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Colunistas Modismo, eta chatice!

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Na internet, as mãozinhas postas substituíram o vocábulo obrigado

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

É lugar-comum afirmar que a língua muda. Organismo vivo, está a serviço dos falantes. Eles, como a água que passa sob a ponte, nunca são os mesmos. Movimentam-se, misturam-se, transformam-se. Viva!

Mas, por motivo que até Deus ignora, algumas deixam de circular. Ficam estagnadas. Resultado: viram moda. Depois, praga. O uso se intensifica por influência do rádio, da tevê, da internet. São os modismos, que pegam com a rapidez da água morro abaixo ou do fogo morro acima.

Podem ser palavras ou expressões que passam a ser empregadas em sentido diferente do usual. Uma das mais recentes é gratidão. Por contágio talvez do emoji da internet, as mãozinhas postas substituíram o vocábulo obrigado. Não só nas mídias sociais. Também na fala. Marcelo Abreu escreveu sobre a novidade.

A tal gratidão

Depois do advento das redes sociais — território sem lei em que quase todo mundo é bonzinho, feliz e de bem com a vida — a palavra da moda é gratidão. Além de feliz, bonzinho e de bem com a vida, quase todo mundo também aprendeu a ter gratidão ou a ser grato. A quem? Ao cosmos, ao dia (ou à tarde, à noite, à madrugada), ao café matinal, à vida, à flor, aos ipês roxos e amarelos. Até à seca esturricante, por que não?

Obrigado

O importante é estar na moda. Ninguém mais sabe dizer ou escrever obrigado. Obrigado virou palavra proibida, persona não grata. Expulsa das rodas dos bonzinhos, dos felizes e dos gratos — quase seres superiores, de tão cheios de gratidão, claro. Se não é grato, fulano não é bonzinho. Tampouco feliz.

Gratidão, no budismo, é considerada qualidade saudável a ser cultivada na mente. É palavra bonita. De fato, bonita. Na língua portuguesa, é usada como reconhecimento por algum benefício recebido. Mas, nas redes sociais, território complicado, não se atribui a alguém específico. Pode ser, como já se sabe, ao cosmos, ao café, ao vinho, ao mar, às estrelas.

Abuso

Aí é mora o excesso. E todo excesso sobra. Há, ainda, quem diga que a palavra obrigado carrega a ideia de obrigação, ser obrigado. Qualquer justificativa serve para a tal gratidão aparecer no começo, no meio ou no fim de um texto, seja ele do tamanho que for.

Sugestão

Uma dica, internauta: seja conciso, não caia em modismos. Seja simples. Simplicidade atrai verdade. Para agradecer, basta um “muito obrigado” ou, melhor ainda, “agradeço”. Simples, não? E atenção! Desconfie sempre da pessoa que usa gratidão para tudo. Fique alerta. Na maioria das vezes, ela, a pessoa, nem cumprimenta o porteiro do prédio onde mora. Mas, nas redes sociais, é “grata”. Grata a tudo. É chique. Atrai. As aparências, como se sabe, quase sempre enganam. Olhos arregalados. Os dois, juntinhos,

#Obrigado!

Leitor pergunta

“No pronunciamento feito depois da vitória na Câmara, Temer disse que o objetivo do seu governo é gerar novos empregos. Abusou, não?”. (José Ricardo de Antoni, lugar incerto)

Tem razão, José Ricardo. Trata-se de baita desperdício. Só se gera o novo. O adjetivo sobre. Basta gerar empregos.

Recado

A simplicidade da linguagem não é incompatível com a riqueza de conteúdo.”

Carlos Leite Vieira

 

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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