Domingo, 02 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 13 de outubro de 2023
O investimento em segurança cibernética sempre esteve no topo da agenda das lideranças de tecnologia de bancos, fintechs, bandeiras, credenciadoras e outros players do setor. Mesmo assim, o uso crescente de plataformas digitais para realizar pagamentos, transferências e outras operações vem sendo acompanhado por uma escalada de fraudes e golpes – dos mais simples aos mais sofisticados.
Não à toa, a partir de 1º de novembro, instituições financeiras e demais autorizadas a funcionar pelo Banco Central (BC) terão de compartilhar entre si dados e informações sobre indícios de fraudes. A medida consta da resolução conjunta CMN/BC nº 6, publicada em maio. Na semana passada, inclusive, o órgão editou uma regulamentação que detalha como deverá funcionar esse compartilhamento entre as empresas.
Ao mesmo tempo em que se preparam para cumprir as novas regras, as instituições também ampliam o arsenal de soluções e ferramentas para prevenir as fraudes. As estratégias incluem utilização de reconhecimento facial, biometria comportamental e algoritmos de inteligência artificial (IA) e machine learning para a detecção de padrões suspeitos. Em outra frente, as companhias apostam em campanhas para educar os clientes em relação ao assunto.
No Mercado Pago, banco digital do Mercado Livre, a tecnologia de machine learning é usada para detectar padrões de fraudes há mais de 12 anos, conta Fabiana Saenz, diretora de inteligência antifraude do Mercado Pago. “Tecnologia é imprescindível para combater as fraudes. No nosso caso, por exemplo, estamos fazendo uso de IA generativa para 47 projetos”, afirma a executiva, citando que a empresa reúne cerca de 1,5 mil pessoas dedicadas à área de segurança.
Na visão dela, o trabalho de educação digital é peça fundamental para a diminuição na ocorrência de fraudes. A engenharia social, método usado por criminosos para induzir as vítimas a realizar determinada transação, é um dos principais problemas que levam o consumidor de serviços financeiros a ter prejuízo, diz Fabiana. “Fazemos alertas dentro do aplicativo e temos um blog e uma landing para orientar os usuários a não clicar em links enviados por mensagem”, exemplifica.
Segundo Adriana Umeda, diretora-executiva de risco da Visa no Brasil, tempos atrás havia “pouca mobilização das instituições” para falar de fraudes, o que mudou conforme a indústria foi observando que é essencial conscientizar a população em relação aos cuidados. “Percebemos que não falar do assunto era dar mais munição para os fraudadores. Então, a Abecs tem feito uma série de vídeos educativos, por exemplo”, aponta Umeda. A própria Visa tem trabalhado com influenciadores e diversas audiências para abordar o tema da segurança.
Os executivos e especialistas destacam, ainda, a importância da atuação conjunta e colaborativa entre as empresas do setor para avançar no combate às fraudes. O compartilhamento de informações previsto na norma publicada pelo BC é um movimento nessa direção. “Enxergo que as IFs [instituições financeiras] e IPs [instituições de pagamento] precisam se conectar justamente para dar mais eficiência ao ecossistema”, avalia Christian Vincent, diretor comercial da Núclea (antiga CIP), provedora de infraestrutura bancária e de pagamentos.
A companhia, responsável pelo registro e liquidação de boletos no Brasil, vem trabalhando para conectar todos os bancos e, assim, criar barreiras para que os fraudadores não consigam sacar o dinheiro roubado. “O ponto é a celeridade das instituições. O dinheiro saiu de uma conta e foi para outra; então, precisa ser rapidamente retido antes do saque pelo fraudador. Então, estamos criando um ‘marketplace’ para conectar os bancos.”
Para Caio Rocha, diretor de produtos de autenticação e prevenção à fraude da Serasa Experian, é necessário ter uma abordagem de autenticação contínua e por camadas. “Significa deixar de autenticar por foto para autenticar por filme, ou seja, analisar o comportamento do consumidor em toda a jornada dentro da instituição”, diz o executivo. De acordo com uma pesquisa divulgada recentemente pela Serasa, o setor de “bancos e cartões” é o alvo preferencial dos criminosos, respondendo por 5 em cada 10 tentativas de fraudes – ou uma ocorrência a cada 6 segundos.
Um dos principais desafios de bancos e fintechs, ainda, é equilibrar a segurança com a experiência do usuário, lembra Danilo Barsotti, CTO da idwall, plataforma de verificação de identidade, gestão de riscos e onboarding digital. “Fazer um processo inteligente, com pouca fricção e que mantenha a segurança, traz a sensação de mais confiança para o cliente.” As informações são do jornal Valor Econômico.