Segunda-feira, 12 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 11 de maio de 2023
O economista Nouriel Roubini, que ganhou notoriedade por antever a crise financeira de 2008, vê chances de o Brasil ser uma “boa história de sucesso” no mundo, pois o “superciclo” de commodities deve continuar na próxima década. Para aproveitar os ventos favoráveis, ainda que pesem temores de recessão, que foram agravados pela recente turbulência bancária nos Estados Unidos e na Europa, o País deve fazer a lição de casa: tocar a agenda de reformas que priorizem a estabilidade de políticas macroeconômicas e um maior crescimento à frente.
Quanto ao novo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Roubini, que dá aulas na Stern School of Business da Universidade de Nova York, vê o ímpeto “populista” e “radical” do petista contido por três forças principais: o Congresso Nacional, o empresariado e o mercado.
“O Lula 4, considerando Lula 1 e 2 e Dilma 3, tem uma retórica que parece muito mais com a Dilma, mas eu penso que será contida por vários fatores”, disse o economista a jornalistas, após falar a CEOs brasileiros em evento organizado pelo Citi, em Nova York (EUA).
O primeiro fator é que o governo não detém a maioria no Congresso, o que impede que uma pauta de perfil mais radical avance. Além disso, o setor empresarial brasileiro monitora cada passo da gestão Lula, e o mercado dá o troco quando as coisas não vão bem – os spreads sobem, a moeda enfraquece e os investidores partem em retirada. Goste ou não, disse ele, o País estará sujeito à disciplina do mercado, que pode ser colocada à prova ao tomar caminhos que abalem a confiança corporativa ou o crescimento econômico, avaliou Roubini.
“Espero que essas três restrições limitem alguns dos excessos do populismo, dado que, na verdade, alguns dos fatores globais vão em favor do Brasil”, avaliou, detalhando suas projeções para a continuidade do superciclo de commodities na próxima década. Ele também defendeu a autonomia do Banco Central, o aperto monetário de forma a estabilizar a inflação e a importância da rigidez fiscal.
“O Brasil é a maior economia da América Latina e pode ser uma boa história de sucesso nos próximos anos, desde que tenha estabilidade de políticas macroeconômicas e não faça coisas que prejudiquem crescimento potencial”, disse.
Nos bastidores do evento promovido pelo Citi, o movimento do governo Lula contrário à privatização da Eletrobras foi criticado. “Reduzir ou desacelerar algumas privatizações pode ser aceitável, revertê-las não é”, disse Roubini a uma plateia formada por nomes como o presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira Jr., o presidente da Vale, Eduardo Bartolomeo, e o banqueiro Marciano Testa, fundador do Agibank.
No encontro, Roubini fez o que sabe de melhor: traçou cenários e os riscos para as principais economias na atualidade. Ele acaba de lançar um livro sobre as dez maiores ameaças globais. Para o economista, o mundo atual é “incomum, sem precedentes, inesperado e incerto”. Da plateia, respondeu a questões sobre riscos à hegemonia do dólar.
“Hoje, todo mundo fala de ameaças à hegemonia do dólar, talvez, com razão, e as pessoas estão começando a falar do yuan e de outras moedas de mercados emergentes como uma alternativa”, disse o economista, mencionando ainda a possibilidade de aumento de negócios entre o Brasil e a China, possivelmente em yuan.