Sábado, 24 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 23 de maio de 2025
Um amplo estudo encontrou um risco reduzido em 7% de desenvolver 14 tipos de câncer relacionados à obesidade entre usuários de agonistas de GLP-1, classe à qual pertence medicamentos muito usados hoje para diabetes e perda de peso, como Ozempic, Wegovy e Mounjaro. As descobertas foram divulgadas na quinta-feira pela Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, na sigla em inglês), que abordará o trabalho em sua reunião anual em Chicago no fim do mês.
O estudo foi financiado pelos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês) e liderado pelo pesquisador da Escola Grossman de Medicina, da Universidade de Nova York, Lucas A. Mavromatis. Em comunicado, o autor afirma que “embora a obesidade seja agora reconhecida como uma causa cada vez mais importante de câncer, nenhum medicamento comprovadamente reduz o risco de câncer associado à obesidade”.
“Nossos resultados sugerem que eles (os agonistas de GLP-1) podem reduzir modestamente a chance de desenvolver determinados tipos de câncer, especialmente os de cólon e reto, e reduzir as taxas de morte por todas as causas”, continua Mavromatis.
O estudo é do tipo observacional, ou seja, analisa dois desfechos, neste caso o uso dos análogos de GLP-1 e a incidência de câncer, e busca uma relação entre eles. Ainda que possam encontrar associações importantes, trabalhos do tipo não conseguem confirmar se tratar de uma relação de causa e efeito, pois pode mascarar outros fatores envolvidos.
“Esses dados são tranquilizadores, mas são necessários mais estudos para comprovar a causalidade”, reforça Mavromatis.
O trabalho analisou dados de 170.030 pacientes com diabetes e obesidade inscritos em 43 sistemas de saúde dos EUA. Em média, eles tinham 56,8 anos e um IMC de 38 kg/m². Entre 2013 e 2023, cerca de metade começou um tratamento com os agonistas de GLP-1, e os demais com inibidores de DPP-4 – um fármaco para diabetes que não induz a perda de peso.
Ao avaliar a incidência de câncer em ambos os grupos durante um período de cerca de 4 anos de tratamento, o pesquisador observou que aqueles que recebiam os remédios da classe do Ozempic tiveram um risco 7% menor de desenvolver um tipo associado à obesidade, e 8% inferior de morrer por qualquer causa em relação aos que tomaram os inibidores de DPP-4. Na prática, como ambos os grupos tinham 85.015 pessoas, o uso dos agonistas de GLP-1 foi associado a 170 menos casos de câncer.
No entanto, quando considerados os gêneros, o estudo apontou que a diferença não era estatisticamente relevante entre os dois grupos. Já para as mulheres, o risco de câncer caiu 8%, e o de morte 20%, entre as que usavam os agonistas de GLP-1.
De modo específico, o trabalho destaca que os medicamentos parecem oferecer uma proteção principalmente para tumor de intestino e retal, que tiveram uma diminuição de 16% e 28%, respectivamente, nos casos.
“Atendo muitos pacientes com obesidade e, dada a clara ligação entre câncer e obesidade, é importante definir o papel clínico dos medicamentos GLP-1 na prevenção do câncer. Embora esse estudo não estabeleça a causa, ele sugere que esses medicamentos podem ter um efeito preventivo”, avalia Robin Zon, presidente da Asco, em nota.
Como próximos passos, os pesquisadores esperam acompanhar os pacientes com diabetes por um período mais longo do que quatro anos para continuar a analisar o risco e também conduzir novas investigações sobre as chances de desenvolver câncer em pessoas que tomam agonistas do receptor de GLP-1 e não têm diabetes.
Veja a lista dos 14 tipos de câncer associados à obesidade:
– Adenocarcinoma do esôfago;
– Mama (em mulheres que passaram pela menopausa);
– Intestino;
– Reto;
– Útero;
– Vesícula biliar;
– Parte superior do estômago;
– Rins;
– Fígado;
– Ovários;
– Pâncreas;
– Tireoide;
– Meningioma (um tipo de câncer cerebral) e
– Mieloma múltiplo.
As informações são do jornal O Globo.