Quarta-feira, 26 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 5 de fevereiro de 2021
O fim do pagamento do auxílio emergencial já afetou as vendas de supermercados e lojas de material de construção em janeiro e influenciou um saque recorde de recursos da caderneta de poupança. Iniciado em abril, o benefício destinado a trabalhadores informais e desempregados para aliviar os efeitos da pandemia na renda injetou mais de R$ 290 bilhões na economia.
Analistas preveem um primeiro trimestre de queda no varejo e freio na atividade econômica do país com o fim dos pagamentos.
No mês passado, os saques na caderneta de poupança superaram os depósitos em R$ 18,2 bilhões. Janeiro costuma ser um mês de resgates na poupança, para pagar as despesas de início do ano como IPVA e IPTU.
Mas este ano a perda foi recorde, a maior já registrada desde 1995, quando teve início a série histórica, como reflexo do fim do auxílio.
“Devemos ter um trimestre fraco, até mesmo com queda nas vendas. Além da falta do auxílio, temos um cenário de inflação alta, regressão na reabertura do comércio em algumas cidades e um alto número de desempregados”, diz o economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), Fábio Bentes
Ele acrescenta que o cancelamento do carnaval deve agravar o cenário: “O carnaval do ano passado movimentou cerca de R$ 8 bilhões. Este ano, teremos um pequeno movimento de turismo nacional, mas não teremos turistas estrangeiros vindo para cá, nem brasileiros indo para fora e gastando em agências de viagem. Vamos notar um menor consumo de bebidas e outros produtos vendidos nesta época, além de redução no comércio de fantasias”.
Impacto na indústria
Os supermercados tentam driblar o freio nas vendas em negociações com fornecedores. Mas também a indústria já sente o impacto. Ao divulgar seu balanço anual de 2020, a Unilever, multinacional de higiene, limpeza e alimentos, informou na quinta-feira que seu resultado foi afetado no quarto trimestre pela queda do auxílio.
Com a redução à metade do benefício pago aos trabalhadores a partir de setembro, o volume de recursos injetados pelo programa na economia, que chegou a superar R$ 45 bilhões mensais em julho e agosto, caiu para R$ 17 bilhões em dezembro.
“Sem o auxílio, a melhor estratégia é ampliar o sortimento de produtos. Se o arroz está mais caro, temos que ter bom sortimento de macarrão, por exemplo”, comenta Fábio Queiroz, presidente da Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro (Asserj).
A rede de supermercados Princesa prevê impacto ao longo deste mês. Na atacadista Assaí, a expectativa é que as compras no atacado passem a ser mais buscadas por quem tenta economizar e, por isso, a marca mantém seu plano de expansão, que prevê inaugurar até 28 lojas no país.
Entre os distribuidores, há avaliação de que seus clientes, no caso as redes varejistas, estão mais apreensivos.
“Sentimos um pouco de impacto em janeiro, apesar de não ser tão claro em função das férias coletivas que a indústria costuma dar. Há uma preocupação das empresas em fazer caixa para um próximo momento emergencial que possamos vivenciar por conta da pandemia”, resume Leonardo Miguel Severini, presidente da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (Abad).