Quarta-feira, 28 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 25 de maio de 2025
O Banco Mundial classifica o Chile como uma economia de renda alta. Segundo Relatório de Desenvolvimento Mundial 2024, mais de cem países, incluindo Brasil, China e Índia, enfrentam obstáculos no esforço de se tornarem países de renda alta – aqueles com PIB per capita anual a partir de US$ 13.845. Ainda conforme o relatório, o Chile, com PIB per capita de US$ 15.800 (ante US$ 9.280 do Brasil), atingiu esse patamar ao incentivar a transferência de tecnologias do exterior, usando-as para impulsionar a inovação interna.
Segundo o economista da Universidad de Chile, Roberto Álvarez, o país começou a apresentar crescimento significativo a partir de 1986. “Acredito que o período de ouro da nossa economia começou com Patricio Aylwin (presidente entre 1990 e 1994) e terminou no primeiro governo de Michelle Bachelet (2006-2010). Foi a época em que a antiga Concertação (coalizão de centro-esquerda) governou o país”, afirma o acadêmico. Os anos da coalizão também incluem os presidentes Eduardo Frei Ruiz-Tagle (1994-2000) e Ricardo Lagos (2000-2006).
Números do Banco Mundial mostram que durante o governo de Aylwin, o primeiro após o período militar (1973-1990), o PIB cresceu a uma média de 7,3% ao ano. Já no governo seguinte, de Frei Ruiz Tagle, esse crescimento foi de 5,7%. Nos primeiros anos da década de 2000, apesar de crises pontuais, o Chile continuou a crescer.
Joaquín Vial, vice-presidente do Banco Central do Chile entre 2012 e 2022, destaca que as altas taxas de crescimento na década de 90 e no começo dos anos 2000 se devem a políticas econômicas muito importantes que deram resultado. Sobre a classificação do Banco Mundial, Vial explica que ela segue certos critérios e estes são utilizados para todos os países. “Particularmente, acho que o Chile é um país de renda média-alta. Ainda temos muitos problemas, como a má distribuição de renda”, diz.
Reformas e crise durante a ditadura
De acordo com o site “Memória Chilena”, o projeto de Salvador Allende (1908-1973), presidente deposto pelo golpe de Estado liderado por Augusto Pinochet (1915-2006), era criar um socialismo por vias democráticas e seu programa contemplava a construção de um Estado popular que tivesse uma economia planificada de estilo estatal. Tudo isso em um contexto de Guerra Fria e com os Estados Unidos agindo para tirar Allende do poder. Em 1972, vários sindicatos, como os de transportes, paralisaram as atividades, e começou a ocorrer desabastecimento de artigos de primeira necessidade no país.
“O governo Allende foi uma desgraça do ponto de vista econômico. Após o golpe (em 1973), começaram a ser feitos ajustes, mas no geral, os primeiros anos da década de 70 foram de queda do PIB. Aí vieram as reformas que começaram no período militar. Basicamente, houve uma liberação de preços, uma abertura da economia e a liberalização de mercados”, explica Vial. Ainda segundo o economista, que hoje é professor na Universidad Católica de Chile, isso deu espaço para um crescimento bastante importante, foram feitas apostas interessantes, até que veio uma crise financeira e empresarial, entre 1982 e 1983, que atingiu violentamente o país.
País ainda desigual
Instrumento utilizado para medir a desigualdade social dos países, o Coeficiente Gini também é usado pelo Banco Mundial. Segundo os números mais recentes divulgados pela instituição, o coeficiente do Chile em 2022 foi de 0,43, cifra melhor do que em 2011, que foi de 0,47 (o índice vai de 0 a 1 e, quanto mais próximo de 0, menor é a desigualdade no país). Em 2000, esse índice havia sido de 0,53 e dez anos antes, de 0,57. O país, então, está menos desigual?
Lições chilenas
Questionado se o Chile poderia ensinar algo ao Brasil no campo econômico, Roberto Álvarez acredita que sim, ainda que haja muitas diferenças entre os dois países. “Acredito que o Brasil tem um espaço significativo para se integrar à economia global. É um país grande, diverso, mas tem o histórico de proteger setores específicos da economia, como o industrial e o manufatureiro.” Um exemplo disso são os altos impostos cobrados em importações.
Para o economista, outro problema que o Brasil enfrenta é a corrupção, o que “gera ineficiência, além de criar uma imagem negativa para os investidores internacionais que poderiam estar interessados no país”, afirma o economista da Universidad de Chile. Com informações de O Estado de S. Paulo