Sexta-feira, 26 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 8 de junho de 2015
O apoio de parlamentares do PSDB ao fim da reeleição, a começar pelo do próprio presidente do partido, senador Aécio Neves (MG), não alterou a opinião do ex-presidente FHC (Fernando Henrique Cardoso) sobre o assunto. “Eu continuo favorável a ela e não creio que o tempo de experiência tenha sido suficiente para invalidá-la.”
Mas seu tom foi mais duro quando comentou outra posição do partido, desta vez na votação do ajuste – o apoio a mudanças no fator previdenciário. “Acabar com o fator agrava a situação fiscal e, a médio prazo, o custo cairá no bolso do povo. O PSDB votar como votou abala seu prestígio, embora em camadas de menor peso eleitoral.”
Quando indagado se faltava unidade e direção no PSDB a respeito da reeleição e contra o fator previdenciário, medidas que o próprio partido criou, FHC respondeu que eram questões de natureza diferente. “A duração do mandato depende da opinião que se tenha sobre a reeleição, não é questão doutrinária e não afeta diretamente o povo. Eu continuo favorável a ela e não creio que o tempo de experiência tenha sido suficiente para invalidá-la”.
Na campanha presidencial de 2014, o PSDB prometeu substituir o fator previdenciário por outro mecanismo mais razoável.
Desunião
De acordo com o ex-chefe de Estado, a imagem de um PSDB desunido aparece toda vez uma disputa eleitoral se aproxima ou quando há ansiedade diante de um grande impasse. “Como a maioria dos partidos, o PSDB, embora tenha uma postura reconhecida, que os adversários acusam de ser elitista, quando na verdade é, como se diz agora, mais republicana, não possui unidade, digamos, ideológica. Mas como ele é o polo de oposição viável ao PT, cobra-se dele uma coerência que não é cobrada dos outros partidos”, defendeu.
Política econômica
Questionado sobre sua posição sobre apoiar a política do atual ministro da Fazenda, Joaquim Levy, porque confirmaria as teses tucanas, ou atacá-la porque seu sucesso fortalece o PT, FHC foi enfático. “Para mim, o adversário não é o Levy, mas o lulopetismo, ao qual, neste momento, o Levy serve. Mas, entre os dois, há o Brasil. Como sair da armadilha? Votando o indispensável e mostrando que o que se faz agora é uma operação de resgate dos desastres do governo petista. Sem responsabilizar o ministro pelo que não é de sua alçada, ele, para manter vivo um governo que perdeu credibilidade e, portanto, as condições para oferecer um futuro promissor.”
PT x PSDB
Perguntado sobre o que separa, concretamente, hoje, o PT do PSDB, o sociólogo afirmou que ambos partidos são versões da social-democracia que variam pelo grau maior de aceitação da centralização econômica pelo PT. “Há maior apego à democracia, inclusive quanto à liberdade de opinião e dos meios de comunicação pelo PSDB; igual empenho na inclusão social, embora o PT simbolicamente expresse esse desejo com mais força; coincidência quanto a que a via revolucionária perdeu vigência. No presente, as diferenças maiores são quanto à aceitação das regras de mercado, implícita, mas relutante pelo PT, ou explicitamente pelo PSDB. Sempre com a ressalva de que elas não são absolutas; a ação do Estado é básica para assegurar os objetivos nacionais e para tentar equilibrar as desigualdades do capitalismo”, explicou o ex-presidente. (AE)