Sexta-feira, 14 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 13 de novembro de 2025
O uso dos medicamentos análogos de GLP-1, como Ozempic e Mounjaro, foi associado a uma redução de mais de 50% na mortalidade de pacientes com câncer de intestino em um novo estudo publicado nesta terça-feira na revista científica Cancer Investigation.
Os pesquisadores da Universidade da Califórnia em San Diego, nos Estados Unidos, analisaram dados de 6.871 pacientes com o diagnóstico oncológico e observaram que, entre aqueles que faziam uso dos fármacos, a taxa de mortalidade ao longo de 5 anos foi de 15,5%.
Já entre os que não utilizavam os remédios, a taxa foi de 37,1%, mais que o dobro. Segundo os cientistas, a probabilidade de o paciente morrer no período foi 62% inferior entre os usuários dos medicamentos.
O benefício continuou mesmo após o ajuste para possíveis fatores que influenciariam os resultados, como gravidade da doença e idade. Mas eles destacam que essa redução foi observada especialmente em pacientes com obesidade grave, com índice de massa corporal (IMC), acima de 35 kg/m².
Para os autores do trabalho, isso indica que os remédios, aprovados para o tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade, podem ajudar a combater as condições inflamatórias e metabólicas que pioram o prognóstico do câncer de intestino.
Segundo os pesquisadores, além de regular o açúcar no sangue, os fármacos reduzem a inflamação sistêmica, melhoram a sensibilidade à insulina e promovem a perda de peso, todos fatores que podem influenciar positivamente no combate ao tumor.
Agora, eles enfatizam que são necessárias mais pesquisas para confirmar esses mecanismos e determinar se o benefício observado nesse estudo representa um efeito anticâncer direto ou um resultado indireto da melhora da saúde metabólica.
Além disso, o estudo foi do tipo observacional, ou seja, analisou dados de taxa de mortalidade pelo câncer e de uso dos remédios em busca de uma relação entre eles. Para determinar que os medicamentos foram de fato os responsáveis pela redução, são necessários ensaios clínicos que testem os análogos de GLP-1 como parte do tratamento.
Mas esse não é o primeiro trabalho a encontrar uma relação positiva entre os medicamentos e o câncer. Estudos laboratoriais já apontaram que as moléculas conseguem impedir o crescimento das células cancerígenas, induzir a morte delas e remodelar o microambiente tumoral.
Além disso, um trabalho apresentado na última reunião anual da pela Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco, na sigla em inglês) encontrou um risco 7% menor de desenvolver 14 tipos de câncer relacionados à obesidade entre usuários de agonistas de GLP-1.
De modo específico, o estudo destacou que os medicamentos foram ligados a uma proteção principalmente para tumor de intestino e retal, que tiveram uma diminuição de 16% e 28%, respectivamente, nos casos.
O trabalho analisou dados de 170.030 pacientes com diabetes e obesidade inscritos em 43 sistemas de saúde dos EUA. Em média, eles tinham 56,8 anos e um IMC de 38 kg/m². Entre 2013 e 2023, cerca de metade começou um tratamento com os agonistas de GLP-1, e os demais com inibidores de DPP-4 – um fármaco para diabetes que não induz a perda de peso.
Ao avaliar a incidência de câncer em ambos os grupos durante um período de cerca de 4 anos de tratamento, o pesquisador observou que aqueles que recebiam os remédios da classe do Ozempic tiveram um risco 7% menor de desenvolver um tipo associado à obesidade, e 8% inferior de morrer por qualquer causa em relação aos que tomaram os inibidores de DPP-4. Na prática, como ambos os grupos tinham 85.015 pessoas, o uso dos agonistas de GLP-1 foi associado a 170 menos casos de câncer.