Domingo, 04 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 24 de abril de 2023
Prevista para ser instalada nesta quarta-feira (26), a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos extremistas já tem seus cargos-chave cobiçados por diferentes setores do Congresso. A base do governo, que quer mirar no ex-presidente Jair Bolsonaro e não descarta convocá-lo para depor, tem o desejo de que o senador Renan Calheiros (MDB-AL) seja o relator. Por outro lado, parlamentares do “blocão” do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), recusam o nome de Calheiros e defende um deputado do grupo na presidência do colegiado. A preferência é pelo deputado Arthur Maia (União-BA).
A relatoria da CPI mista é um posto estratégico porque cabe ao parlamentar que exerce a função definir os rumos do colegiado. Entre as funções do relator estão elaborar o plano de trabalho, que trará a previsão de pessoas que serão convocadas e convidadas e as linhas de investigação que a comissão pretende mirar. Parlamentares governistas não escondem o desejo de convocar Bolsonaro.
Já o presidente é quem dita o ritmo dos trabalhos, responsável por conduzir os depoimentos e estabelecer quais requerimentos serão ou não votados no colegiado.
O deputado Rogério Correia (PT-MG), que chegou a apresentar um pedido de CPI sobre o mesmo tema na Câmara, disse que o ex-presidente é “o principal interessado e articulador” dos ataques.
“Oito de janeiro foi uma tentativa de golpe articulada pela ultra direita após a derrota eleitoral. Desde a tentativa de impedir a diplomação, com ataques inclusive à sede da PF em Brasília, a minuta do golpe para depor o TSE e as concentrações consentidas por generais golpistas nos quartéis . O principal interessado e articulador foi Bolsonaro. Terá de depor na CPMI”, disse o petista.
A avaliação de obrigar Bolsonaro a falar à CPI mista também é compartilhada por outros deputados do PT, como Rui Falcão e Jilmar Tatto. Além de Bolsonaro, outros alvos que já são consenso da base são Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, e os financiadores dos atos golpistas.
Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro e pregaram um golpe contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O governo tentou impedir a instalação da CPI mista para evitar que os manifestantes reverberassem versões contra o Palácio do Planalto. A mudança aconteceu após a divulgação de vídeos em que o ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) Gonçalves Dias aparece em contato com invasores dentro do Planalto. Os vídeos foram revelados pela “CNN Brasil” e causaram a saída de Dias do cargo.
O senador Omar Aziz (PSD-AM), que evita dizer se irá participar ou não da CPMI, disse que o natural é que Torres e Gonçalves Dias sejam os primeiros a serem ouvidos. Quanto a ouvir outras pessoas e em que momento, Aziz disse que isso vai depender das investigações.
Para integrar a CPMI, o Planalto pretende reescalar o time que comandou a CPI da Covid do Senado em 2021. Renan Calheiros, Randolfe Rodrigues, Omar Aziz estão entre os prováveis nomes do novo colegiado. Deputados como Lindbergh Farias (PT-RJ) e André Janones (Avante-MG) também têm interesse em fazer parte da tropa de choque do governo.
Em relação à relatoria, Renan evita falar sobre a participação dele na CPMI, mas integrantes da base de Lula não escondem a preferência pelo seu nome. O líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que ter o emedebista na relatoria “seria o melhor” para o Poder Executivo. Lindbergh também chegou a citar o nome do senador na relatoria.
“Estou lá conversando muito (no Senado). Aquela turma que esteve à frente da CPI da Covid toda quer participar. Renan Calheiros quer participar. Pode ser, quem sabe, um bom relator”, disse o petista.
Já o bloco de Lira na Câmara, que tem PP, União Brasil, PDT, PSDB, Cidadania, Solidariedade, Avante, Patriota e PSB, mira em conquistar a presidência da comissão. Os líderes desses partidos se reuniram na semana passada e trataram sobre a indicação de André Fufuca (PP-AL) para um dos cargos de comando do colegiado. O deputado é o líder do PP na Casa.
Lira, contudo, vem manifestando reservadamente o entendimento de que Fufuca não seria a melhor escolha por ser próximo do ministro da Justiça, Flávio Dino. Neste sentido, ele trabalha pela nomeação de Arthur Maia (União-BA), que foi convocado pelo líder do seu partido, Elmar Nascimento (União-BA), a fazer parte da CPMI no fim de semana.
Ainda não há definição se o relator será alguém da Câmara ou do Senado. Caso a função seja exercida por um deputado, a presidência da CPMI ficará com um senador e vice-versa.