Sexta-feira, 26 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 8 de agosto de 2017
O Google demitiu um engenheiro que foi centro de uma polêmica no Vale do Silício durante a última semana, depois que escreveu um memorando interno afirmando que existem causas biológicas por trás das desigualdades no número de homens e mulheres na indústria da tecnologia. O caso gerou manifestações internas de executivos e até acusação de censura por parte do fundador do WikiLeaks, que lhe ofereceu emprego.
James Damore atacou a ideia de que diversidade de gênero deveria ser um objetivo na empresa. “A distribuição de preferências e habilidades de homens e mulheres difere em parte por causas biológicas e estas diferenças podem explicar por que não vemos representação igualitária de mulheres na área de tecnologia e em liderança”, escreveu.
O texto dizia também que a “tendência esquerdista do Google criou uma monocultura do politicamente correto” que impede a discussão honesta da diversidade. Damore tem um doutorado em sistemas biológicos pela universidade de Harvard segundo consta em sua página no Linkedin.
O engenheiro confirmou seu desligamento, em um email, dizendo que foi demitido sob alegação de “perpetuar estereótipos de gênero”. Ele disse estar explorando todas as possíveis soluções jurídicas e que antes de ser demitido ele havia submetido uma reclamação para o Conselho Nacional de Relações de Trabalho (NLRB, na sigla em inglês) acusando seu superior no Google de tentar forçá-lo a se silenciar. “É ilegal retaliar contra uma acusação no NLRB”, escreveu no email.
Repercussão
O presidente-executivo do Google, Sundar Pichai, disse aos funcionários em uma nota na última segunda-feira que partes do memorando anti-diversidade “violam nosso código de conduta ao promoverem estereótipos de gênero nocivos em nosso ambiente de trabalho”. A vice-presidente de diversidade do Google, Danielle Brown, enviou uma mensagem em resposta à polêmica durante o fim de semana, afirmando que o texto do engenheiro “trouxe presunções incorretas sobre a questão do gênero”.
O fundador do WikiLeaks, Julien Assange, ofereceu emprego a Damore em seu Twitter. Ele criticou a postura do Google, e disse que “censura é para perdedores”. Segundo Assange, homens e mulheres devem ser tratados com respeito, e isso significa não demiti-los quando expressarem suas ideias.
O Departamento de Trabalho dos Estados Unidos está investigando se o Google ilegalmente pagou menos a mulheres que a homens. A companhia nega as acusações.
“Nós sabemos que os homens continuam governando o mundo. E não está tudo bem assim”, constata a chefe operacional do Facebook, Sheryl Sandberg, autora de Faça Acontecer, lançado em 2013 e que se tornou um best-seller no debate feminista. Nele, Sheryl conta casos de machismo com os quais teve de lidar em sua carreira, inclusive como alta executiva da companhia fundada e dirigida por Mark Zuckerberg.
Não por acaso, no início deste ano, o bilionário Zuckerberg publicou em seu perfil no Facebook um texto no qual conclama as mães a incentivar suas filhas a atuar no campo da inovação. Afinal, essa seria uma área receptiva a elas. Na verdade, precisa ser receptiva a elas, pois ainda não é.
A própria companhia de Zuckerberg fechou 2016 com apenas 33% dos funcionários do sexo feminino. Dos seus postos de comando, só 25% são ocupados por mulheres. Na Apple, outro gigante do setor, os números são, respectivamente, 32% e 28%. No Google, o indefectível site de buscas, quase a mesma coisa: 31% e 25%. No Twitter, 37% e 30%. Como se vê, nem essas companhias tão modernas chegam perto de ter mulheres em metade de sua mão de obra, e o retrato ainda piora nos altos postos.