Sábado, 22 de novembro de 2025
Por Gisele Flores | 22 de novembro de 2025
Diretor especial da Ibraoliva Marcelo Lobo. o diretor jurídico Jorge Buchabqui, secretário estadual da Agricultura do Rio Grande do Sul, Edivilson Brum e o Presidente da Ibraoliva Flávio Obino Filho.
Foto: IbraolivaO 2,4-D, usado para matar ervas daninhas na soja, pode se espalhar pelo vento e atingir pomares. Governo cria áreas de exclusão, mas olivicultores pedem ampliar a proteção.
O governo do Rio Grande do Sul confirmou que vai criar zonas de exclusão para o uso do herbicida 2,4-D, aplicado em lavouras de soja e capaz de viajar quilômetros pelo ar, atingindo oliveiras, vinhedos, maçãs e hortaliças. A medida busca proteger culturas sensíveis, mas produtores alertam que ainda há áreas desprotegidas.
O anúncio foi feito pelo secretário da Agricultura, Edivilson Brum, em reunião com dirigentes do Instituto Brasileiro de Olivicultura (Ibraoliva). Participaram o presidente Flávio Obino Filho, o diretor jurídico Jorge Buchabqui e o diretor especial para assuntos de herbicidas hormonais, Marcelo Lobo.
Mesmo em pequenas quantidades, o 2,4-D provoca queda de flores, deformação de brotos e perda de produtividade. Estudos recentes mostraram que mais de 80% das amostras de videiras analisadas no Estado tinham resíduos de herbicidas hormonais, o que representa prejuízo direto para agricultores e risco para a qualidade de produtos como azeite e vinho.
Para o Ibraoliva, o decreto é um avanço, mas não cobre todos os pomares. Marcelo Lobo avaliou positivamente a medida, mas destacou que existem produtores impactados fora do perímetro contemplado. A entidade está mapeando áreas de oliveiras em todo o país e pretende propor ao governo a ampliação das zonas de exclusão. Entre as medidas defendidas estão o cadastro obrigatório de culturas sensíveis, indenização por prejuízos causados pela deriva e incentivo à pesquisa em alternativas menos agressivas, com apoio de centros de inovação.
O 2,4-D pode se deslocar até 30 km pelo vento, dependendo das condições climáticas. Há registros de perdas de até 70% na produção de uvas e oliveiras em áreas atingidas pela deriva. O descumprimento das regras pode gerar multas diárias de R$ 10 mil, revertidas para fundos de reparação ambiental.
Na reunião também foram discutidos o Seminário Binacional do Bioma Pampa e o 6º Encontro Estadual de Olivicultura, que acontecem em dezembro, em Bagé. A possibilidade de transferir a Festa da Colheita da Oliva para abril, com formato de feira de negócios, e normas para a certificação de mudas de oliveira vindas de outros estados e países também estiveram na pauta.
O decreto estadual é um passo importante, mas não resolve totalmente o problema da deriva do 2,4-D. Para garantir o futuro da olivicultura gaúcha, será necessário ampliar as áreas de exclusão, reforçar a fiscalização e investir em alternativas mais seguras. Mais do que proteger pomares, a medida busca assegurar que o azeite gaúcho siga crescendo em qualidade e conquistando espaço no mercado nacional e internacional. (Por Gisele Flores)