Domingo, 02 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 4 de fevereiro de 2021
O brasileiro está preocupado com o aquecimento global e com impactos ao ambiente no País, em especial com as queimadas dos biomas brasileiros. Considera que a proteção ambiental é mais importante que o crescimento econômico, caso este resulte em algum prejuízo ao ambiente. E entende que cabe principalmente aos governos o papel de conter esses problemas.
É o que revela uma pesquisa do Ibope Inteligência – encomendada pelo Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS) em parceria com o Programa de Comunicação de Mudanças Climáticas da Universidade de Yale – que avaliou qual é a percepção do brasileiro sobre essas questões. Os dados foram obtidos com exclusividade pelo Estadão.
Quando questionados sobre o que consideravam mais importante – se proteger o meio ambiente, mesmo que isso signifique menos crescimento econômico e menos empregos, ou se promover o crescimento econômico e a geração de empregos, mesmo que isso prejudique o meio ambiente –, 77% dos entrevistados ficaram com a primeira alternativa e 14% com a segunda. Não souberam ou não responderam 8%.
Anthony Leiserowitz, diretor do programa de Yale, que faz esse tipo de pesquisa de opinião pública sobre o tema já há mais de uma década nos Estados Unidos, afirmou ao Estadão que o dado também é consistente com o que eles já observaram nos EUA e em outros países. “A maioria das pessoas entende em algum nível que uma economia saudável depende de um ambiente saudável. Destruir o meio ambiente é uma receita para a dor a longo prazo”, diz.
Para Rosi Rosendo, diretora de contas do Ibope Inteligência, responsável pela pesquisa, a alta prioridade dada à proteção ambiental, mesmo em detrimento ao crescimento econômico, “é coerente com a percepção que as pessoas têm sobre o aquecimento global e a preocupação que têm com o ambiente”. Ela destaca dois pontos do levantamento: 78% consideram o aquecimento global um tema muito importante e 61% disseram que estão muito preocupados com o meio ambiente em geral.
É quase unânime entre os brasileiros a percepção de que o aquecimento global está acontecendo (92%) e cerca de oito em cada dez consideram que ele é causado principalmente pela ação humana (77%). A maioria também acredita que o aquecimento global pode prejudicar muito as gerações futuras (88%), mas teme também por si mesmos e suas famílias (71%) no curto prazo.
Na última pesquisa desse tipo feita por Yale nos EUA, divulgada em setembro do ano passado, 63% dos americanos se disseram preocupados com o aquecimento global – o número, porém, esconde diferenças regionais gritantes. Enquanto no condado de São Francisco, na Califórnia, a preocupação é de 79%, em Loving County, no Texas, é de apenas 39%.
No Brasil, a diferença mais significativa ocorreu por idade e nível de educação. A importância ao tema foi maior entre os mais jovens e mais escolarizados. Por outro lado, apenas 25% disseram entender muito sobre o assunto.
Responsabilidade
O levantamento revelou também que os brasileiros, em sua maioria, acreditam que as queimadas cresceram nos últimos dois anos (82%), que são causadas por ação humana (77%), que a responsabilidade por elas é de madeireiros, pecuaristas e agricultores (69%, somados os três setores) e que prejudicam a imagem do Brasil no exterior (84%).
Tanto para este problema quanto para o do aquecimento global, os entrevistados consideram que cabe principalmente ao governo resolvê-los. No caso das mudanças climáticas, 35% disseram que os governos são quem mais pode contribuir para resolver o problema. Para 32%, são as empresas e indústrias; para 24%, os cidadãos, e 4% disseram ser as ONGs.
Já no caso das queimadas na Amazônia, 54% apontaram os governos como quem mais pode lidar com a questão, 21% disseram que são os cidadãos; 15%, as empresas, e 6%, as ONGs.
“As pessoas veem o que se está acontecendo e se importam, mas tomar responsabilidade sobre isso é um passo seguinte que depende de educação e acesso à informação, coisas que não estão dadas. Proteger o ambiente, todos querem, mas o que é preciso fazer para isso, as pessoas ainda não sabem. Muitos apontam seu papel como cidadão, como reciclar, usar menos o carros, as coisas mais caricatas do perfil, mas as mudanças climáticas são bem mais complexas que isso”, afirma Fabro Steibel, diretor executivo do ITS.
A associação do Rio, que encomendou a pesquisa, é formada por professores e pesquisadores de diversas instituições do Brasil, que investigam o impacto social, jurídico, cultural e político das tecnologias de informação e comunicação. “Acho que ainda tem um distanciamento entre eu me preocupar com o clima e o que faz um político pelo clima. A responsabilização do político ainda é subjetiva para as pessoas”, sugere Steibel.
Na pesquisa, de fato 74% dos entrevistados disseram que costumam separar o lixo para reciclar, 59% disseram que deixam de comprar ou usar algum produto que prejudique o meio ambiente.