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Mundo Um falso médico brasileiro que enganou uma cidade argentina ganhava 13 mil reais por mês

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Felipe Nori Haggi Lacerda está preso em delegacia de Cañuelas. (Foto: Reprodução)

A pequena cidade de Cañuelas, localizada a 60 quilômetros de Buenos Aires, na Argentina, se apresenta a quem chega até lá como “uma terra de oportunidades”. A frase escolhida como slogan nem sempre se torna realidade, que o diga o brasileiro Felipe Nori Haggi Lacerda, preso desde a semana passada na pequena delegacia local (atualmente com apenas dois detentos) por ter usurpado a identidade de outro compatriota para ser contratado como médico no precário hospital Angel Marzetti, o único da cidade, onde ganhava, segundo informaram sindicatos locais que o denunciaram, em torno de US$3,6 mil (cerca de R$13 mil).

Depois de ter trabalhado como médico em Cañuelas durante quase um ano, Felipe, que se fez passar por João Peixoto Dos Santos, um médico brasileiro que vive atualmente em Bariloche, foi descoberto, suspenso pelas autoridades do hospital e após negar-se a declarar nos tribunais da pequena cidade argentina, ficou detido por tempo indeterminado, segundo informaram fontes locais.

Além de Felipe, o hospital afastou de seus cargos outros médicos que não apresentaram a documentação necessária para exercer a medicina na Argentina, entre eles a brasileira Thais Soares Costa, cuja presença é aguardada nos tribunais da cidade. O médico brasileiro Renné Alves dos Santos, formado na universidade de Morón (na Grande Buenos Aires), foi suspenso por ter acobertado Felipe e Thais.

O susto em Cañuelas é grande e na sala de espera do plantão hospitalar moradores da cidade temem cair em mãos de outros falsos médicos. “Ficamos todos em choque com essa notícia, mas não temos opção, este é o único hospital da cidade”, contou uma paciente, que preferiu não ser identificada.

Antes de virar uma figura pública e aparecer nos principais noticiários da TV argentina, Felipe já tinha causado sérios problemas. O brasileiro quase foi denunciado por mala praxis pelo pai de um garoto de 15 anos que esteve à beira da morte por um diagnóstico equivocado, contou Daniel Etchadoy, dono do site “Cañuelas Notícias”. Para ele, o caso dos falsos médicos reabriu uma ferida dolorosa. Em 2013, seu filho, que na época tinha 25 anos, faleceu após meses de lutar contra um câncer que médicos de sua cidade nunca detectaram, apesar das reiteradas idas ao hospital com sintomas graves. Um desses médicos é Horácio Cabrera que, anos depois, concorreu à prefeitura da cidade pela aliança governista Mudemos, do presidente Mauricio Macri.

“A medicina em Cañuelas sempre foi um desastre e Felipe provavelmente chegou até aqui por contatos que fazem parte de uma rede de corrupção relacionada ao círculo de médicos da cidade”, disse o jornalista.

A palavra corrupção faz total sentido ao percorrer o hospital da cidade. As falências em matéria de infraestrutura, insumos e capacidade de seus profissionais é evidente e contrasta com os salários pagos e denunciados por sindicatos locais. “Não posso provar, mas para mim está claro que os médicos, falsos e verdadeiros, entregam parte de seus salários aos que conseguem seus empregos”, apontou Daniel.

Suspeita-se que o falso médico obteve um posto com remuneração altíssima e muito acima do que ganha qualquer profissional de hospital público na Argentina graças a Fabiana Pereira, que ocupa um cargo de poder dentro do setor administrativo do hospital. Ela está casada, comentou o dono da “Notícias Cañuelas”, com um policial que conhece o marido de Felipe, o também policial argentino Leandro Acevedo. Na cidade comenta-se que Fabiana foi a encarregada de organizar a festa de casamento de Felipe e Leandro, em abril passado.

Nesse círculo de amor e amizades, Felipe não era João. O documento falso, obtido na época em que Felipe dividia um apartamento com João em Buenos Aires, foi usado apenas para registrar-se como médico. Ao contrário de João, procurado pelo sindicato de Cañuelas antes de apresentar a denúncia sobre os falsos médicos, o brasileiro agora preso não concluiu seus estudos na universidade de Morón.

O caso de Felipe veio à tona em momentos de crescimento expressivo da presença de estudantes brasileiros nas faculdades argentinas, sobretudo de medicina. Calcula-se que o número supera 8 mil. Em cidades do interior como Rosário, na província de Santa Fe, meios locais informaram recentemente que cerca de 2 mil brasileiros se inscreveram na carreira de medicina da universidade regional.

Para completar o que parece verdadeira novela mexicana, o falso médico brasileiro contratou como advogado o argentino Miguel Angel Pierri, famoso por assumir casos midiáticos, entre eles o de um porteiro acusado em 2013 de estuprar e assassinar uma jovem de apenas 16 anos e condenado a prisão perpétua.

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