Segunda-feira, 05 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 9 de janeiro de 2016
Até o amor entrar no casamento, por volta de 1940, praticamente não havia separações. Elas só começaram a ocorrer quando as expectativas a respeito da vida a dois mudaram. Antes, bastava o marido ser provedor e respeitador; a esposa, boa dona de casa, boa mãe e mulher respeitável.
Ninguém, então, se decepcionava e, portanto, não se pensava em separação. Quando a escolha do cônjuge passou a ser por amor, o casamento ganhou um novo significado: realização afetiva e prazer sexual. Se isso não ocorre, elas se separam.
O psicoterapeuta José Ângelo Gaiarsa, após 50 anos de experiência em consultório, arriscou algumas estatísticas sobre casamento: “Acho que existem 2% de bons casamentos. Uns 15 ou 20% dos casamentos diria que são aceitáveis, dá para ir levando, têm suas brigas, seus atritos, têm seus acertos, suas compensações. Na minha estimativa, 80% são de sofríveis para precários e péssimos. A vida em comum é muito ruim para a maioria das pessoas”.
Um estudo americano concluiu que, desde cedo, somos levados a acreditar que a vida só tem graça se encontrarmos um grande amor. Acredita-se tanto que só é possível ser feliz tendo alguém do lado que muitos pagam qualquer preço por isso.
A ideia de felicidade através do amor no casamento influi na intensidade da dor na separação. Antes da Revolução Industrial as famílias eram extensas – pai, mãe, filhos, primos, tios, avós – e as exigências emocionais eram divididas por todos os membros que viviam juntos. A família nuclear (pai, mãe e filhos), reduz a troca afetiva a um número pequeno de pessoas, favorecendo a simbiose e sobrecarregando marido e mulher como depositários das projeções e exigências afetivas do outro.
Como vivemos em uma época em que cada um busca desenvolver ao máximo suas possibilidades pessoais e sua individualidade, a dor da separação é, portanto, bem menor do que há 40 anos. “Nesse sentido, vê-se nas pessoas que se separam a partir da segunda metade do século 20, a consciência da necessidade de reconstruir sua identidade, de restabelecer novos propósitos de vida. Não cabe mais chorar tanto um casamento perdido porque ainda se tem a si mesmo como objeto a ser realizado e vivido”, diz a terapeuta de casal Purificacion Barcia Gomes.
Mesmo assim, durante a separação geralmente surgem uma profunda insegurança e o medo do desconhecido, constituindo o núcleo daquele “sentir” de onde emergem as mil e uma razões para adiar, não decidir, não querer ver.
“Ambos temem que a separação seja um capricho do qual se arrependerão na solidão da vida futura. Eles têm a sensação não só de jogar fora anos de vida passados em comum, como de destruir com um só golpe tantos projetos comuns feitos com entusiasmo”, diz o psicoterapeuta Edoardo Giusti.
Mas temos que levar em conta que, em muitos casamentos, as pessoas não se separam porque dependem um do outro emocionalmente, precisam do parceiro para não se sentir sozinhos e para que ele seja o depositário de suas limitações, fracassos, frustrações e também para responsabilizá-lo pela vida tediosa e sem graça que levam.
Mas nem todos se desesperam quando o vínculo conjugal se rompe. Quando um dos parceiros comunica ao outro que quer se separar, aquele que de alguma forma não deseja isso pode sofrer em um primeiro momento e pouco depois sentir que lucrou bastante com o fim do casamento. A aquisição de uma nova identidade – agora não mais vinculada ao ex-marido – pode proporcionar uma sensação de renascimento. (Regina Navarro Lins/AD)