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Colunistas Hipocrisia à beira da Amazônia: ou escolhemos a biodiversidade ou seguimos com o petróleo

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(Foto: Roni Moreira/Ag. Pará)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Em um momento em que o Brasil se prepara para sediar a COP30 em Belém, assumindo o protagonismo nos debates climáticos globais, surge uma decisão que expõe uma contradição gritante. O Ibama autorizou a Petrobras a perfurar um poço exploratório na chamada Margem Equatorial, no litoral do Amapá, próximo à foz do Rio Amazonas.

Essa escolha é um acinte ao discurso de “transição energética” que o Brasil pretende liderar – e evidencia a hipocrisia entre retórica ambiental e prática petrolífera.

Explorar petróleo justamente numa região extraordinariamente sensível – onde os rios da Amazônia despejam água doce nos oceanos, alimentando ecossistemas marinhos, mangues e recifes – é não apenas irresponsável, mas uma quebra de confiança com a agenda climática. A região da Bacia da Foz do Amazonas abriga biodiversidade incalculável e uma dinâmica natural que neutraliza carbono e regula clima global. Transformá-la em plataforma de petróleo é acelerar riscos para o clima e a vida.

Enquanto nações como a Guiana e a Venezuela avançam com exploração fóssil na região com menor credibilidade ambiental, o Brasil – que poderia escolher outro caminho – insiste no velho script do petróleo. Essas escolhas têm consequências: a diplomacia climática, a confiança internacional e o papel brasileiro como potência verde ficam em xeque.

Não é difícil prever que esse passo poderá custar caro. O Brasil se coloca como porta-voz da preservação da Amazônia, da bioeconomia e da justiça climática. Mas, na prática, o país se volta à prospecção de combustíveis fósseis, repelindo o futuro que promete liderar. Essa incoerência mina não só a credibilidade da COP30, mas enfraquece a transição global que o Brasil deveria ajudar a comandar.

A Petrobrss ainda argumenta que a fase autorizada é exploratória, sem produção imediata. Mas mesmo isso não elimina os riscos: perfuração em águas profundas é complexa, vulnerável a vazamentos e impactos irreversíveis – já alertados por técnicos do Ibama meses antes.

Ao mesmo tempo, com a COP30 se aproximando, o Brasil tem tudo para virar uma história de sucesso:

– Potencial para liderar bioeconomia, com a Amazônia como “fábrica viva” de carbono inverso;

– Matrizes de energia já majoritariamente renováveis – impulso para geração distribuída, solar, eólica e biogás;

– Uma narrativa geopolítica favorável para captação de investimentos em economia verde, tecnologia e inovação.

No entanto, a escolha entre insistentemente extrair petróleo ou investir na biodiversidade e na inovação sustentável é clara – e urgente.

Se queremos que o Brasil seja potência verde, não basta dizer – é preciso agir. Se o mundo vir que sediamos uma COP e autorizamos exploração fóssil em área tão estratégica, a sensação será de espetáculo diplomático vazio, não de virada real. As metas de 2030 e 2050 dependem de escolhas concretas agora, não apenas de discursos em conferência.

A hora da decisão é esta: ou seguimos reforçando infraestrutura fóssil ou abraçamos a biodiversidade, a renovação, o futuro. O Brasil tem talento, natureza e urgência. O petróleo pode esperar – a vida não.

(Renato Zimmermann – Desenvolvedor de Negócios Sustentáveis e Ativista pela Transição Energética)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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https://www.osul.com.br/hipocrisia-a-beira-da-amazonia-ou-escolhemos-a-biodiversidade-ou-seguimos-com-o-petroleo/ Hipocrisia à beira da Amazônia: ou escolhemos a biodiversidade ou seguimos com o petróleo 2025-10-22
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