Segunda-feira, 01 de dezembro de 2025
Por Redação O Sul | 30 de novembro de 2025
Com a prisão de Jair Bolsonaro em regime fechado, divergências entre a ex-primeira-dama Michelle e seus enteados dificultam a definição de candidaturas ao Senado nas eleições de 2026. Michelle vem aproveitando a estrutura do PL Mulher para lançar candidatas aliadas em estados como Santa Catarina, Ceará e no Distrito Federal. As movimentações contrariam planos dos filhos do ex-presidente e podem criar embaraços para uma eventual candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ao Palácio do Planalto.
Integrantes do PL e pesquisadores do bolsonarismo enxergam uma disputa entre Michelle e Flávio pelo posto de herdeiro político do ex-presidente. Apesar de a transferência de capital político entre familiares ser incomum, no caso de eleições nacionais, a avaliação de correligionários é que ambos tentam ter a preferência de Bolsonaro para compor uma chapa presidencial, o que gera reflexos nos estados.
Em Santa Catarina, Flávio e o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) saíram em defesa da candidatura do irmão, Carlos, a uma das vagas ao Senado. Eles mostraram incômodo com críticas da deputada estadual Ana Campagnolo (PL-SC) à migração do vereador carioca para o estado.
“A partir do momento em que o comandante tomou a decisão, não é inteligente ficar questionando”, disse Flávio na ocasião.
Michelle, por sua vez, mostrou solidariedade a Campagnolo, a quem empossou neste ano como presidente do PL Mulher catarinense. A ex-primeira-dama tem defendido a candidatura da deputada Carol de Toni (PL-SC) ao Senado.
Embora os filhos de Bolsonaro, publicamente, também manifestem apoio à deputada, eles condicionam sua candidatura a uma dobradinha com Carlos. Uma ala do PL teme que a ideia acabe tirando o espaço de Carol na hora de definir a chapa, em prol de uma aliança com outros partidos.
Para a antropóloga Isabela Kalil, professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, a atuação de Michelle no PL Mulher vem tentando firmar um “contraponto” a outras pessoas do entorno do ex-presidente, como seus enteados:
“A performance dela é de um ‘bolsonarismo suave’, o que não quer dizer que não tenha posições antidemocráticas, mas sim que procura focar em outras dimensões, como a da mãe e a do apelo religioso.”
Uma das candidatas ao Senado que recebeu apoio de Michelle foi a vereadora Priscila Costa, de Fortaleza, que é sobrinha do pastor José Wellington Bezerra da Costa, um dos principais líderes das Assembleias de Deus no país. A ex-primeira-dama viajou ao Ceará para o evento de lançamento da aliada, horas antes de Bolsonaro ser preso preventivamente por violar sua tornozeleira eletrônica. Em eventos ao lado de Priscila, Michelle a apresentou como defensora da agenda antiaborto no Congresso.
Impasse no Ceará
O gesto da ex-primeira-dama gerou um impasse para o deputado federal André Fernandes, presidente do diretório cearense do PL, que pretende lançar o pai, Pastor Alcides, a uma cadeira no Senado. Por ora, aliados do deputado têm afirmado que ele é o único candidato com aval de Bolsonaro no estado.
Mais próximo aos filhos de Bolsonaro, Fernandes também entrou na mira de Michelle por defender uma composição com o ex-ministro Ciro Gomes (PSDB) como candidato ao governo. O cálculo de Fernandes, de unir a oposição contra o PT no estado, desagradou a ex-primeira-dama, que compartilhou em suas redes sociais um vídeo, na semana passada, no qual Ciro critica Bolsonaro e seus apoiadores. A postagem foi entendida, no estado, como um recado velado contra o plano de Fernandes.
O avanço de Michelle tem gerado reações dos filhos do ex-presidente. A ex-primeira-dama ficou incomodada após Flávio ser apresentado como porta-voz de Bolsonaro em uma reunião do PL, na semana passada, depois da prisão.
O senador tem evitado se contrapor diretamente a Michelle, mas Eduardo defendeu mais de uma vez nos últimos dias que Flávio seja candidato à Presidência. O deputado disse ao UOL que o irmão está em “posição mais preparada” do que Michelle para a empreitada.
Pouco antes da prisão de Bolsonaro, a ex-primeira-dama participou, junto com Flávio, de um evento em que a deputada Bia Kicis (PL-DF) foi apresentada como pré-candidata ao Senado. O movimento sobrecarrega a raia bolsonarista em Brasília, que já tem o governador Ibaneis Rocha (MDB), o senador Izalci Lucas (PL) e a própria Michelle como pré-candidatos.
Reservadamente, integrantes do PL interpretaram o apoio de Michelle a Kicis como uma forma de a ex-primeira-dama “se liberar” do Senado para tentar a disputa presidencial. Bolsonaro e a ex-primeira-dama também têm resistências ao nome de Ibaneis, que tem melhor trânsito com Flávio. As informações são do jornal O Globo.