Quarta-feira, 26 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 26 de julho de 2025
O ser humano nunca viveu tanto. No Brasil, a expectativa de vida ao nascer chegou a 76,4 anos em 2023, de acordo com o IBGE. Nos anos 1970, ela não passava de seis décadas. Mas viver mais, e melhor, não é uma sorte do acaso. Na verdade, é resultado de uma equação matemática em que a trajetória ao longo da vida pesa, e muito.
“Cerca de 20% dos fatores que determinam a forma como envelhecemos são genéticos, e cerca de outros 20% ligados ao ambiente. Mas o que é mais importante para uma longevidade com saúde, que influencia em mais de 50%, é o estilo de vida”, explica João Senger, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Feevale, no Rio Grande do Sul, e diretor do Centro de Estudos em Envelhecimento Instituto Moriguchi.
Nem todo mundo adota bons hábitos cedo. Para alguns, a preocupação com alimentação saudável e exercícios físicos passa longe. Outros, mesmo quando querem, não conseguem tempo para se cuidar. Com isso, muitos chegam aos 50 sem nunca ter seguido um bom estilo de vida e pensam se ainda dá tempo.
A medicina responde que ainda vale. Incorporar bons hábitos pode, independentemente da idade, prolongar a vida e melhorar sua qualidade, explica Alessandra Tieppo, diretora da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia:
“Esses hábitos, mesmo adotados tardiamente, vão ajudar a retardar ou até reverter alguns processos. Atividade física melhora a perda muscular. Alimentação balanceada ajuda a controlar doenças crônicas como diabetes, hipertensão e colesterol alto. Conexões sociais, buscar novos aprendizados cultivar hobbies são práticas que ajudam a evitar depressão, declínio cognitivo”, aconselha a geriatra.
Os especialistas reconhecem que mudanças no estilo de vida não são simples. Por isso, recomendam pequenas modificações que, ao longo do tempo, motivam outras e se tornam práticas de longo prazo.
“Temos comportamentos que não são superados da noite para o dia, por isso a importância da implementação gradual. Com o tempo, as mudanças se tornam enraizadas”, diz Bruno Gualano, presidente do Centro de Medicina do Estilo de Vida da USP.
O alerta é especial para os homens, que costumam dar menos atenção à saúde, lembra Milton Crenitte, geriatra e diretor técnico do Centro Internacional de Longevidade Brasil. Segundo o IBGE, enquanto a expectativa de vida da mulher é de 79,7 anos no Brasil, a do homem é de 73,1.
“As mulheres tendem a aderir mais a mudanças de estilo de vida porque se cuidam mais. É importante alertar sobre hábitos nocivos que, às vezes por conta de um machismo, muitos homens repercutem.”
Para quem quer maior longevidade, o primeiro passo ideal é a atividade física, segundo uma pesquisa sobre envelhecimento que já dura mais de 30 anos no Instituto Moriguchi, conta Senger:
“O fumante que faz exercícios tem menos danos pelo cigarro. O obeso, menos danos pelo excesso de peso. A atividade física ameniza todos os outros processos e puxa outros bons hábitos. O obeso percebe que o excesso de peso atrapalha. O fumante vai ver que fica mais cansado do que o colega.
Gualano afirma que não há um sistema no corpo que não responda ao exercício, do cardíaco ao cerebral.”
“Para quem nunca fez, a primeira dica é começar de alguma forma, sem pular degraus. Fazer algo dentro do condicionamento que o indivíduo tem. Pode ser em uma academia, um esporte, ou simplesmente um lazer, como andar com o cachorro, passear no parque, ir e voltar do trabalho a pé ou de bicicleta. Isso já vai condicionar a pessoa com o tempo. É importante não pensar em tirar todos os anos de atraso na primeira semana.”
Um ponto-chave, conta Crenitte, é que a atividade inicial seja prazerosa para que se torne um hábito. “Não precisa, no início, ter uma meta muito ousada. A OMS recomenda pelo menos 150 minutos de atividade física moderada por semana. Mas, se eu começar com essa meta, pode ser que fique triste, frustrado, acabe desistindo. O que se conseguir fazer no começo já está ótimo”, diz.
Alessandra reforça ainda que a ideia de que há uma atividade física ideal leva muitas pessoas, especialmente idosos, a acreditarem que só podem fazer exercícios como hidroginástica, de menor impacto. O problema é que, mesmo sendo uma boa alternativa, não é o que todo mundo gosta, explica a geriatra:
“Às vezes buscamos atividades que já fizemos no passado ou práticas que sempre despertaram curiosidade, como uma luta, uma dança. O importante é que seja algo que se adapte à sua realidade. Hoje, temos pacientes que começam até mesmo corrida, luta marcial, com 60, 70 anos.” As informações são do jornal O Globo.