Sábado, 18 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 10 de julho de 2023
As linhas de frente permanecem estagnadas, com ambos os lados entrincheirados. Mas, enquanto os russos reforçavam suas posições, os ucranianos apostavam no fornecimento de armas ocidentais sofisticadas para romper o impasse. O avanço, no entanto, não saiu como esperado.
A contraofensiva ucraniana começou há menos de um mês, mas autoridades ocidentais já se queixam que ela está aquém das expectativas. Até o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, reconhece que o avanço caminha “mais devagar do que o desejado”.
O ritmo lento da contraofensiva, mesmo com o arsenal ocidental, se explica pelo fato de os sistemas modernos exigirem treinamento extenso para sua operação, o que significa que poderão desempenhar um impacto mais importante nos próximos meses.
Washington destinou canhões Howitzer, de artilharia, além de 90 blindados Stryker para transporte de soldados, mais de 100 blindados Bradley e a promessa de enviar 31 tanques Abrams, que possuem blindagem mais forte e sistemas mais avançados do que os veículos de combate da Ucrânia. Cerca de 200 soldados ucranianos iniciaram um programa de treinamento de 12 semanas na Alemanha para aprender a operar os tanques, no começo de junho, e estarão prontos para o combate no início de setembro.
Os EUA também forneceram armas com alcance de até 4,8 quilômetros, incluindo 4 mil mísseis TOW que podem ser lançados de Humvees, e peças de artilharia de 105 milímetros, que trocam potência e alcance por facilidade de transporte, o que simplifica sua movimentação no campo de batalha. Outras armas, incluindo um trio de sistemas antiblindados – Javelins, AT4s e lançadores Carl Gustaf –, são destinadas para soldados de infantaria terrestre atacarem veículos.
Na verdade, o ritmo arrastado do avanço ucraniano não é nenhuma surpresa. No passado, poucas ofensivas avançaram tão rápido quanto a Operação Tempestade no Deserto, que só foi possível em virtude da vantagem tecnológica que os EUA tinha sobre o Iraque, nos anos 90.
Antes da guerra terrestre começar no Golfo, em 1991, os americanos passaram mais de cinco semanas castigando os iraquianos com mísseis de cruzeiro Tomahawk e bombas lançadas de B-52. Só depois as forças terrestres puderam dominar o terreno.
Nenhuma dessas opções se faz presente para os ucranianos, que não têm superioridade aérea nem capacidade de contornar e cercar os russos, que se estendem por um front de 965 quilômetros. A única opção seria avançar por dentro da Rússia e atacar o inimigo pela retaguarda, mas o combate dentro do território russo foi vetado pelos EUA e pela Otan.
A única vez nesta guerra que os russos foram pegos de calças curtas foi durante o ataque-surpresa em Kharkiv, em setembro, que libertou mais de 2.850 quilômetros quadrados em poucos dias. Uma façanha difícil de replicar. Mais típica foi a contraofensiva ucraniana que levou mais de dois meses para libertar a cidade de Kherson.
A atual missão da Ucrânia é mais difícil porque a Rússia mobilizou mais homens e instalou fortificações e campos minados. Os ucranianos estão avançando em terreno aberto e plano, na direção das posições russas conhecidas como Linha Surovikin (em homenagem a um general russo que supostamente soube com antecedência que a insurreição Wagner ocorreria).
Os ucranianos avançam devagar porque tentam conter suas baixas – algo com que os comandantes russos sedentos de sangue não se importam. Dificilmente qualquer força militar ocidental se sairia melhor sem superioridade aérea.
Os ucranianos tentam limitar suas perdas obstruindo linhas de abastecimento russas com ataques de longo alcance, utilizando os mísseis britânicos Storm Shadow. Foi um deles o responsável por destruir a ponte que liga a Crimeia à Província de Kherson.
“Os mísseis Storm Shadow surtiram efeito significativo no campo de batalha”, confirmou o secretário da Defesa britânico, Ben Wallace. Mas leva tempo para que o impacto contra as linhas de abastecimento seja sentido em termos de escassez de munição e combustível no front, segundo ele.
A maioria das nove brigadas de assalto treinadas e equipadas pelo Ocidente nem sequer entrou na batalha. “O evento principal ainda está por vir”, afirma o ministro da Defesa ucraniano, Oleksii Reznikov. Os meios de comunicação russos destacam as derrotas ucranianas, que resultaram na perda de alguns tanques Bradley e Leopard 2, de fabricação alemã. Especialistas acreditam, porém, que a vasta maioria dos blindados ocidentais ainda permaneça intacta.
Alguns equipamentos americanos também têm sido mal conservados, segundo militares ucranianos, a ponto de necessitar de reparos antes de serem colocados em funcionamento. Muitos sistemas simplesmente tiveram componentes canibalizados.
Há também bastante equipamento que o governo americano se recusou a fornecer, como os caças F-16, que permitiriam que os ucranianos defendessem suas tropas de ataques de helicópteros russos Ka-52. Os aviões ainda podem chegar da Europa no outono – tarde demais para influenciar a atual contraofensiva. Os tanques Abrams também chegarão tarde demais para esta temporada de combates. Além disso, faltam aos ucranianos veículos de detonação de minas e equipamentos de construção de pontes para atravessar trincheiras.
Ainda que Washington diga que os ucranianos “têm em mãos o que precisam para ser bem-sucedidos”, isso pode não ser verdade. Se eles vencerem, terá sido apesar das limitações de equipamento e treinamento. Se a ofensiva não romper as linhas russas, terá sido porque eles não receberam as armas necessárias. As informações são dos jornais O Estado de S. Paulo e The New York Times.