Quinta-feira, 22 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 21 de maio de 2025
A queda nos nascimentos se dá em todas as regiões do Brasil, com exceção do Centro-Oeste
Foto: ReproduçãoEm 2023, pelo quinto ano seguido, o Brasil registrou queda no número de nascimentos, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Foram registrados 2,5 milhões de nascimentos em cartórios País afora, uma queda de 0,7% em relação a 2022. Não bastasse isso, o índice de registros foi o menor desde 1976.
A queda nos nascimentos se dá em todas as regiões do Brasil, com exceção do Centro-Oeste, onde, entre 2022 e 2023, houve aumento de 1,1% no número de registros de brasileiros nascidos vivos.
Por unidade da Federação, a tendência de queda se comprova na maioria (18), com destaque para Rondônia (-3,7% de registros), Amapá (-2,7%) e Rio de Janeiro (-2,2%). Em São Paulo, o recuo foi de 1,7%. Tocantins (+3,4%) e Goiás (+2,8%) figuram entre a minoria de Estados (nove) com aumento nos números de nascimentos.
Combinados, a taxa de fecundidade abaixo do nível de reposição (que é de dois filhos por casal) e o recuo no total de mulheres em fase reprodutiva exigem atenção especial das autoridades.
No mundo desenvolvido, a queda de nascimentos e o envelhecimento da população representam um desafio para a gestão dos sistemas previdenciário, de educação e saúde, entre outros. No Brasil, um país marcado pela baixa produtividade no trabalho e pelo mau desempenho dos estudantes em exames nacionais e internacionais de aprendizagem, a questão ganha contornos ainda mais dramáticos.
De acordo com projeções divulgadas anteriormente pelo IBGE, a população brasileira terá seu ápice em 2041 – serão 220 milhões de habitantes. A partir daí, passará a diminuir, chegando a 199 milhões até 2070.
Tal padrão já é realidade em países como o Japão, bem como em outros da União Europeia. Ao contrário do Brasil, porém, esses países já alcançaram um alto padrão de desenvolvimento, educação e prosperidade econômica e social. Tanto japoneses quanto europeus desfrutam de índices de produtividade no trabalho superiores aos brasileiros, além de ostentarem níveis médios de desempenho educacional bem melhores do que os nossos.
Por isso, estão mais preparados para lidar com o desafio da queda da natalidade acompanhada do envelhecimento populacional e podem lidar melhor com ferramentas tecnológicas, como a inteligência artificial (IA), seja para manter, seja para aprimorar a produtividade. Ademais, a tecnologia não raro é empregada para criar serviços para uma população que envelhece.
Por mais que hoje, no mundo, exista uma forte ideologização contra imigrantes, esses países estão em uma posição privilegiada para atrair mão de obra estrangeira qualificada, que será necessária tanto para compensar a queda no número de nascimentos quanto para atender um contingente crescente de idosos.
Já o Brasil, que antes do fim deste século deixará a lista dos dez países mais populosos do mundo – atualmente estamos na sétima posição –, está envelhecendo antes de se desenvolver e distribuir bem entre seus cidadãos os frutos do progresso.
Levantamento recente do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) mostrou que 29% dos brasileiros entre 15 e 64 anos são analfabetos funcionais, ou seja, mesmo escolarizados não conseguem interpretar textos ou fazer contas ligeiramente mais complexas. É imperativo melhorar a qualidade da educação brasileira, além de criar condições para que os cidadãos sejam digitalmente letrados. Só assim o País poderá ampliar sua produtividade e assegurar um crescimento econômico sustentado.
Sem solidez econômica, o País dificilmente conseguirá promover as adequações necessárias na área da saúde, por exemplo. A longevidade humana é uma extraordinária conquista civilizatória, mas exige preparo para lidar não apenas com as enfermidades que acometem os mais velhos, como também com as limitações impostas pela idade mais avançada.
E ainda há o desafio nada trivial da Previdência pública. Com menos brasileiros em idade de trabalho e mais cidadãos com direito à aposentadoria, o sistema atual prova-se cada vez menos sustentável.
Preso à mediocridade, o Brasil que envelhece e, em breve, passará a encolher pode pagar um preço muito caro se não atentar para os números do IBGE e começar a agir.
(Opinião jornal O Estado de S. Paulo)