Sábado, 25 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 24 de outubro de 2025
As mulheres falam cada vez mais sobre menopausa e cuidados com o envelhecimento, mas quando o assunto é o envelhecimento masculino, o silêncio ainda predomina. O receio de lidar com a disfunção erétil e com a perda de vitalidade faz com que muitos homens deixem de buscar ajuda médica.
Veja abaixo o que é o Distúrbio Androgênico do Envelhecimento Masculino (DAEM), condição que costuma ser chamada de forma equivocada de “andropausa”. Fernando Facio, chefe do Departamento de Andrologia, Reprodução e Medicina Sexual da Sociedade Brasileira de Urologia, diz que o DAEM é bem diferente do que ocorre nas mulheres.
– O que é DAEM e por que não é “andropausa”: De acordo com Facio, a menopausa representa o fim da ovulação e uma queda abrupta dos hormônios femininos. Já nos homens, a produção de testosterona diminui de forma lenta e contínua, sem interrupção completa.
“A partir dos 40 anos, há uma queda média de 1,2% da testosterona por ano. Quando o homem chega aos 55 ou 60, essa perda pode causar sintomas que afetam a qualidade de vida”, explica o médico.
Por isso, ele reforça que o termo “andropausa” é incorreto: “O homem não deixa de produzir espermatozoides, diferentemente da mulher, que para de liberar óvulos. O nome mais adequado é DAEM, o distúrbio androgênico do envelhecimento masculino.”
– Sintomas aparecem de forma gradual: Os sinais do DAEM surgem aos poucos e variam de pessoa para pessoa. Entre eles estão queda da libido, irritabilidade, ganho de peso, sono ruim, ronco, perda de energia e disfunção erétil.
“O homem vai se transformando ao longo do envelhecimento. O problema é que ele só procura o médico quando o sintoma já está instalado, principalmente quando tem dificuldade de ereção”, diz o especialista.
Segundo ele, a falta de prevenção é um dos fatores que explicam por que os homens vivem de três a cinco anos menos que as mulheres.
– Nem todo homem com testosterona baixa precisa de reposição: Facio alerta que a reposição hormonal deve ser feita apenas sob prescrição médica. “Não basta ter testosterona baixa para repor. É preciso avaliar sintomas e fazer exames complementares”, afirma.
O uso sem necessidade pode trazer riscos sérios, como problemas no fígado, aumento de glóbulos vermelhos (com risco de trombose) e alterações no coração.
“Outro perigo é a compra de testosterona no mercado paralelo. Muitos pacientes usam produtos sem procedência, o que representa uma ameaça à saúde pública”, destaca.
– Uso indevido de tadalafila também preocupa: O urologista explica que medicamentos como a tadalafila, indicados para disfunção erétil, têm boa eficácia quando usados corretamente — mas podem causar efeitos adversos graves se tomados sem acompanhamento.
“O uso excessivo pode provocar queda de pressão, dor muscular e dor de cabeça. A ereção depende de um equilíbrio entre hormônio, nervos e circulação. Por isso, o tratamento precisa ser individualizado”, afirma Facio.
– Reposição hormonal pode afetar a fertilidade: Homens que ainda desejam ter filhos devem redobrar a atenção. “A testosterona pode reduzir a produção de espermatozoides, por isso não é indicada para quem quer ser pai”, explica o especialista.
Segundo ele, existem outras formas de tratamento para melhorar os níveis hormonais sem comprometer a fertilidade.
– Testosterona não causa câncer de próstata, mas exige acompanhamento: Facio esclarece um mito comum: “A testosterona não causa câncer de próstata, mas o urologista precisa descartar a presença da doença antes de iniciar a reposição.”
Por isso, todo tratamento deve incluir exames regulares e acompanhamento próximo. “O médico avalia se o paciente tem sintomas compatíveis e se o nível hormonal realmente exige intervenção”, afirma.
– DAEM também pode causar sintomas emocionais: Os efeitos do DAEM vão além do físico. O urologista explica que a queda de testosterona pode gerar sintomas parecidos com depressão, como desânimo, irritabilidade e falta de motivação.
“O médico precisa diferenciar o que é quadro emocional e o que é hormonal. A avaliação clínica é essencial para evitar diagnósticos errados e tratamentos desnecessários”, diz Facio.
– Homens estão falando mais sobre saúde sexual: O comportamento masculino tem mudado, segundo o especialista. Hoje, muitos homens vão ao urologista acompanhados das esposas ou filhas e essa participação ajuda na conversa e no diagnóstico, segundo ele.
Facio destaca que o mesmo ocorre entre casais LGBTQIA+, que também procuram orientação sobre saúde sexual e reprodutiva: “A medicina sexual é inclusiva. O importante é buscar qualidade de vida, independentemente da identidade de gênero”.
– A partir dos 45 anos, visitas regulares ao urologista: O médico recomenda que os homens comecem o acompanhamento a partir dos 45 anos. “Essa é uma idade de virada hormonal. Mesmo sem sintomas, é o momento ideal para prevenir doenças e ajustar o estilo de vida”, orienta.
Entre os exames recomendados estão testosterona, PSA, função hepática e renal. “O urologista não cuida só da próstata. Ele avalia o homem como um todo — físico, emocional e sexualmente”, diz Facio.
– SUS oferece atendimento e tratamento hormonal: O Distúrbio Androgênico do Envelhecimento Masculino pode ser acompanhado e tratado pelo SUS. “Há serviços públicos com atendimento especializado em urologia e andrologia. Em alguns casos, até as medicações são oferecidas gratuitamente”, explica o médico.
“Cuidar da saúde masculina é uma forma de viver mais e melhor. Prevenção e acompanhamento médico são essenciais para um envelhecimento saudável”, conclui Facio.