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Por Redação O Sul | 13 de fevereiro de 2018
Encontrar informações sobre o “desafio do desodorante”, que recente levou Adrielly Gonçalves, 7 anos, à morte, não é difícil, ainda mais para crianças e adolescentes já acostumados com o uso da internet. Ao colocar o frasco com o produto na boca, a fim de usá-lo como droga, a menina de São Bernardo do Campo (SP) estava tentando imitar um vídeo que circula pela rede disseminando essa prática.
No site de buscas Google, a pesquisa pelo termo “desodorante droga” proporciona quase 200 mil resultados, com matérias jornalísticas alertando sobre os riscos envolvidos, mas também vídeos e textos ensinando como a inalação deve ser feita.
O tema é bastante popular, tanto que o buscador oferece algumas “pesquisas relacionadas”, com termos como “baforar bom ar”, “como inalar desodorante” ou “como se cheira desodorante”. Pelo YouTube, a busca por “inalar desodorante” mostra quase 500 resultados, muitos deles com vídeos de jovens, aparentemente menores de idade.
Diretora do Instituto Psicoinfo, Luciana Nunes assinala que os desafios da internet que atraem crianças e adolescentes ganham mais adeptos nas férias escolares, quando os estudantes têm mais tempo livre e são menos vigiados pelos pais, que estão trabalhando.
“Uma criança de 7 anos precisa estar acompanhada por adultos quando acessa a internet, porque ela não tem maturidade ou discernimento sobre o perigo representado por esses desafios”, observa. “Existem dispositivos para filtrar o conteúdo a que ela pode assistir.”
A psicóloga ressalta a existência de um padrão: jovens que participam destes desafios são expostos seis vezes, em média, a um conteúdo semelhante. “Eles já viram vídeos, ou ouviram comentários de amigos”, ressalta. “Não adianta fazer apenas uma campanha sobre o ‘desafio do desodorante’, porque muitos outros desafios aconteceram antes e outros podem aparecer depois.”
Ela diz, ainda, que as crianças querem testar os seus limites, por isso se engajaram meses atrás na Baleia Azul e antes a outro desafio em que deviam enforcar um amigo até que ele desmaiasse: “Vemos que elas só começam a entender as consequências destes atos a partir dos 12 ou 13 anos”.
Luciana ressalta que a última parte desenvolvida do cérebro (o que ocorre apenas durante a adolescência) é o córtex frontal, responsável por funções cognitivas como a tomada de decisões. Por isso, uma criança teria menor estrutura para diferenciar o teor do conteúdo disponível na internet. Assim, está mais vulnerável a sites e jogos perigosos.
O problema não é a internet, mas a falta de compreensão sobre como os riscos do mundo digital devem ser reconhecidos e transmitidos: “Da mesma forma como colocamos uma grade para que a criança não se pendure na janela do apartamento, devemos colocar um filtro na web para garantir sua segurança”.
A psicóloga ainda defende a inscrição das crianças em colônias de férias, que cumprem duas funções: além de proporcionarem atividades lúdicas, também reduzem o tempo que os jovens passam on-line.
Baleia Azul
O “jogo da Baleia Azul” foi o mais recente a se espalhar pelo Brasil, em 2017. Só existe em grupos fechados nas redes sociais. Em 50 dias, os participantes devem fazer desafios diários, dentre eles a automutilação. O último desafio é se suicidar.
Asfixia
Pouco antes do “jogo da Baleia Azul” se espalhar pelo Brasil, em 2017, o “jogo da asfixia” já preocupava: consiste em se enforcar até desmaiar, para experimentar sensações fortes. O brasileiro Gustavo Ritter, 13 anos, perdeu a vida durante o desafio, em outubro de 2016. Houve mortes também nos Estados Unidos e no Canadá.
Planking
Este desafio levou à morte um homem na Austrália em 2011. Ele caiu do sétimo andar de um prédio, enquanto tentava fazer o jogo. As pessoas são desafiadas a ficarem de bruços, com o corpo completamente reto, em alguma superfície estreita, com apoio somente na região do abdômen.
Canela em pó
Em 2016, o “desafio da canela em pó”, no qual o participante tenta engolir um punhado do ingrediente puro e ficar ao menos um minuto sem beber água, começou a chamar atenção. No mesmo ano, um grupo de pediatras norte-americanos escreveu um artigo para o periódico científico “Pediatrics” com o alerta: fazer o “desafio”apenas uma vez já poderia levar à morte.
Gás Hélio
Muitos vídeos na internet estimulam pessoas a inalarem gás Hélio, a fim de falarem com voz fina e tentarem não rir. Esse “desafio” é menos nocivo do que os anteriores, mas não deixa de ter riscos: pode levar a desmaios (porque o Hélio toma o lugar do oxigênio no corpo, o que faz falta às células) e causar queimaduras, por causa de possíveis explosões do gás, que é inflamável.