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Por Redação O Sul | 6 de março de 2017
Elas foram, sem dúvida, as acusações mais sérias que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já fez: em uma série de tuítes, Trump acusou na sexta-feira (03) o ex-presidente Barack Obama de ter grampeado a Trump Tower, em Nova York, durante a eleição.
A alegação pareceu vir como uma surpresa, e não foi apoiada por qualquer prova. Primeiro porta-voz de Obama, o ex-chefe de inteligência norte-americano James Clapper negou que qualquer grampo tivesse sido solicitado.
Mas o presidente Trump, por intermédio de seu secretário de imprensa, Sean Spicer, pediu ao Congresso que investigue as alegações “preocupantes”, junto com suas atuais investigações sobre a atividade de hackers russos durante as eleições.
O que os Comitês do Congresso já estão investigando?
Os comitês de inteligência da Câmara e do Senado americanos estão atualmente estudando a possibilidade de interferência russa durante as eleições de 2016, inquéritos iniciados em janeiro.
Eles prometeram investigações de amplo alcance, levadas a cabo por uma base bipartidária, que não hesitará em procurar ligações potenciais entre a campanha Trump e o Kremlin, bem como em analisar a “atividade cibernética” russa.
Ambos os comitês admitiram que estas serão investigações demoradas, e pelo menos um membro do comitê de inteligência da Câmara expressou seu aborrecimento por uma outra etapa estar sendo adicionada.
Poderia Obama ter ordenado a vigilância?
A equipe de Obama negou totalmente qualquer envolvimento, dizendo que os tuítes de Trump são “simplesmente falsos”. Um mandado, se existisse, provavelmente teria sido ordenado pelo Departamento de Justiça independentemente da Casa Branca.
No domingo, o ex-secretário de imprensa, Josh Earnest, disse à rede ABC: “Isso pode ser uma surpresa para o atual ocupante do Salão Oval, mas o presidente dos Estados Unidos não tem autoridade para ordenar unilateralmente escutas de um cidadão americano”.
“Se o FBI decidisse usar sua autoridade de escutas no contexto de contrainteligência ou de investigação criminal, isso exigiria que investigadores do FBI, funcionários do Departamento de Justiça fossem até um juiz federal, e construindo um caso, demonstrassem as causas prováveis para usar essa autoridade a fim de conduzir a investigação. Isso é um fato.”
A única maneira que Obama poderia ter ordenado a vigilância sem passar pelo Tribunal de Vigilância de Inteligência Estrangeira (tribunal de Fisa, sigla em inglês para a Lei de Vigilância da Inteligência Estrangeira) é se não houvesse cidadãos americanos envolvidos.
Neste caso, considerando que o alvo é supostamente a Trump Tower – o que definitivamente envolve cidadãos americanos – isso teria sido difícil de argumentar.
O que é o tribunal Fisa?
A corte de Fisa foi descrita pela CNN como provavelmente “a corte mais poderosa da qual você já ouvi falar”. O tribunal aprova os mandados de vigilância contra “agentes de uma potência estrangeira”, principalmente para o FBI ou a NSA (Agência de Segurança Nacional dos EUA). Qualquer pedido de investigação tem de ser aprovada por 11 juízes.
De onde veio a acusação de grampo?
Rumores de uma ordem concedida sob a Lei de Vigilância de Inteligência Estrangeira estão circulando há algum tempo.
Em 7 de novembro – o dia antes do país ir às urnas –, a ex-parlamentar britânica pelo Partido Conservador Louise Mensch relatou que uma ordem foi aprovada pelo tribunal em outubro.
Segundo Mensch, o pedido tinha a ver com um servidor privado e a atividade entre dois bancos da Rússia. Ela também mencionou – como Trump em seus tuítes – que uma ordem anterior tinha sido recusada. Em janeiro, o repórter Paul Wood, da BBC, ao escrever sobre as denúncias de que o governo russo tinha material comprometedor sobre Trump, disse que também sabia da ordem da Fisa.
De acordo com Wood, a CIA e a NSA solicitaram a permissão para interceptar registros telefônicos de dois bancos russos. A suspeita era que havia dinheiro do Kremlin indo para a campanha presidencial dos Estados Unidos. O pedido teria sido liberado em outubro.
Nem Trump nem seus auxiliares eram mencionados na ordem, informou Wood. O jornal britânico Guardian também mencionou a ordem aproximadamente na mesma época. Nenhum deles cita escutas telefônicas.
A suspeita de grampo não foi mencionada de novo até que Mark Levin, um apresentador de rádio conservador nos Estados Unidos, falasse sobre o assunto na última quinta-feira, quando se referiu ao caso como um “golpe silencioso”.
Seu show foi seguido de um artigo no site conservador de notícias Breitbart na sexta-feira, que fala de escutas telefônicas e “espionagem” solicitadas pela “administração Obama”. Não ficaram claras quais eram as fontes das informações. Nada disso foi confirmado por qualquer autoridade. Os tuítes do presidente Trump foram publicados na manhã seguinte. (AG)