Por Redação O Sul | 20 de novembro de 2025
Qualquer alteração incomum deve ser discutida com um farmacêutico ou médico.
Foto: FreepikPara muitas pessoas, o dia só começa após a primeira xícara de café. Reconfortante e energizante, a bebida é uma das mais consumidas no mundo. No entanto, embora pareça inofensivo, o café pode interagir com diversos medicamentos, reduzindo sua eficácia ou aumentando o risco de efeitos adversos. O chá também contém cafeína, mas em concentração menor — e, em geral, provoca impactos menos intensos.
A seguir, veja como o café pode interferir em diferentes tipos de medicamentos e o que fazer para evitar problemas.
Medicamentos para resfriado e gripe
A cafeína é um estimulante do sistema nervoso central. A pseudoefedrina, presente em descongestionantes usados em gripes e resfriados, como o Sudafed, também é estimulante. Quando consumidos juntos, os efeitos podem se intensificar, causando nervosismo, dores de cabeça, palpitações e insônia.
Muitos desses remédios já incluem cafeína na fórmula, o que aumenta o risco de efeitos indesejados. Há evidências de que a combinação pode elevar a glicemia e a temperatura corporal, o que exige atenção especial de pessoas com diabetes.
Os mesmos cuidados valem para medicamentos usados no tratamento do TDAH, como anfetaminas, e para remédios para asma, como a teofilina, que é quimicamente semelhante à cafeína. A associação pode levar a taquicardia e distúrbios do sono.
Medicamentos para tireoide
A levotiroxina, principal tratamento para hipotireoidismo, é sensível ao horário de ingestão. Estudos mostram que beber café logo após tomar o medicamento pode reduzir a absorção em até 50%.
Segundo especialistas, a cafeína acelera o trânsito intestinal e pode se ligar ao medicamento no estômago, reduzindo sua biodisponibilidade. A queda na absorção pode fazer com que sintomas de hipotireoidismo — como fadiga, ganho de peso e constipação — retornem mesmo com o uso adequado da medicação.
A recomendação é esperar entre 30 e 60 minutos para tomar café após ingerir levotiroxina. A mesma orientação vale para remédios contra osteoporose da classe dos bifosfonatos, como alendronato e risedronato.
Antidepressivos e antipsicóticos
A interação entre cafeína e medicamentos psiquiátricos pode ser complexa. Em antidepressivos como sertralina e citalopram (ISRSs), estudos laboratoriais sugerem que a cafeína pode se ligar ao medicamento no estômago e reduzir sua absorção.
No caso dos antidepressivos tricíclicos, como amitriptilina e imipramina, o alerta é maior. Esses remédios são metabolizados pela enzima CYP1A2, a mesma que processa a cafeína. A competição pode retardar a metabolização dos antidepressivos, aumentando seus efeitos colaterais, ou prolongar a ação da cafeína, levando a agitação e ansiedade.
A clozapina, antipsicótico de uso controlado, também é metabolizada pela CYP1A2. Um estudo mostrou que o consumo de duas a três xícaras de café pode elevar em até 97% os níveis da substância no sangue, aumentando o risco de sedação excessiva, confusão e outras complicações.
Analgésicos
Alguns analgésicos de venda livre, como os que combinam aspirina ou paracetamol com cafeína, podem ter seus efeitos acelerados quando ingeridos próximos ao café. A bebida aumenta a acidez estomacal e acelera o esvaziamento gástrico, o que pode intensificar a absorção.
Embora esse efeito possa tornar a ação mais rápida, também aumenta o risco de irritação estomacal ou sangramentos, especialmente para quem consome outras fontes de cafeína ao longo do dia.
Medicamentos para o coração
A cafeína pode elevar temporariamente a pressão arterial e a frequência cardíaca por até quatro horas após o consumo. Em pessoas que usam remédios para hipertensão ou arritmias, esse efeito pode contrabalançar a ação do tratamento.
Isso não significa que quem tem problemas cardíacos deve abandonar o café, mas é essencial observar como o organismo reage e considerar reduzir a ingestão ou optar por versões descafeinadas, se necessário.
Como evitar problemas?
O café pode continuar fazendo parte da rotina, desde que consumido com atenção. Entre as principais recomendações estão:
• Tomar levotiroxina e bifosfonatos com o estômago vazio e aguardar de 30 a 60 minutos antes de ingerir café.
• Redobrar o cuidado ao usar descongestionantes, remédios para asma, TDAH, antidepressivos e antipsicóticos.
• Conversar com o médico sobre o consumo de cafeína caso use medicamentos para pressão arterial.
• Considerar reduzir a ingestão se houver sinais como palpitações, inquietação ou insônia.
