Domingo, 23 de novembro de 2025
Por Renato Zimmermann | 23 de novembro de 2025
Estou aqui juntando os retalhos para conseguir construir este artigo com o objetivo de fazer um balanço geral de como foi a COP30 e o que representou para o povo da Amazônia, para o Brasil e para o mundo. Foram dias intensos, noites longas, negociadores trabalhando madrugada adentro para finalizar os documentos que dariam corpo a esta conferência histórica.
O mosaico amazônico
Belém se transformou em um verdadeiro mosaico humano. Povos originários, paraenses, diplomatas de terno impecável e ativistas de todas as partes do planeta se misturaram em ruas e plenárias. Era uma Babel de idiomas, roupas e gestos, mas também um espetáculo de respeito e convivência. O sorriso de um indígena ao lado da gravata de um embaixador mostrava que, ao menos ali, a diversidade era celebrada.
Os documentos finais
O esforço coletivo resultou no documento chamado “Decisão do Mutirão”, que abordou financiamento climático, transparência nos relatórios de emissões e medidas comerciais ambientais. Além disso, foram aprovadas a “Declaração de Belém” para a Industrialização Verde, a “Declaração sobre a Integridade da Informação Climática” e o “relatório da Reunião Ministerial sobre Urbanização e Mudanças Climáticas”. Houve avanços sociais, como o reconhecimento da contribuição de afrodescendentes e povos tradicionais, além de novas frentes sobre urbanização sustentável e industrialização verde.
Frustrações e repulsa
Mas não posso esconder minha repulsa: mais uma vez os lobistas do petróleo venceram. O texto não trouxe um plano concreto para a eliminação dos combustíveis fósseis. É como se estivéssemos em marcha rumo ao precipício, manipulados por um mercado que insiste em destruir o planeta. Essa frustração foi ecoada por ONGs como a Arayara, que destacou soluções alimentares de baixo carbono, mas criticou a falta de metas mais ambiciosas. O Greenpeace denunciou a “ambivalência” do Brasil, que ao mesmo tempo liderava a COP e concedia licenças de exploração de petróleo. Já entidades empresariais como CNI e FIESP pediram cautela, defendendo transições graduais para não comprometer a competitividade industrial.
A mensagem da ONU
Simon Stiell, secretário-executivo da ONU para Mudanças Climáticas, reconheceu as frustrações, mas afirmou que “a mudança para combustíveis renováveis é imparável”. Em sua mensagem final, destacou que a COP30 ocorreu em meio a “águas políticas turbulentas”, mas mostrou que a cooperação climática está viva. Enalteceu a participação de 194 países, o compromisso de triplicar o financiamento climático e o avanço em um novo acordo sobre transição justa. Lembrou ainda que o espírito de mutirão — palavra de origem indígena — deve permanecer como símbolo de esforço coletivo.
O Brasil e o presidente André Corrêa do Lago
Entre os protagonistas, André Corrêa do Lago brilhou. Sua diplomacia resiliente e moderada foi essencial para conduzir negociações em um cenário adverso. O Brasil conseguiu tornar a COP mais inclusiva e participativa, abrindo espaço para vozes antes marginalizadas.
O futuro
Apesar dos avanços, não houve virada de página. A humanidade ainda não conseguiu se libertar da dependência dos fósseis. Mas a COP30 deixou sementes: industrialização verde, urbanização sustentável, valorização de afrodescendentes e povos originários. Em março de 2026, na Colômbia, ocorrerá a pós-COP, onde poderemos avançar nos pontos que Belém não conseguiu.
Conclusão
Agora, retornando ao sul, sigo refletindo e compilando tudo o que aprendi nestes dias intensos. Participei de mais de 30 debates de alto nível e vi de perto o esforço coletivo de milhares de pessoas. Continuarei contribuindo para esclarecer a importância de a humanidade encontrar consensos e deixar de lado diferenças. Só assim construiremos uma transição energética justa e mecanismos que garantam nossa essência como humanidade.
Em resumo: a COP30 terminou com avanços sociais e institucionais, mas sem o passo decisivo contra os combustíveis fósseis. Foi um marco de inclusão e cooperação, mas também de frustração diante da força dos interesses econômicos.
Renato Zimmermann – Desenvolvedor de negócios sustentáveis e ativista da transição energética
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