Quinta-feira, 08 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 7 de maio de 2025
Em um momento em que o agronegócio brasileiro é pressionado por tensões comerciais internacionais e incertezas domésticas, lideranças políticas e do setor produtivo se reuniram em São Paulo para debater os rumos do setor. Durante o evento Cenário Geopolítico e a Agricultura Tropical, realizado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), um cenário complexo foi traçado.
O deputado federal Pedro Lupion (Progressistas-PR), presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), alertou para a crescente dependência brasileira em relação ao comércio com a China. “Tenho receio muito claro de uma possibilidade desse processo (possível acordo comercial entre EUA e China), pois cerca de 52% das nossas commodities vão para a China.”
Segundo ele, qualquer mudança na balança entre China e EUA pode provocar um “terremoto” no agronegócio brasileiro. A preocupação vem especialmente diante da possibilidade de negociações bilaterais entre as duas potências, que poderiam colocar o Brasil em desvantagem. Ainda assim, o deputado defende a manutenção de uma relação sólida com os chineses.
Presidente da CNA, João Martins também mostrou preocupação com um possível acordo entre as duas maiores potências econômicas do mundo. “Nesse caso, o agronegócio brasileiro vai pagar um preço alto”, afirmou. De acordo com Martins, quando há um acordo entre dois grandes países, outra nação perde, e, neste caso, será o Brasil.
Para a diretora de relações internacionais da CNA, Sueme Mori, é improvável o retorno ao cenário comercial global préguerra tarifária entre EUA e China, declarou a “Sabemos que o presidente (dos EUA, Donald) Trump disse que os aumentos seriam uma forma de compensar a redução de impostos internos”, explicou. Mesmo neste caso, Sueme reforça que não se trata de um retorno à normalidade, mas de um alívio parcial.
Apesar dos riscos, Sueme diz acreditar que o Brasil tem condições de se adaptar aos diferentes desdobramentos do cenário global. “O Brasil tem uma capacidade única de atender a demandas específicas.”
O ex-secretário de Comércio Exterior Welber Barral disse que oportunidades abertas em mercados que vão retaliar as barreiras comerciais dos EUA devem impulsionar a produção de grãos no Brasil. Por outro lado, ponderou, os produtos brasileiros podem encontrar mais obstáculos num mundo com mais barreiras ao comércio, não apenas nos EUA.
Barral projetou que até 2030 o Brasil vai responder por 60% da produção global de soja, se aproveitando das retaliações aos EUA. Já a produção brasileira de milho deve subir para 90 milhões de toneladas no mesmo período, na esteira do consumo gerado pelo aumento da renda em economias como Índia e mercados asiáticos.
Os desafios, observou, são colocados pela perspectiva de mais barreiras tanto comerciais quanto ambientais, em especial na Europa, em paralelo à maior ocorrência de eventos climáticos extremos.
Acordo comercial
Sobre as negociações de um acordo comercial com a União Europeia (UE), o presidente da FPA diz que há barreiras que ainda precisam ser vencidas. “Estamos negociando, principalmente com o sul da Europa, para tentar desfazer essas narrativas (de desmatamento) impostas pela UE”, afirmou Lupion, se referindo às exigências ambientais cada vez mais rígidas impostas pelo bloco.
Apesar das pressões externas, de acordo com a senadora e ex-ministra da Agricultura, Tereza Cristina, os maiores desafios do agro ainda estão dentro de casa. “Não dá para, toda vez, chegarmos no meio do ano negociando para ver o que sobrou do orçamento.”
Ela defende um modelo de financiamento com previsibilidade e planejamento plurianual. “O Brasil é o grande concorrente dos EUA, mas o problema é a falta de infraestrutura e armazenagem. Hoje temos três safras, mas só um terço da produção é financiada pelo governo. O resto vem das tradings e dos próprios produtores”, disse. “Além disso, não temos seguro rural efetivo. Isso não pode continuar sendo adiado. Precisamos de uma política estruturada.” Com informações de O Estado de S. Paulo.