Quinta-feira, 05 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 14 de março de 2024
O Brasil está ajustando os detalhes finais de um plano de resgate para companhias aéreas, à medida que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta um desafio que os Estados Unidos e a Europa tiveram que lidar logo após a pandemia.
O pacote, a ser anunciado nos próximos dias, usará fundos públicos como garantia para empréstimos a empresas aéreas em dificuldades do banco de desenvolvimento do país (BNDES), de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto.
O plano, contudo, ainda está indefinido e espera-se que seja mais uma solução paliativa do que uma cura para toda a indústria.
Reduzir as tarifas o suficiente para permitir que os mais pobres voem regularmente se tornou um grande foco de Lula, que fez campanha com a promessa de restaurar a prosperidade na maior economia da América Latina.
O alto custo do combustível de aviação no Brasil é um fator complicador, com a Petrobras sob pressão para reformular sua política de preços.
A inação do antecessor de Lula após a covid empurrou as companhias aéreas domésticas à beira do colapso.
O novo governo tem enfrentado dificuldades para concordar com um caminho a seguir e, quando a Gol pediu recuperação judicial no final de janeiro, a questão subiu para o topo da agenda.
Agora, a Azul está explorando uma possível oferta de aquisição para sua concorrente em dificuldades.
O valor exato da ajuda ainda está sendo determinado. Alguns dentro do governo estão pressionando por até R$ 8 bilhões, enquanto o Ministério da Fazenda prefere um valor mais próximo de R$ 5 bilhões, de acordo com duas pessoas familiarizadas, que falaram sob condição de anonimato porque as discussões são privadas.
“As companhias aéreas não receberam ajuda do governo durante a pandemia e em algum momento você tem que pagar o preço”, disse Ygor Araujo, analista da Genial Investimentos, em uma entrevista.
Segundo sua estimativa, um resgate do tamanho em consideração poderia aliviar as pressões de fluxo de caixa por seis a oito meses, mas não seria suficiente para reduzir as tarifas por si só.
Além dos altos custos de combustível, as companhias aéreas brasileiras estão enfrentando atrasos na produção de novas aeronaves, incerteza jurídica e um número extremamente alto de processos judiciais envolvendo clientes insatisfeitos.
Elas aumentaram os preços para compensar os custos crescentes, com as tarifas subindo quase 50% em dezembro em relação ao ano anterior.
O presidente tem sido especialmente vocal sobre sua insatisfação com a situação. “Não há explicação para o preço das passagens aéreas neste país”, disse Lula em um evento no estado do Amapá naquele mês, acrescentando que algumas passagens para a região norte custam até R$ 10 mil.
Muitos da classe trabalhadora estão levando-o a sério e aguardando resultados. Dulce da Conceição, uma empregada doméstica há mais de 35 anos em Brasília, está ansiosa por passagens aéreas mais baratas para poder visitar sua família no nordeste com mais frequência.
“Seria muito melhor ir de avião do que de ônibus”, disse ela em uma entrevista.
As companhias aéreas têm ouvido muitas críticas sobre a questão. Em um fórum do setor em São Paulo na semana passada, o diretor executivo da Azul, John Peter Rodgerson, disse que as empresas enfrentaram repreensões semanais do governo ao longo de 2023, à medida que as tarifas aumentavam.
Seus colegas da Latam Airlines e Gol admitiram no mesmo evento que os altos preços estão dificultando o acesso às viagens.
Mas apenas retomar empréstimos do BNDES, o banco de desenvolvimento, provavelmente não será suficiente para reduzir os preços para o consumidor.
“A linha do BNDES não resolve o problema, pois não seria usada para subsidiar passagens, mas sim ajudar com as questões de liquidez das empresas”, disse Carolina Chimenti, analista de crédito da Moody’s Investors Service, que destacou as taxas de câmbio e os custos de combustível como outras questões-chave.
Apesar do processo de recuperação judicial, a Gol afirma que ainda é elegível para a linha de crédito do BNDES. A companhia aérea não respondeu a um pedido de comentário.
A Latam confirmou que está em negociações com o governo sobre formas de reduzir as tarifas, afirmando em comunicado por e-mail que vê o aumento no fornecimento de assentos e a redução dos custos estruturais como requisitos-chave.
E a Azul acredita que o setor não está crescendo tão rápido quanto deveria no Brasil, citando comentários de Rodgerson.
O CEO disse na época que uma linha de crédito doméstica poderia mitigar as flutuações cambiais e, em última análise, ajudar a aumentar a capacidade.