Terça-feira, 06 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 5 de maio de 2025
Previsões apontam que o percentual de idosos irá superar o de crianças em 2031.
Foto: ReproduçãoA população brasileira está envelhecendo cada vez mais e muito rápido. Acentuada a partir da década de 1970, a transição demográfica é fruto da queda simultânea nos indicadores de natalidade, fecundidade e mortalidade que persiste até hoje. O Brasil ocupa a sexta posição no ranking dos países com as maiores populações acima de 65 anos e o fenômeno acontece de forma bem mais acelerada do que aconteceu nos países desenvolvidos, como França e Reino Unido.
Previsões apontam que o percentual de idosos irá superar o de crianças em 2031. A tendência na ciência é apontar como conciliar longevidade e envelhecimento saudável. “Estamos falando em longevitalidade, que é o aumento na esperança de vida, sim, mas com menos eventos, como câncer e doenças cardiovasculares. Uma novidade é que fatores associados a valores morais, quadro mental, grau de interação na sociedade e espiritualidade também demonstraram estarem por trás da vida longa”, diz Álvaro Avezum, diretor de pesquisa do Centro de Ciência para a Longevidade, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, que lidera um estudo global sobre o assunto envolvendo 28 países.
“Os dados mostram que ter um propósito de vida, por exemplo, aumenta a expectativa em 17%. Sentir satisfação com a vida, por sua vez, eleva a esperança em 12%. Por outro lado, a mortalidade cresce 29%” entre aqueles que sofrem de solidão”, emenda o médico.
A cidade de Veranópolis, na Serra Gaúcha, detém o título de “Cidade Amiga do Idoso”, concedido pela Organização Mundial de Saúde (OMS), desde 2016. O município foi o primeiro do Brasil – entre os 32 atuais – a conquistar o selo, tornando-se referência em envelhecimento saudável. Por volta de 25% dos seus moradores são idosos. A prefeitura informou que, em 2026, irá inaugurar um day care com capacidade para 50 pessoas na faixa 60+ e está em obras para ampliar a principal instituição de longa permanência da cidade. A gestão de Veranópolis também apoia eventos culturais, como os tradicionais bailes da terceira idade que acontecem aos finais de semana.
“Precisamos mudar a perspectiva cultural de ver o envelhecimento como adoecimento. Os estudos mostram que é perfeitamente possível envelhecer estudando, contribuindo com a sociedade e se engajando na comunidade, o que incentivamos com os projetos. Aqui, temos mulheres no pós-60 entrando para a universidade pela primeira vez”, diz Willian Dornelles, secretário de Desenvolvimento Social do município.
A PUC-Campinas, primeira universidade sul-americana a ingressar na rede global Universidade Amiga da Pessoa Idosa, abraçou a longevidade como eixo estratégico do planejamento de longo prazo. A meta da instituição é desenvolver uma cultura positiva de envelhecimento e combater o idadismo.
“Infelizmente, o preconceito existe, e afeta o bem-estar dos indivíduos. A forma como vemos a velhice precisa mudar. A busca pelo envelhecimento saudável não passa só pela dobradinha exercício físico e alimentação saudável, mas pelo preparo necessário das pessoas para lidar com seu próprio envelhecimento e o do outro”, diz Mariana Reis, coordenadora do Vitalità, centro de longevidade da universidade que atende 400 pessoas por semana.
Uma das iniciativas mais bem-sucedidas do núcleo são as oficinas gratuitas. Nas aulas de longevidade digital, que começaram na pandemia para inserir os idosos nas atividades on-line, os participantes aprendem a usar aplicativos, computadores e cuidar da segurança dos seus dados pessoais na rede. Já nas oficinas de empreendedorismo – as mais requisitadas -, o público tem acesso a consultoria para abertura de pequenos negócios.
Apesar das vantagens trazidas pela possibilidade de viver mais, a velocidade da transição demográfica preocupa a maioria dos especialistas. Para Michelle Queiroz, diretora-executiva da Rede Longevidade, a transição vem sobrecarregando, sobretudo, o sistema de saúde público e a Previdência Social. (Com informações do Valor)