Domingo, 14 de dezembro de 2025
Por Redação O Sul | 13 de dezembro de 2025
O brasileiro está revendo sua cesta de compras de acordo com o que considera ser uma alimentação saudável. Produtos que antes eram vistos como vilões agora aparecem na lista de compras em versões dietéticas e “light” – com menos calorias, açúcar, gordura ou sódio. Isso mostra que boa parte das pessoas está migrando de uma dieta mais restritiva para uma abordagem mais indulgente.
É o caso dos refrigerantes com pouco ou nenhum açúcar que passaram a figurar entre os três produtos importantes em ocasiões consideradas de consumo saudável, de acordo com o estudo “Consumer Insights”, elaborado pela consultoria Worldpanel by Numerator. Os primeiros colocados do ranking são alimentos proteicos – iogurte e carnes.
“Mas não adianta ser ‘zero’ açúcar e não ter gosto parecido com o do produto original. As pessoas têm exigido sabor e saudabilidade ao mesmo tempo”, explica o gerente de contas da Worldpanel, Felipe Feniar.
O especialista acrescenta que essa busca independe da faixa de renda familiar: 46% dos brasileiros têm optado por alimentos com menos açúcar ou preferido adoçantes de baixa caloria ou sem caloria nenhuma. Nas classes A e B, o percentual não é muito maior, chegando a cerca de 50%.
“Se antes o foco era um consumo mais restritivo, agora a ideia é comer de forma saudável sem açúcar. É uma tendência que temos visto em outras partes do mundo, como na América Latina e na Europa”, afirma. “A explicação é que as pessoas têm tido mais acesso a informações nutricionais nas redes sociais. Ao seguir influenciadores, podem ver o que comem e o que deixam de comer, influenciando os seus hábitos de consumo.” Ao todo, a pesquisa ouviu 60 mil pessoas, em 11,3 mil lares. Os dados se referem aos 12 meses encerrados em setembro.
Essa transformação também está associada ao uso mais frequente das canetas emagrecedoras – por aqui, 3% dos brasileiros já administraram o medicamento para perder peso. O número bastante diminuto se explica por ainda ser um tratamento caro no Brasil. “A expectativa é que a entrada de novos fabricantes no mercado torne os preços mais acessíveis, o que deve impulsionar a pauta da saudabilidade no país”, explica. O especialista também chama a atenção para o fato de que a aplicação das canetas nem sempre vem associada a uma mudança na rotina, como início de dietas ou a intensificação de exercícios físicos. “Isso implica que a indústria deve sentir impacto na quantidade e no tamanho das porções consumidas, mas não necessariamente nas categorias de consumo.”
A redução do apetite é evidente. A pesquisa da Worldpanel mostra que as pessoas que não haviam iniciado o uso das canetas em 2024 consumiam, em média, 44% mais alimentos do que aquelas que disseram não querer ou não precisar do hormônio. Após iniciarem o tratamento, em 2025, essa diferença caiu para 20%.
Esse novo hábito, aliado à pressão inflacionária no país, tem levado os brasileiros a montar cestas de compras menores e ir mais vezes aos pontos de venda. O estudo mostra que, no terceiro trimestre de 2025, os consumidores visitaram os mercados quase três vezes por semana e que o gasto médio cresceu 5,5%, puxado pelos preços em alta. Já o volume médio total permaneceu praticamente estável.
Feniar lembra que, em momentos de crise inflacionária, os brasileiros costumavam migrar para marcas mais baratas ou simplesmente abandonavam produtos considerados indulgentes. Agora, o foco é comprar porções menores, mesmo que de itens ‘premium’. Quem tem se beneficiado nesse sentido são as marcas de perecíveis, proteínas e refrigerados, enquanto os segmentos de mercearia, doces e bebidas alcoólicas têm sofrido mais.
Para o especialista, 2026 será um ano atípico para o consumo, com maior democratização do acesso às canetas emagrecedoras. A Copa do Mundo também pode redirecionar o orçamento das famílias. Gastos que vão para alimentos, bebidas e cosméticos podem ser reduzidos para que o brasileiro possa gastar mais com apostas esportivas. As informações são do jornal Valor Econômico.