Sábado, 08 de novembro de 2025
Por Tito Guarniere | 8 de novembro de 2025
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
De tempos em tempos, assim como se sucedem as estações do ano, o Rio de Janeiro é sacudido por uma chacina policial, que deixa uma fila de cadáveres estendidos na rua. Desta vez foram 120 infelizes que perderam a vida, com um ou mais balaços, naquelas plagas sinistras, onde o Estado não se faz presente de nenhuma forma , onde o Estado não entra a não ser abrindo fogo cerrado.
As autoridades dizem sempre que é um “confronto” com marginais, que sempre são eles que começam o tiroteio. Mas os números dizem tudo: dos 120 que morreram somente quatro eram policiais. E ninguém se rende : nunca se tem notícia de quantos meliantes foram presos.
O morticínio gera, imediatamente, um debate entre as facções, não da bandidagem, mas da política. O governador da extrema-direita, Cláudio Castro, bolsonarista , e mais os seus comparsas da mesma milícia, batem palmas para a operação, classificando-a de necessária e bem sucedida.
Na outra parte, na esquerda, reclama-se da brutalidade, da desproporção, da prática de atirar primeiro para depois perguntar quem vem lá – de onde morrem os desditosos moradores do bairro ou dos que tiveram o azar de estar em meio ao fogo cruzado, e que nada tem a ver com o crime organizado.
A situação excepcional, dramática, exigiria a unidade de todas as forças, de todas as instâncias do Estado. Ao invés, vira uma guerra de narrativas e palavras, um diálogo de surdos, a exibição medíocre, ostensiva de kits ideológicos, as verdades inarredáveis de cada um.
A medida em que as autoridades da União e dos estados batem cabeça, e se perdem nas trocas de acusações, é também a medida em que as organizações criminosos implantaram o regime de terror em todas as áreas urbanas do país, as centrais e mais visíveis, e as mais distantes e inóspitas.
É bastante razoável considerar que o problema da violência e das drogas não tem como se resolver, a partir da concepção de que os criminosos são somente oprimidos reagindo contra as forças que os oprimem. Que os criminosos são as vítimas do mercado, do sistema, do capitalismo, a desigualdade social.
O mais humilde morador da periferia, a quem tenha faltado todas as oportunidades, ainda assim está compelido pelas normas da lei e da convivência civilizada. Aqui, é bom lembrar que a esmagadora maioria desses desvalidos, entretanto, vivem suas vidas difíceis, sem horizontes, mas não sai por aí assaltando, roubando, matando.
Não dá para passar o pano e alisar a cabeça de quem, em tais condições, se dedica ao crime. A delinquência não é uma doença, é uma escolha pessoal, individual.
Ao mesmo tempo não é uma licença para matar, não dá direito a combater a criminalidade às custas de torturas, execuções, violações dos direitos humanos.
É entre esses dois parâmetros que se deve mover o Estado, o que significa que direita e esquerda têm a obrigação de se entender quanto a eles, para construir um plano viável, que não seja paralisado por causa das ambições de hegemonia. Os agentes do Estado a quem cabe debelar a violência deveriam abrir mão da disputa de beleza que travam entre si e concentrar todas as energias no seu enfrentamento.
(titoguarniere@terra.com.br)
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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