Domingo, 30 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 30 de novembro de 2025
“Que horas que o senhor começou a fazer isso, seu Jair?”, pergunta a diretora penitenciária Rita Gaio, sugerindo trivialidade na entoação. Seu interlocutor, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), admite ter usado, na tarde anterior, ferro quente para violar a tornozeleira. “Curiosidade”, diz ele no vídeo em que só ouvimos vozes e vemos o objeto avariado. Bolsonaro acabaria preso na sede da Polícia Federal, em Brasília.
Em toda a operação, a única fotografia do ex-mandatário reduz sua figura a um vulto.
Em 2018, quando foi preso, o hoje presidente Lula (PT) criou um fato midiático, saindo da sede do Sindicato dos Metalúrgicos, em São Bernardo do Campo, nos braços dos apoiadores.
Para aliados de ambos os políticos e pesquisadores do tema, Bolsonaro não conseguiu capitalizar politicamente o episódio de sua prisão, deixando um vácuo na direita, que, acuada, agora tenta se reorganizar.
A deputada federal Rosana Valle (PL-SP) pondera que o ex-presidente já cumpria medida cautelar em sua casa no momento em que o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), decidiu prendê-lo preventivamente, sob justificativa de risco de fuga.
Nesta semana, o magistrado confirmou que Bolsonaro cumpriria a pena por tentativa de golpe de Estado na sede da PF. Nesse contexto, diz a deputada, não houve margem para a mobilização de apoiadores.
Para aliados de ambos os políticos e pesquisadores do tema, Bolsonaro não conseguiu capitalizar politicamente o episódio de sua prisão, deixando um vácuo na direita, que, acuada, agora tenta se reorganizar.
A deputada federal Rosana Valle (PL-SP) pondera que o ex-presidente já cumpria medida cautelar em sua casa no momento em que o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), decidiu prendê-lo preventivamente, sob justificativa de risco de fuga.
Nesta semana, o magistrado confirmou que Bolsonaro cumpriria a pena por tentativa de golpe de Estado na sede da PF. Nesse contexto, diz a deputada, não houve margem para a mobilização de apoiadores.
Em sua decisão pela prisão preventiva, Moraes assinalou que os agentes deveriam respeitar a dignidade de Bolsonaro, cumprindo o mandado no início da manhã, sem algemas e, sobretudo, sem exposição midiática. Ele citaria o precedente de Lula para manter Bolsonaro na PF, e não em um presídio.
Há sete anos, o então juiz Sergio Moro não ignorou a questão midiática. Ele também vetou o uso de algemas durante a ação para prender Lula, determinando o cumprimento da pena numa sala reservada na sede da PF em Curitiba, onde o petista ficaria 580 dias.
Naquela altura, era a Lava Jato, e Lula estava condenado por crimes de corrupção e lavagem de dinheiro no caso do triplex de Guarujá.
O Supremo anularia, em 2021, as condenações, considerando a Justiça do Paraná incompetente para julgar aqueles processos, após a revelação de mensagens que revelavam conversas entre Moro e procuradores da operação.
De toda sorte, as medidas do então juiz, hoje senador pelo União Brasil-PR, para impedir a exploração midiática no momento da prisão de Lula se mostraram ineficazes.
De 5 a 7 de abril de 2018, o petista transformou a sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP) em um bunker, retardando a ação dos agentes federais.
No momento de se entregar, protagonizou uma imagem sua carregado pelos seus apoiadores, aglomerados na porta do edifício. A foto seria repercutida pela mídia estrangeira. Roubando os holofotes para si, fez um discurso afirmando que não era mais um ser humano, mas uma ideia.
Na época, ainda gravou uma série de vídeos para a campanha do PT ao Planalto. A deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), que acompanhou os momentos que antecederam a rendição, avalia que Lula conseguiu manter a coesão da militância petista, algo que Bolsonaro não soube fazer.
“Ninguém vacilou diante do que poderia ocorrer com Lula. O discurso do presidente reconectou o PT à base histórica”, diz. “Bolsonaro tem um bloco de partidos dividido e só mantém o apoio dos fanáticos.”
Ela diz ser cedo para decretar o fim do bolsonarismo, pois, segundo ela, as novas lideranças de direita deverão dialogar, nas próximas eleições, com o legado do ex-presidente.
Professor de Comunicação da PUC-Rio e pesquisador da relação entre mídia e política, Arthur Ituassu concorda que o petista conseguiu mobilizar o eleitorado de esquerda antes e durante o tempo de reclusão.
“O que ocorre agora é um vazio na direita, uma disputa para ver quem ocupa o lugar de Bolsonaro”, afirma. “Na esquerda, não houve isso, em nenhum momento a liderança de Lula foi questionada.” Há estratégias por trás disso, é claro.
Para o professor, o petista foi exitoso ao se apresentar como vítima durante o processo que enfrentou. No caso de Bolsonaro, Ituassu ressalta o papel que o STF teve para impedir que o ex-presidente explorasse politicamente a prisão. Com informações da Folha de São Paulo.