Quarta-feira, 26 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 25 de novembro de 2025
Ao longo da investigação que levou à prisão do CEO do Banco Master, Daniel Vorcaro, e outros seis alvos na Operação Compliance Zero, técnicos do Banco Central (BC) relataram à Polícia Federal (PF) e ao Ministério Público que nunca tinham sofrido tamanha pressão política em favor de uma instituição financeira como a sofrida para tentar salvar o Master – primeiro aprovando a compra pelo Banco de Brasília (BRB), vetada pelo BC em setembro, e depois para adiar a intervenção e dar chance para uma nova oferta, mesmo que inviável.
O lobby foi detalhado aos investigadores por quadros experientes da instituição, que já lidaram com várias outras tratativas e litígios no setor financeiro. Nada comparado à trama do Master, garantem. Após a deflagração das diligências da PF, o BC determinou a liquidação extrajudicial do banco de Vorcaro, que terá como consequência o maior resgate da história do FGC.
De acordo com um investigador, o decreto de liquidação do Master já estava escrito bem antes da operação da PF, mas a direção do BC só efetivou providência depois da ação para se blindar da pressão.
De acordo com informações divulgadas pelo blog de Malu Gaspar, do jornal O Globo, ainda em julho, as irregularidades constatadas pelo BC na operação entre Master e BRB já haviam provocado um racha entre as diretorias diretamente envolvidas no caso. À época, já havia fortes indícios de que os créditos bilionários adquiridos pelo Banco de Brasília não tinham lastro.
Uma minuta de intervenção no primeiro banco chegou a ser elaborada, mas jamais se concretizou. A proposta foi costurada por Renato Gomes, diretor de Organização do Sistema Financeiro, que contava com o endosso do colega Gilneu Vivan (Regulação) – mas, de acordo com fontes ligadas ao caso, contou com a oposição do diretor de Fiscalização, Aílton Aquino.
Em paralelo, o lobby também funcionava no Congresso.
Após o anúncio da compra do Master pelo BRB no início do ano, o que surpreendeu o meio político e o mercado, senadores tentaram emplacar uma CPI Mista para apurar as circunstâncias da compra do Master pelo BRB.
O requerimento, encabeçado por Izalci Lucas (PL-DF), atingiu o mínimo de assinaturas exigido para a instalação da comissão. No entanto, o pedido foi abruptamente retirado pelo próprio parlamentar sem maiores explicações.
Izalci se limitou a dizer que propôs a criação da CPI em função de dúvidas sobre o processo de aquisição do Master que teriam sido sanadas por meio de documentos supostamente fornecidos pelos dois bancos e que levar o colegiado adiante traria “preocupação” e “instabilidade” no mercado financeiro.
“Quero aqui agradecer aos parlamentares, porque grande parte deles talvez tenha assinado também, em função da credibilidade e do conhecimento que temos da matéria. Tenho aqui já alguns relatórios, tanto do BRB como do Banco Master, e quero tranquilizar (os colegas)”, declarou durante discurso no Senado.
Ainda segundo informações do blog de Malu Gaspar, o principal articulador contra a CPI do Master foi o senador Ciro Nogueira (PI), presidente nacional do PP e aliado próximo de Vorcaro. Ciro sempre negou ter operado para derrubar a comissão.
Nos bastidores, ele é tido como líder da chamada “bancada do Master”, o que incluiria outros parlamentares alinhados aos interesses de Vorcaro. O PP deve formalizar até o fim do ano uma federação partidária com o União Brasil, partido que impulsionou aportes de governos estaduais e municipais em letras financeiras do Master e é presidido por Antonio Rueda, que também é próximo do CEO do banco preso pela PF.
Não foi a única vez em que Ciro Nogueira atuou a favor do aliado.
Em 2024, quando o BRB já estava adquirindo carteiras de crédito do Master mas antes das tratativas de compra serem formalizadas, Ciro já havia patrocinado no Senado a inclusão de um dispositivo na PEC da autonomia financeira do Banco Central que aumentaria de R$ 250 mil para R$ 1 milhão a cobertura do Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para as aplicações financeiras como o CDB, principal produto do Master.
A associação com os interesses do banco foi imediata, e a proposição ganhou o apelido de “emenda Master”. Acabou rejeitada pelo relator da matéria, Plínio Valério (PSDB-AM).
A mobilização ocorreu pouco mais de um mês após a equipe da coluna revelar que a cúpula da Caixa Econômica destituiu dois gerentes que se opuseram à compra de um lote de R$ 500 milhões em letras financeiras do Banco Master, consideradas arriscadas demais para os padrões do banco.
Um parecer sigiloso da área de renda fixa da Caixa Asset, o braço de gestão de ativos da estatal, desaconselhou enfaticamente a operação, considerada “atípica” e “arriscada”, não só em razão do valor, considerado alto demais, como por causa do rating do Master. Com a repercussão do caso, a operação acabou não avançando. As informações são do jornal O Globo.