Domingo, 08 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 28 de fevereiro de 2016
Cirurgiões americanos realizaram o primeiro transplante de útero na Clínica Cleveland (EUA). A operação, que durou nove horas, usou o útero de uma doadora morta.
A paciente que recebeu o órgão tem 26 anos e não teve a identidade revelada para proteger sua privacidade. Segundo a clínica, ela está em condições estáveis.
O objetivo do procedimento é permitir que mulheres que nasceram sem útero ou que precisaram retirar o órgão possam engravidar e dar à luz.
Paciente terá de esperar um ano antes de tentar engravidar. (Foto: Reprodução)
A paciente terá de esperar um ano antes de tentar engravidar para que se recupere completamente e para permitir que os médicos ajustem a dose da medicação contra a rejeição do órgão. Ela então precisará se submeter a uma fertilização in vitro. Antes do transplante, os ovários dela foram retirados, fertilizados com o esperma do marido e congelados. Os embriões depois serão transferidos para o útero.
O transplante será temporário. O útero será removido depois que a paciente tiver um ou dois filhos, para que ela possa parar de tomar as drogas tóxicas conhecidas como imunossupressoras.
O líder da equipe cirúrgica foi o médico Andreas Tzakis, que antes do transplante viajou à Suécia e trabalhou com profissionais da Universidade de Gotemburgo, os únicos do mundo que haviam realizado esse procedimento com sucesso até então.
Nove mulheres já se submeteram à cirurgia na Suécia, com órgãos retirados de doadoras vivas. Pelo menos quatro delas já tiveram bebês – o primeiro nascimento ocorreu em 2014. Para alcançar esse resultado, foram necessários mais de dez anos de pesquisas.
Cerca de 50 mil mulheres nos EUA são possíveis candidatas ao transplante. A clínica americana informou que tentará outras cirurgias em mulheres que nasceram sem o órgão ou que sofrem com alguma anomalia que impede a gravidez.
Riscos.
Tzakis afirmou que os riscos são os mesmos de qualquer outro transplante, e considera a cirurgia um passo para melhorar a qualidade de vida da paciente, assim como o transplante de mão ou face.
“Ao contrário dos outros, esse transplante é efêmero. Não tem o objetivo de durar a vida toda da paciente, mas será mantido enquanto necessário para gerar uma criança ou duas. Posteriormente ele será removido”, declara o médico.
Brasileiras.
Será que o transplante pode se tornar uma solução para as brasileiras que não podem engravidar naturalmente? É provável que sim, mas não em pouco tempo.
Antes, será preciso resolver diversas questões técnicas, entre elas o uso das drogas imunossupressoras. Elas são necessárias para evitar rejeição ao órgão transplantado, mas podem provocar aborto ou malformações no feto.
“Um dos desafios é acertar a dose correta desses remédios, de forma que o útero doado não seja agredido, mesmo se ela precisar interromper o uso dos remédios para não prejudicar o desenvolvimento do bebê”, afirma o médico Edson Borges Jr., vice-presidente da Rede Latino-americana de Reprodução Assistida.
Mais complexo ainda é o dilema ético que não pode ser ignorado. “Se o problema da paciente não é uma questão de vida ou morte, é correto oferecer a ela um procedimento que pode colocá-la em risco e ainda causar danos ao bebê?”, questiona Borges Jr.