrela da equipe lusitana. O Luiz de Camões, capaz de produzir – creem seus compatriotas – os “Lusíadas” do futebol, naquela tarde de verão francês.

Casual ou causalmente, num lance violento, um jogador francês acerta sua parte frágil e cai ferido. Botam-lhe uma coxeira elástica e ele volta manquitolando para o campo. Logo novo choque que o derruba sem chance de continuar. É retirado, chorando compulsivamente. A torcida portuguesa começa a aplaudi-lo e, num contágio estranho em competições tão fanatizadas, o público francês adere as palmas e o aparente rei vencido é glorificado por lusos e gauleses, como se o tivessem coroando.

Por um alento vindo das entranhas da paixão, Portugal jogou por Cristiano Ronaldo sem Cristiano Ronaldo. Ele, que não jogava, inspirava seu grupo, seu povo que jogou como nunca.

Gritou – com o altofalante de líder o brado de solidariedade e confiança que nos companheiros depositava a dizer-lhes que o esforço a mais que fizessem supriria sua ausência. E ele berrou e eles ouviram. Até que um gigante de ébano da Guiné Bissau, a quem segredara na entrada em campo, quem sabe que fetiches – fez o gol do título, dedicando ao herói ferido, mas não vencido, o seu feito decisivo.

Como e por quem serão tecidos os cordéis do destino? Quem responderá pelo manobrar as escolhas do êxito e do fracasso? E com que critérios?

Messi terá uma conta tão deficitária que o leva a auto flagelar-se ante a incapacidade de satisfazer a exigente cobrança dos compatriotas?

E que Sol iluminará, para gaudio dos exitosos, o dia de Cristiano Ronaldo que, voltando aos Lusíadas, vai “além da Trapobana” e vence, como cavaleiro heroico, não importa se solitário e ferido, uma Aljubarrota futebolística. Mesmo não jogando, os companheiros cederam-lhe o passo para que, recebendo de volta a faixa de capitão, levantasse, com ar helênico, a taça conquistada.

Natural da Ilha da Madeira foi, aos 12 anos, sozinho, para Lisboa, migrante no próprio país, dedicou a vitória aos muitos, milhões mesmo, de compatriotas migrantes portugueses que, as vezes, sofrem bulling social, lembrando-os que agora são campeões, pois por ele, mas, sobretudo para eles a taça fora conquistada.

(*) Doutor em Direito

cagchiarelli@gmail.com

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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https://www.osul.com.br/messi-e-cristiano-ronaldo/ Messi e Cristiano Ronaldo 2016-07-16
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