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Saúde 30% da população global sofre de dor crônica, um problema que não deve ser negligenciado

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Para especialistas, a dor nunca pode ser negligenciada e, com tratamento, é possível reduzi-la. (Foto: Reprodução)

“É da idade”; “acostuma”; “é da sua cabeça”; “é psicológico”. Frases como essas são comumente ouvidas por pessoas que sofrem e reclamam de dores crônicas, sejam elas lombares, musculares, seja cefaleia. Além de nem sempre aparecem em exames, as dores deixam de ser sintomas que indicam alguma doença para serem o problema em si.

No caso das dores de cabeça, por exemplo, o fisioterapeuta Guido Fregapani, membro da Sociedade Brasileira de Cefaleia, explica que apenas 1% delas é sintoma de algo mais grave. O restante é, de fato, só uma dor, o que não a torna mais fraca.

De acordo com o médico Carlos Gropen, presidente da Sociedade para Estudo da Dor do Distrito Federal (SED/DF) e coordenador do Ambulatório de Dor do Hospital Universitário de Brasília (HUB), a dor como sintoma é um conceito antigo. “Hoje, a gente sabe que a dor também é um diagnóstico, é uma alteração no sistema de dor: ela é viva, independentemente de ter outra doença”, afirma.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 30% da população mundial sofre com alguma dor crônica, o que pesa no bolso tanto dos pacientes quanto da sociedade como um todo. Além do aumento da quantidade de medicamentos ingeridos, são pessoas que usam mais serviços de saúde e que acabam ficando precocemente incapacitadas de trabalhar.

Gropen especifica que, no mundo, gasta-se mais com dores crônicas do que com câncer e doenças cardiovasculares. E alerta que dor nenhuma deve ser normalizada ou negligenciada. “Muita gente já ficou sem tratamento por causa de um conceito anacrônico de que dor é apanágio da idade. A gente nunca pode prometer cura, mas, com tratamento, pacientes melhoram muito e podem ter uma vida normal: depende da rapidez de procurar o tratamento e da adesão a ele”, explica.

A dor crônica, por definição, é aquela que persiste ou recorre por mais de três meses. O ortopedista Lúcio Gusmão, especialista em tratamento da dor, explica, no entanto, que uma dor aguda, ou seja, resultante de um trauma ou de um evento, que ele chama de nociceptivo, pode tornar-se crônica se negligenciada. “Uma dor crônica pode já ter sido aguda e, maltratada, ser cronifica”, explica.

Um problema que isola

A psicóloga Maria Júlia Amorim, 24 anos, conta que tem poucos amigos. A vida com dores ensinou que o melhor é manter só os bons, que entendem a condição frágil dela. Infelizmente, foram situações de desrespeito que a fizeram aprender isso. “Eu não conseguia ir a algum evento e a pessoa já achava que eu não queria, que era frescura”, relembra.

Com risco aumentado de hemorragia, acidente vascular cerebral, trombofilia e luxações, ela vive uma rotina cuidadosa. Não é qualquer carga horária de trabalho que pode encarar, ficar o dia inteiro em pé em uma festa está fora de questão. “Nunca consegui acompanhar muito os programas de pessoas da minha idade. É sempre uma questão de ir dosando. Eu não posso fazer um esforço que para outra pessoa é trivial. Ela vai se recuperar rápido, eu vou demorar”, explica.

Ela tem a Síndrome de Ehlers-Danlos, doença rara que afeta o tecido conjuntivo, em especial pele, articulações e paredes dos vasos sanguíneos. Embora na maioria das pessoas o diagnóstico seja tardio, confundido com síndrome fibromiálgica, dores difusas ou até psicossomáticas, o dela veio ainda na infância, por ter nascido com hipotonia muscular.

Teria sido uma sorte, se a condição fosse mais conhecida. Mas não havia muita orientação ou um protocolo de tratamento. Mesmo atualmente, ela passou por situações em que foi descredibilizada e até ofendida. “Em 2019, tive uma luxação e, como estou acostumada a reduzi-la (colocar o osso no lugar), fiz em casa, mas a dor não passou. No pronto-socorro, o médico não acreditou no que eu disse e me acusou de ser viciada em opioides.”

Maria Júlia ressalta que tem opioides em casa que chegam a perder a validade, pois evita ao máximo tomá-los. Depois disso, passou a andar com uma carta do geneticista em que explica a sua condição, para que a palavra dela não fosse mais colocada em dúvida. “Encontrei também médicos muito bons, mas a aceitação de plano de saúde é muito difícil, então, complica bastante”, conta.

Para se fortalecer, precisa de atividade física, mas até isso é perigoso para ela. “Eu já me machuquei muito tentando ficar mais forte em academia.” Atualmente, faz ioga remotamente com uma professora que tem a mesma síndrome e adaptou muitas posições. A alimentação dela é restrita e específica para não piorar os processos inflamatórios pelos quais passa. Terapia é uma constante na vida de Maria Júlia. E, dessa forma, ela modula a própria dor, que diariamente está entre o nível quatro e cinco, de um máximo de 10, ou seja, moderada.

O sistema da dor

O médico Carlos Gropen explica que as dores crônicas são uma doença no controle do sistema de dor. Ela dói, mesmo sem um estímulo, e há dificuldade na modulação desse desconforto. “Se ficarmos apertando durante 20 minutos uma campainha antiga, ela estraga e fica tocando para sempre. É como o sistema da dor. Em geral, o organismo veria que aquela dor não iria agredir e pararia, mas um paciente que tem dor crônica vai sentir aquela dor e ela ficará mais forte”, compara.

“Entre o estímulo nociceptivo, que provoca uma reação noxia, ou seja, estímulo de dor, e a dor, acontece muita coisa, é muito mais complexo. Uma agulha dói, mas e se for a agulha de vacina que você deseja? Até o século 17, a gente tinha uma concepção de dor linear: de que, se pega fogo no pé, um fio levava a dor ao cérebro. Hoje, a gente sabe que não é linear, é muito mais complexo e muitas coisas modulam isso”, explica. Virgínia salienta, no entanto, que fatores emocionais podem modular a dor, mas não causarem a dor. “A dor não é coisa da cabeça de ninguém, ela existe”, afirma.

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