Quinta-feira, 30 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 29 de outubro de 2025
O Fed (Federal Reserve, o banco central americano) reduziu a taxa de juros nos Estados Unidos em 0,25 ponto percentual, para o intervalo entre 3,75% e 4% ao ano. É a segunda flexibilização do ano, confirmando o ciclo de baixa.
Em seu comunicado após a reunião, divulgado nesta quarta-feira, os formuladores de política monetária do Fed reiteraram que “os ganhos de emprego diminuíram” e afirmaram que “os riscos para o emprego aumentaram nos últimos meses”. O comitê descreveu o crescimento econômico como “moderado” e disse que a inflação “aumentou desde o início do ano e permanece um pouco elevada”.
Apesar da redução, Jerome Powell, em coletiva após a decisão, não confirmou um novo corte na próxima reunião, o que desanimou o mercado.
“O equilíbrio de riscos mudou. A redução de juros em dezembro está longe de ser certa. A política monetária não é pré-determinada. As opiniões divergentes sobre como se proceder na próxima reunião continuam”, disse Powell, o que jogou um balde de água fria no mercado financeiro.
No mesmo momento, as Bolsas de Nova York, que operavam em alta, renovando máximas, passaram a registrar desvalorização. Os rendimentos das Treasuries, os títulos americanos, inverteram o sinal e passavam a subir. A redução é amplamente esperada pelo mercado financeiro.
O movimento já era esperado por grande parte dos investidores globais. A plataforma FedWatch, que analisa a probabilidade do corte na reunião através de contratos negociados no mercado financeiro, registrava 98% de chances de um corte na taxa básica como o realizado.
No início do mês, Powell afirmou que o emprego poderia enfraquecer ainda mais. Quedas adicionais no número de vagas de trabalho, disse ele, “podem muito bem se refletir no desemprego”.
A redução não foi unânime no comitê. Escolhido por Donald Trump, o diretor Stephen Miran, que ingressou na cadeira no mês passado, votou por um corte maior, de meio ponto percentual, enquanto Jeffrey Schmid votou pela manutenção dos juros na banda entre 4% e 4,25%. Foram dez votos a dois.
A decisão do juro acontece diante do apagão nas agências federais americanas, o chamado shutdown. Enquanto republicanos e democratas não chegam a um consenso para votar o Orçamento do próximo ano fiscal, que teve início em primeiro de outubro, autarquias de diversos setores ficam em “stand by”. E isso afeta diretamente a clareza do cenário para a condução do juro americano.
Diferentemente da condução do juro no Brasil, em que seu principal compromisso é conduzir a inflação à meta de 3% (tendo um intervalo de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos), o Fed olha não só para a inflação, mas também para o nível do emprego no país.
E é este ponto que, nos últimos meses, tem demonstrado fraqueza, apesar da inflação ainda estar em um nível acima do desejado pela autoridade monetária. Lá, o desafio do Fed é levar a inflação aos 2%, tentando manter o máximo do emprego.
Reflexo no Brasil
A decisão sobre o juro americano tem impacto global. Isso porque o indicador calibra o valor do dólar, que acaba impactando moedas e investimentos em todo mundo.
Quando a taxa está alta, parte volumosa do capital global vai para os Estados Unidos, já que o país é considerado um dos mais seguros do mundo para aplicações. Com menos dólares no mundo, seu preço aumenta.
Diante de um ciclo de flexibilização do juro por lá, o capital global começa a buscar aplicações que possam render mais. E países emergentes, como o Brasil, se tornam mais atraentes para o destino deste capital.
Esse motivo explica em parte o desempenho recente da Bolsa brasileira, que voltou a renovar os recordes de fechamento nesta semana.
Além disso, diante da redução do juro por lá e a manutenção da Selic por aqui em 15%, o maior patamar da taxa básica local em quase duas décadas, o cenário favorece uma operação conhecida como carry trade:
“Com os juros nos EUA caindo, podemos ver um maior carry trade: investidores tomando empréstimos em moedas com juro menor e aplicando aqui, com juro maior. E podemos ver a moeda americana voltar a negociar abaixo de R$ 5,30”, afirma Caique Stein, sócio da Blue3 Investimentos. Com informações de O Globo.