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Por Redação O Sul | 11 de fevereiro de 2018
Mesmo sendo o auge do verão, o início do ano na política brasileira costuma ser frio. Janeiro e fevereiro são, tradicionalmente, meses marcados por começo de mandatos, discretas trocas de ministros e recesso parlamentar. Vem daí a máxima de que, no Brasil, o ano só começa depois do carnaval. Mas aí 2018 chegou e… o ditado foi pro espaço. Em apenas 40 dias já aconteceu tanta coisa que a gente custa a acreditar que o carnaval esteja só começando. As informações são do jornal O Globo.
Muito disso vem, claro, da política. Foi neste janeiro atípico, afinal, que Lula recebeu a condenação em segunda instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex no Guarujá. E a incerteza sobre sua candidatura antecipou movimentos que normalmente ficariam para bem depois da folia. Com a disputa à Presidência ainda aberta, partidos grandes sem candidatos definidos e muita chance de um elemento-surpresa, não há um assessor parlamentar em Brasília com o celular desligado.
“O ano político já começou e só deve terminar mesmo em 31 de dezembro, um dia antes da posse do novo presidente”, diz Rubens Figueiredo, cientista político e diretor do Centro de Pesquisas e Análises de Comunicação. “É um cenário tão peculiar que, mesmo com a economia melhorando, o governo não tem candidato. Esse vácuo antecipa a campanha e gera uma ebulição de conversas, análises, incertezas. A mais recente é a incógnita sobre Luciano Huck.”
Carlos Pereira, cientista político da Fundação Getulio Vargas, concorda que o julgamento de Lula antecipou o xadrez eleitoral. “O jogo foi precipitado pela ameaça de saída do principal jogador.”
Houve alvoroço também na economia, com altas e baixas no mercado financeiro. Veja o caso do Bitcoin. A moeda-sensação de 2017 chegou a valer US$ 20 mil no início do ano. Mas já caiu para menos de US$ 9 mil. Entre tantos sacodes políticos e econômicos, até mesmo o cenário cultural ganhou ares de hard news com ainda mais denúncias de assédio contra poderosos de Hollywood, acompanhadas de réplicas e tréplicas made in France. E, assim, até a temporada de prêmios que antecede o Oscar passou de tediosa a engajada.
O ano está mesmo tão fora de padrão que, depois de prometer que combateria com firmeza as fake news, o Facebook decidiu, em janeiro, reduzir o alcance das páginas de jornais e revistas em sua rede. Virou, ele próprio, assunto entre seus usuários. Em janeiro, aliás, 122 milhões de brasileiros deram as caras por lá. E não faltaram memes sobre o fato de 2018 ter queimado a largada.
Para quem trabalha extraindo piadas do noticiário, sobrou assunto. Redatora do site “Sensacionalista”, Martha Mendonça lembra que o ano começou com a revelação de que juízes como Sérgio Moro e Marcelo Bretas recebem auxílio-moradia vivendo em casa própria, a novela da quase-ex-ministra Cristiane Brasil, a exposição das lucrativas transações imobiliárias da família Bolsonaro e o ex-presidente Fernando Collor “ameaçando assombrar de novo o Planalto”.
Indicada ao Ministério do Trabalho, a deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ) foi impedida pelo STF de assumir a Pasta depois que se descobriu que ela própria era alvo de processo trabalhista. Ela ainda surgiu em um vídeo com amigos descamisados relativizando a Justiça, e também é investigada por suposta associação ao tráfico. Cristiane se diz vítima de difamação
“Só isso já assusta mais que a febre amarela, que também voltou. Mas ainda temos pela frente as eleições mais incertas da História, uma Copa do Mundo, e, pelo menos, mais uns dez clipes da Anitta. O Brasil provou que é capaz até de eclipsar uma rara Superlua Azul de Sangue”, ela brinca, citando o fenômeno astronômico do dia 31 de janeiro.