Terça-feira, 18 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 6 de junho de 2015
Quando Ariana Miyamoto foi coroada Miss Universo Japão 2015, outras participantes disseram que ela roubou o espetáculo com seu andar provocante, sorriso contagiante e uma autoconfiança que não parece natural para alguém de apenas 21 anos. Mas não foram só sua beleza e sua postura que atraíram a atenção nacional para ela.
Miyamoto é uma das pouquíssimas “hafu”, ou japonesas de etnia mista, a vencer um grande concurso de beleza em um Japão orgulhoso de sua homogeneidade. E é a primeira mulher com ascendência negra a fazê-lo. A vitória de Miyamoto lhe vale o direito de representar o Japão na porção internacional do concurso de Miss Universo, marcada para janeiro.
Ela diz que espera que sua participação — ou ainda melhor, uma vitória — leve mais japoneses a aceitar os hafu. Mas o Japão ainda tem um longo caminho a percorrer, disse. Mesmo depois de sua vitória na porção nacional do concurso, jornalistas locais demonstraram dificuldade em aceitá-la como japonesa.
“Os repórteres sempre me perguntam qual das minhas partes é mais semelhante a uma japonesa”, diz Miyamoto, que tem as longas pernas de uma top model internacional mas mostra a mesma timidez e reserva das demais jovens japonesas. “E sempre respondo que sou japonesa.”
“Minha esperança era que vencer o Miss Universo Japão os levasse a reparar no fato”, ela acrescentou. Isso pode demorar um pouco. Depois da vitória, algumas pessoas postaram mensagens online criticando os juízes por escolher alguém que não parece japonesa. “A Miss Universo Japão não deveria ter um rosto verdadeiramente japonês?”, questionou um desses críticos.
Mas grande número de japoneses parece ter saído em sua defesa. “Por que uma cidadã japonesa, nascida e criada no Japão, não pode simplesmente ser encarada como japonesa?”, questionava um apoiador de Miyamoto.
Filha de um casamento pouco duradouro entre um marinheiro negro dos Estados Unidos e uma mulher japonesa, Miyamoto cresceu no Japão, onde diz ter sido rejeitada pelas outras crianças por conta da cor de sua pele e de seus cabelos cacheados. Essa experiência a levou a usar sua vitória no concurso de beleza como palanque para conscientizar as pessoas sobre as dificuldades dos cidadãos de etnia mista em um país que ainda se encara como monoétnico.
“Ainda hoje, as pessoas usualmente não me veem como japonesa, mas como estrangeira. Nos restaurantes, recebo o cardápio em inglês e me elogiam porque sei comer com os hashis”, disse Miyamoto, falando em japonês. Ela é uma calígrafa muito competente de caracteres japoneses no alfabeto kanji, derivado do chinês. “Quero desafiar a definição do que é ser japonês.” (Folhapress)
Confira a galeria com fotos da miss: