Quarta-feira, 31 de dezembro de 2025
Por Redação O Sul | 15 de julho de 2015
Alvo de mandado de busca e apreensão cumprido pela PF (Polícia Federal), o advogado Tiago Cedraz Leite Oliveira, 32 anos, circulava sem constrangimentos pelo TCU (Tribunal de Contas da União) até a semana passada, ao lado de um de seus clientes, o deputado Paulinho da Força (SD-SP). Oliveira é filho do presidente do TCU, o ministro Aroldo Cedraz, e teve ascensão meteórica – acumulou clientes, sócios, patrimônio, negócios e prestígio político – desde a chegada do pai ao cargo de ministro, em 2007. Uma fatia importante das causas de seu escritório, o Cedraz Advogados, está atrelada à pauta de processos do TCU.
Policiais federais vasculharam, na terça-feira, a casa e a sede do escritório de Oliveira. O jovem foi citado na delação premiada do dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa, como beneficiário de recursos em troca de informações privilegiadas do TCU. Em 2013, o advogado comprou por 2,95 milhões de reais um apartamento de 247 metros quadrados na Asa Sul, bairro nobre de Brasília. O imóvel tem varanda, sala de jantar, escritório, três quartos com varandas, um quarto com vestiário e banheiro privativo, quarto com banheiro para empregada, cozinha e área de serviço. O advogado financiou 2,28 milhões de reais em 61 meses – uma prestação de 37,5 mil reais por mês, sem levar em conta os juros de 8,2% ao ano.
Antes, em 2009, Oliveira comprou um lote de 1,3 mil metros quadrados no Lago Sul – também área nobre da capital federal – por 750 mil reais, 1,07 milhão de reais em valores atualizados. No lote, ele construiu uma casa de 1,5 mil metros quadrados, avaliada pelo setor imobiliário em pelo menos 3 milhões de reais, que é a sede do Cedraz Advogados.
Nascido na Alemanha, durante um doutorado do pai em Medicina Veterinária, Oliveira é advogado desde 2006, quando passou no exame da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil). Ele sempre circulou sem constrangimentos pelo tribunal presidido pelo pai. Em fevereiro, por exemplo, esteve na posse de Vital do Rêgo, o último a assumir a função de ministro do TCU. Há um mês e meio, foi acusado pelo delator Ricardo Pessoa de receber 50 mil reais mensais para vender informação do tribunal, além de 1 milhão de reais para influenciar em favor da UTC em processo sobre a usina nuclear Angra 3, em Angra dos Reis (RJ). Mesmo com o burburinho da suspeita entre os integrantes do TCU, o filho do presidente não se inibiu.
Périplo na corte com Paulinho.
Na última semana, ele bateu na porta de Rêgo, relator de um processo que investiga Paulinho da Força, acompanhado do parlamentar. O ministro não estava no gabinete. Sócios de Oliveira atuam nos autos. Auditores investigam desde 2010 uma suspeita de dano ao Erário em contrato da Força Sindical com uma fundação. Paulinho e Oliveira são próximos. O deputado preside o Solidariedade, e o advogado também integra a executiva nacional do partido, como secretário de Assuntos Jurídicos.
O advogado tem sócios de seu escritório – montado em 2007, mesmo ano da posse do pai como ministro – na linha de frente dos processos no TCU, enquanto se ocupa de autos de clientes no TRF (Tribunal Regional Federal) da 1ª Região, no STJ (Superior Tribunal de Justiça) e no STF (Supremo Tribunal Federal). Clientes com demanda no TCU surgiram basicamente depois da chegada de Aroldo Cedraz (ex-deputado federal pelo PFL, hoje DEM) ao TCU, muitos interessados na desenvoltura do advogado no tribunal.
Um único sócio, Thiago Groszewicz Brito, atua ou atuou em 61 processos do TCU. Outra sócia, Valeria Bittar Elbel, defende clientes em 24 autos no tribunal. Ela saiu da sociedade no mês passado. Há casos em que os sócios atuam para empresas interessadas em denunciar irregularidades em concorrências públicas, com o objetivo de anular vitórias de empreendimentos concorrentes. (AG)