Segunda-feira, 05 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 14 de fevereiro de 2022
Secretário-geral das Organização das Nações Unidas (ONU), o português António Guterres avalia que chegou o momento de abrandar o clima que envolve a crise entre Rússia e Ucrânia. “Agora é a hora de acalmar as tensões e acabar com a escalada das ações em terra”, declarou o dirigente nesta segunda-feira (14). “Não há lugar para retóricas incendiárias.”
O lusitano fez a afirmação em entrevista a repórteres em Nova York (Estados Unidos), logo após almoçar com representantes dos Estados-membros do Conselho de Segurança da ONU. “As declarações públicas devem ter como objetivo reduzir as tensões, não inflamá-las”, acrescentou.
A manifestação se deu em um momento no qual as autoridades norte-americanas alertam para um risco iminente de ataque russo ao país vizinho. O governo de Moscou deslocou mais de 100 mil soldados para as imediações de fronteira com o Leste da Ucrânia e tem tropas mobilizadas em Belarus, que também faz divisa, ao Norte. Moscou , por sua vez, nega qualquer plano de invasão.
Trégua possível
Com o começo de uma semana decisiva para a crise, o governo de Vladimir Putin emitiu sinais de abertura diplomática ao Ocidente. Mas o alarmismo do outro lado só aumentou, com os Estados Unidos movendo sua embaixada da capital, Kiev, para a cidade de Lviv, no Oeste do país.
Para alguns analistas políticos europeus, a posição do líder de Moscou reforça as suspeitas de quem acredita que ele quer dizer que está pronto para a guerra mas que, na verdade, não pretende iniciar um conflito.
Já em um raciocínio inverso, vocalizado por críticos do russo principalmente nos Estados Unidos e no Reino Unido, há o temor de que ele só esteja ganhando tempo para preparar uma ação militar.
“Seja qual for a verdade, a sinalização foi dupla, dada por ministros de seu governo em encontros televisionados no Kremlin, ou seja, houve a intenção de passar um recado público”, observou um comentarista de geopolítica da rede britânica BBC.
O chanceler Serguei Lavrov disse que a Rússia deve continuar negociando com o Ocidente e que “há possibilidade de um acordo”. Ele afirmou ao chefe que o governo norte-americano apresentou “propostas concretas” para reduzir as tensões, mas que a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, aliança militar que conta com a participação dos Estados Unidos) e a União Europeia ainda não seguiram tal caminho.
Após falar que a Rússia “não deveria ser enrolada pelo Ocidente em suas demandas” (que basicamente são manter a Ucrânia fora da Otan e limitar a posição militar de ex-repúlicas soviéticas que aderiram ao bloco após 1999), ele foi ao ponto:
“Creio que há sempre chance de um acordo. E me parece que nossas possibilidades estão longe de terem sido exauridas. Neste ponto, eu sugiro que continuemos a trabalhar nelas”.
Na sequência, Putin recebeu Serguei Choigu (Defesa), que jogou em dois campos. No da diplomacia, informou que “parte de nossos exercícios militares já está acabando”, uma senha que pode significar alguma desescalada.
Desde novembro, Putin concentrou cerca de 130 mil soldados em torno da Ucrânia, incluindo aí 30 mil em manobras agora na Belarus e um exercício naval que começou sua fase ativa nesta segunda (14) no mar Negro.
Se as tropas efetivamente voltarem a seus quartéis de origem, Putin poderá dizer que apenas fez o prometido e o Ocidente, cantar alguma vitória.
O Pentágono, por outro lado, disse não ter visto nem um sinal claro de retirada. E acrescentou que o apoio que Putin recebe da China de Xi Jinping no caso ucraniano é “extremamente alarmante”, nas palavras do porta-voz Jack Kirby. Para quem gosta de um enredo apocalíptico de Terceira Guerra Mundial, foi a primeira referência clara dos EUA contra a aliança Putin-Xi, estabelecida formalmente há duas semanas.
Por outro lado, Choigu alertou para um incidente do fim de semana, quando forças russas baseadas em Vladivostok localizaram um submarino americano rondando águas territoriais de Moscou no Pacífico. O Pentágono negou que sua embarcação tenha sido afastada por um destróier russo, conforme circulou na imprensa moscovita, mas o caso mostra que a tensão está em todo canto.