Quarta-feira, 26 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 11 de abril de 2024
Após dois meses seguidos de inflação mais alta que o esperado, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de março trouxe alívio, desfazendo temores de que a dinâmica da inflação pudesse voltar a piorar.
O indicador oficial da inflação brasileira ficou em 0,16% em março, após alta de 0,83% em fevereiro. O dado veio abaixo da mediana das expectativas colhidas pelo Valor Data, de 0,24%, e perto do piso das projeções, que ia de 0,15% a 0,34%.
No acumulado em 12 meses, a inflação caiu a 3,93% em março, ante 4,50% em fevereiro. Já no acumulado do ano, a alta é de 1,42%.
Seis das nove classes de despesas registraram desaceleração na passagem do mês, com destaque para alimentação e bebidas (de 0,95% para 0,53%) e educação (de 4,98% para 0,14%). O primeiro respondeu por aproximadamente 70% da inflação cheia de março. Já o segundo refletiu o fim das pressões dos reajustes escolares.
Outro destaque de queda ficou no grupo transportes, que passou de 0,72% para -0,33%, fortemente influenciado por passagens aéreas, que caíram pelo terceiro mês seguido. “Pode estar relacionado ao fim desse período de férias, como redução dos preços de querosene de aviação no fim de 2023”, afirmou André Filipe Guedes Almeida, gerente do IPCA no IBGE.
Do outro lado, vestuário e despesas pessoais mostraram aceleração dos preços.
Para analistas, os dados de março mostraram melhora disseminada e ajudam a afastar o risco de reaceleração dos preços.
“Dá certo conforto de que a piora da inflação do começo do ano tenha sido pontual, ou seja, não muda a tendência de inflação estável ou ligeiramente para baixo”, avalia Vitor Martello, economista-chefe da Parcitas. “Para fins de política monetária, afasta cenários de cauda como o de que o BC possa interromper o ciclo de queda da Selic ainda nos dois dígitos.”
“O que a gente observa agora em março é que esse repique inflacionário foi sazonal e vemos uma tendência de queda da inflação. Não só os dados cheios vieram melhores que o esperado, mas, quando fazemos uma leitura qualitativa dos dados, observamos uma abertura melhor e mais positiva”, destaca a economista-chefe do Banco Inter, Rafaela Vitória.
A média dos cinco núcleos do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) monitorados pelo Banco Central caiu para 0,15% em março, de 0,50% em fevereiro, segundo cálculos da MCM Consultores. Já a taxa de difusão das altas de preços caiu de 57,0% para 55,7%.
Ela observa, contudo, que a dinâmica dos serviços segue como ponto de atenção.
“Os serviços subjacentes estão ali na casa de 0,45%, o que ainda é um patamar alto”, diz Vitória. Após o dado, o banco deve baixar ligeiramente sua estimativa para o IPCA em 2024 de 3,80% para algo em torno de 3,70%.
Para o economista-chefe da G5 Partners, Luis Otavio Leal, o patamar alto em que as leituras da inflação de serviços estacionaram pode atrapalhar o objetivo do BC de inflação de 3% no fim do ano.
“A grande pergunta é: se os serviços não desacelerarem, o que vai acontecer com a inflação quando esses bens industriais deixarem de ficar em 0,56%? Se os serviços não tiverem voltado, isso pode ser um problema lá na frente.”
Nas contas de Martello, a inflação de serviços continua rodando em patamares condizentes com um fechamento de 2024 perto de 5%. Isso faria com que o IPCA cheio encerrasse o ano perto de 4%. “Com esses números, o BC não deveria levar a Selic para 9%, como aponta a mediana da pesquisa Focus, ressalta.
Outro alerta que Martello faz é para a dinâmica dos preços voláteis nos próximos meses. “Alguns preços de atacado sinalizam pressão para abril e maio, como alimentos e combustíveis. Por mais que a Petrobras não tenha repassado a alta do petróleo no exterior, já vemos pressão, por exemplo, no etanol. E sabemos que, quando alimentos e combustíveis sobem, dificilmente o IPCA cheio não acusa o mesmo”, lembra. As informações são do jornal Valor Econômico.