Sexta-feira, 26 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 13 de outubro de 2017
“Dizem que eu sou o Trump brasileiro”, responde Jair Bolsonaro, com um sorriso quase irônico, ao ser perguntado se ele se identifica com o atual presidente dos EUA. Se ele acha a comparação adequada? Bolsonaro demora na resposta, refuta ser um populista e diz que o Brasil não suportaria mais um presidente nessa linha.
Em uma entrevista de uma hora à Bloomberg em Nova York, o ex-capitão do exército que está crescendo nas pesquisas a menos de um ano das eleições presidenciais desfila um sem-número de posições políticas e opiniões que, se não populistas, são certamente pouco ortodoxas.
Entre elas, negar que o regime militar era uma ditadura; ou dizer que a China “não tem coração”, sugerindo restringir seu acesso a setores considerados por ele como estratégicos no País; ou mesmo ao afirmar que pode fazer toda a campanha presidencial com um orçamento de apenas R$ 1 milhão.
Bolsonaro insiste que, como Trump, se apoiará em sua capilaridade em redes sociais para disseminar sua mensagem aos milhões de brasileiros cansados da violência em espiral, corrupção generalizada e imigração indesejada.
“Eu sou uma ameaça às oligarquias, sou uma ameaça para os corruptos contumazes, sou uma ameaça para aqueles que querem destruir os valores familiares”, disse ele. “Essa é a ameaça que eu represento.”
A classe média do país viu seu status e renda caírem com a retração da economia de quase 8% nos últimos dois anos, o que permitiu a Bolsonaro passar a ser visto como um porta-voz dessa mistura de raiva e frustração. Os cortes orçamentários enfraqueceram os serviços públicos já precários e a violência no país continua a aumentar, fortalecendo o apelo de suas políticas de segurança linha-dura.
Em meio às revelações quase diárias de corrupção envolvendo a elite política do país, a ficha limpa de Bolsonaro apenas aumentou seu apelo entre um eleitorado desencantado.
Privatizações
Durante os seus mais de 20 anos no Congresso, apenas dois dos 171 projetos que apresentou foram aprovados. Mas sua exposição na mídia é maior do que sua força parlamentar, muitas vezes explorando questões polêmicas e provocando a indignação de seus oponentes, para o deleite de seus seguidores.
Na entrevista à Bloomberg, ele apontou que há mais do que apenas uma retórica polarizadora em suas propostas iniciais para a candidatura à Presidência, e ressaltou que seu plano de governo ainda não está pronto. Bolsonaro está nos Estados Unidos para uma série de encontros com investidores e políticos americanos.
A intenção de privatizar algumas empresas estatais, eventualmente incluindo a Petrobras, a redução dos gastos do setor público e a erradicação das fraudes nos programas sociais são algumas das ideias que ele tem em mente. Quanto ao principal objetivo da agenda de reformas do presidente Michel Temer – a da Previdência – Bolsonaro admite a necessidade de ação, mas prefere uma abordagem muito mais gradual do que o projeto que tramita hoje no Congresso.