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Por Redação O Sul | 27 de julho de 2018
Um mês após deixar a prisão por decisão da 2ª Turma do STF (Supremo Tribunal Federal), o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu se reuniu com políticos no Sul da Bahia nos últimos dias. Ao conversar com lideranças políticas locais, Dirceu defendeu o nome do ex-governador baiano Jaques Wagner para disputar a Presidência da República no lugar de Luiz Inácio Lula da Silva, caso o petista tenha seu registro de candidatura negado pela Justiça Eleitoral por ter sido condenado em segunda instância.
Condenado em duas instâncias da Operação Lava-Jato a 30 anos e nove meses de prisão, acusado de receber propina de empresas contratadas pela Petrobras por meio de sua consultoria, Dirceu passou cerca de 40 dias preso na Papuda antes de receber um habeas corpus do Supremo no dia 27 de junho.
Em férias na região de Ilhéus desde o último dia 17, Dirceu se hospedou na casa do empresário Nilton Cruz, dono da Amazon Bahia, uma das maiores compradoras de cacau da região. O estado é considerado reduto eleitoral petista. A expectativa do partido é reeleger o governador Rui Costa. Wagner é pré-candidato ao Senado, mas a sigla também apóia a candidatura ao cargo de Angelo Coronel, do PSD. A convenção estadual do PT na Bahia está marcada para o dia 4 de agosto, mesmo dia da convenção nacional do PT, que lançará a candidatura de Lula.
O ex-ministro chegou a dar entrevista à imprensa local. Em Itororó, o site “cidadeacontece” registrou encontro de Dirceu com o deputado estadual Rosemberg Pinto, líder do PT na Assembleia Legislativa do estado e coordenador da campanha que elegeu Jaques Wagner pela primeira vez, em 2010.
“Rosemberg me deu a alegria de me visitar na casa dos amigos em que eu estava em Ilhéus. Comemos muita carne de sol e o Rosemberg ainda fez um peixe maravilhoso pra nós. Conversamos muito sobre a Bahia, temos que reeleger Rui (PT) e eleger Wagner senador, se ele não receber outra missão…”, disse Dirceu.
Já em conversas com aliados baianos, Dirceu defendeu que Wagner pode ser indicado pelo PT para assumir a candidatura à Presidência caso Lula seja impedido de concorrer, segundo relatos feitos ao jornal O Globo. O argumento do ex-governador baiano para não aceitar a missão, porém, é forte: a possibilidade de conquistar uma vaga no Senado é alta e, com ela, Wagner conquistaria a imunidade parlamentar, tornando mais difícil uma investida dos investigadores da força-tarefa da Lava-Jato.
A Lei da Ficha Limpa proíbe que candidatos condenados por órgãos colegiados disputem a eleição. Preso desde abril em Curitiba, Lula foi condenado, em segunda instância, a 12 anos e um mês de prisão, acusado de receber o tríplex do Guarujá da OAS em troca de beneficiar a empresa com contratos com a Petrobras.
Nos encontros com políticos locais, Dirceu falou também sobre a importância das alianças do PT para eleger governadores no Nordeste. O ex-ministro afirmou ao site que o “governador (de Alagoas) Renan Filho é do PMDB, mas é Lula e já rompeu com governo Temer”. O petista também se reuniu com políticos e militantes no município de Caetité.
Influente
Cruz, que hospedou Dirceu em sua fazenda no município de Itacaré, é próximo a Geraldo Simões, fundador do PT e duas vezes prefeito de Itabuna, considerado político influente na região de Ilhéus — foi duas vezes prefeito de Itabuna, deputado estadual e federal pelo estado. Nas duas últimas eleições, porém, Simões não conseguiu se eleger. Perdeu a disputa por uma vaga na Câmara Federal em 2014 e a Prefeitura de Itabuna em 2016.
Em 16 de maio, após a confirmação da condenação na Lava-Jato pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), Dirceu iniciou a execução provisória da pena na Penitenciária da Papuda, por determinação do juiz Sergio Moro. A prisão durou pouco: a Segunda Turma do STF determinou em 26 de junho que ele fique em liberdade até que seja julgado seu recurso no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
O principal argumento do ministro Dias Toffoli para liberar o petista foi que a definição da pena não levou em conta que ele tem mais de 70 anos e que alguns crimes relatados na denúncia poderiam prescrever. Então, segundo Toffoli, havia o risco de que o ex-ministro ficasse preso mais tempo do que o estipulado após a revisão do cálculo da pena.
Depois da visita à região de Ilheus, Dirceu foi com a família para a festa de Bom Jesus da Lapa, de onde retornaria para Brasília, onde mora.
Advogado do ex-ministro, Roberto Podval disse que não há qualquer restrição legal para a viagem de Dirceu e afirmou que não comenta as atividades particulares dele.