Quarta-feira, 10 de dezembro de 2025
Por Vera Armando | 10 de dezembro de 2025
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editoriais de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Com a proximidade do Natal e da virada de Ano Novo, cidades inteiras se preparam para celebrar, iluminar ruas, reunir famílias e renovar esperanças. No entanto, junto com o clima festivo chega um problema antigo que muitos insistem em ignorar: os fogos de artifício com estampido. A cada ano, eles seguem causando vítimas. E vítimas silenciosas. Animais de estimação que entram em pânico, crianças com necessidades especiais que enfrentam crises intensas, idosos que passam mal. Enquanto alguns comemoram, outros atravessam horas de verdadeiro terror.
O barulho que muitos associam a alegria se transforma em sofrimento profundo para milhares de famílias. Tutores relatam que seus pets que tremem sem controle, tentam fugir pela porta, se machucam no desespero, ou adoecem nos dias seguintes. Animais de rua vivem algo ainda pior, já que não têm para onde correr nem quem os acolha. Esse retrato já deveria bastar para repensarmos nossos hábitos. Mas a dor vai além dos animais.
Crianças com autismo e outras necessidades especiais sofrem de forma ainda mais aguda. Mães do Educandário São João Batista já me contaram episódios de crises tão severas que evoluíram para convulsões. Há casos de choro incontrolável, desorientação, medo absoluto. Famílias inteiras passam a virada tentando proteger quem mais amam, enquanto o barulho explode do lado de fora. Não se trata de exagero. Trata-se de saúde, dignidade e respeito.
A verdade é simples e inquestionável: nenhuma comemoração precisa causar sofrimento. Fingir que isso não acontece é negligência. Comemoramos a vida, celebramos o recomeço, mas deixamos para trás um rastro de sofrimento que poderia ser evitado. Existe alternativa e ela já está disponível. Fogos silenciosos entregam beleza sem prejuízo, permitem espetáculo sem trauma. Outras formas de festejar também estão ao nosso alcance: luzes que encantam, música que une, abraços que acolhem.
A virada do ano deve ser um momento de amor. Não de pânico. Não de lágrimas. Não de emergências veterinárias, crises sensoriais ou noites inteiras sem paz. Precisamos transformar essa consciência em atitude. Cada pessoa que decide não soltar fogos protege um animal, preserva uma criança, acalma um idoso. Cada escolha individual cria um efeito coletivo.
Por isso, faço um convite sincero. Vamos celebrar com alegria, mas com responsabilidade. Vamos trocar os estouros por luzes, os estrondos por afeto, o susto pelo cuidado. Juntos, podemos fazer das festas de fim de ano um período verdadeiramente acolhedor para todos, sem exceções. A beleza da celebração está no que compartilhamos, e não no barulho que machuca. Que este seja mais um ano em que escolhemos o respeito. Que seja mais uma virada sem fogos.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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